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Sozinha e de bicicleta: uma viagem pelo desconhecido Caminho da Fé, no Brasil

Inspirado pelo Caminho de Santiago, circuito é percorrido por peregrinos na Serra da Mantiqueira

Por Ludmila Vilar (colunista)
Atualizado em 11 abr 2024, 18h45 - Publicado em 11 set 2015, 11h59

Uma mulher, uma bicicleta, onze quilos de bagagem e cerca de 300 km de estrada pela frente: essa foi a mais recente aventura da jornalista Adriana Marmo sobre as duas rodas que a levam para todos os lugares há mais de três anos. Moradora de São Paulo, Adriana faz parte do grupo crescente de pessoas que deixou o carro e usa a bike como transporte – e não só para lazer.

A mudança foi planejada. “Fiz curso no CET (Companhia de Engenharia e Tráfego) e tive um bike anjo (monitores que, entre outras coisas, supervisionam ciclistas iniciantes nas ruas das cidades) que me ajudou a fazer trajetos que jamais imaginei”, diz. Hoje, ela pedala a cidade in-tei-ra, planeja percorrer o Irã (!) e acaba de fazer o Caminho da Fé. Provavelmente como você, eu também não sabia que isso existia no Brasil.

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Somadas as distâncias de seus cinco ramais, o Caminho da Fé tem pouco mais de 800 quilômetros. O trajeto passa por 32 cidades, entre os estados de São Paulo e Minas Gerais, que levam à Basílica de Nossa Senhora Aparecida, considerada um santuário pelos católicos. Oficializado em 2003, a maior parte do Caminho é feito pelas estradinhas de terra que cortam a estonteante Serra da Mantiqueira. Os três mil peregrinos que costumam percorrê-lo anualmente fazem isso a pé ou de bicicleta.

Arquivo pessoal
Arquivo pessoal ()

A ideia de mapear a região com um circuito guiado pela fé surgiu de Almiro Grings, hoje um senhor de 75 anos. “O mais fascinante dessa história é que Almiro, ao lado de Clovis Tavares Lima, o atual presidente da Associação dos Amigos do Caminho da Fé e responsável por fincar cada uma das mais de 300 placas que marcam o trajeto, conseguiram convencer fazendeiros a abrir suas propriedades para a passagem de peregrinos”, escreveu Adriana em seu site Vento na Saia, onde relatou toda a viagem.

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Ela foi a décima sétima mulher a fazer o percurso sozinha, segundo apurou com Clovis. A primeira pergunta que fiz sobre a viagem (básico!) foi sobre segurança. “Não tive nenhum problema nem me senti insegura em momento algum”. Pelo contrário, a jornalista voltou se sentindo completamente acolhida pela gentileza dos povoados desse Brasil rural, que tantas vezes a gente esquece que existe – e que, tenho pra mim, é a grande responsável pela fama de acolhedor de todos nós como povo.

Arquivo pessoal
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 “O melhor de tudo não é nem pedalar, é conhecer as pessoas, principalmente as mulheres, que são carinhosas e grandes trabalhadoras”. Nos nove dias entre a ida e a volta, ela conheceu e se sentiu cuidada por várias delas. Teve a Dona Zezé, que aceitou na boa passar o cartão de débito em troca de dinheiro vivo – e ainda assim não queria cobrar taxa cobrada da operadora.

Teve a Dona Natalina, que esquentou a roupa para que sua hóspede não sentisse tanto frio na madrugada da serra. A Dona Inês que preparou uma comida no forno à lenha no timing exato do banho de Adriana. E a Dona Maria que, num grande gesto de carinho, costurou as luvas rasgadas da ciclista e rezou com ela momentos antes de Adriana sair para espalhar as cinzas da sua mãe, carregadas entre os onze quilos de bagagem.

Arquivo pessoal
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O Caminho da Fé passa na frente das igrejas matriz de todas as cidades de seu circuito – e de uma porção de pequenas e lindas capelas que falam tanto da fé brasileira. Mas além disso, essa é uma jornada que trata também de outras coisas como o poder do turismo quando bem planejado (por exemplo, os moradores acolhem os peregrinos em suas próprias casas, que foram transformadas em pousadas oficiais), da rede de solidariedade que pode se formar entre as pessoas e da liberdade que a bicicleta sempre simbolizou para as mulheres.

Quem quiser saber mais sobre o impacto da magrela sobre a nossa vida deve ler Wheels of Change – How Women Rode the Bicycle to Freedom (With a Few Flat Tires Along the Way) (na tradução para o português: Rodas da Mudança – Como as mulheres andaram de bicicleta para a liberdade (com alguns pneus furados ao longo do caminho)), da escritora Sue Macy.

Para se ter ideia, Sue considera que as conquistas femininas do século 20 foram diretamente impactadas pela invenção da bike no fim do século 19:  “Isso permitiu, por exemplo, que as mulheres saíssem de casa e socializassem com outros homens, além dos de sua família, e que adotassem trajes mais confortáveis do que os pesados vestidos com corsets.”

Segundo a autora, a bicicleta também foi responsável pela primeira participação maciça das mulheres em atividades físicas e por despertar em nós um espírito aventureiro que nos conduziria (e que ainda conduz!) corajosamente até o século 20.

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