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Senhora vai à escola pela primeira vez aos 72 anos com apoio da neta

Mesmo com dores das enfermidades que enfrenta, Severina está disposta a aprender a ler e escrever, tornando-se um grande exemplo de vida para sua neta.

Por Alice Arnoldi
Atualizado em 16 jan 2020, 00h35 - Publicado em 12 fev 2019, 10h31
 (Arquivo pessoal/Reprodução)
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“Não tenho muita saúde, mas tenho um pouquinho mais de tempo”. Foram esses dias um pouco mais livres que fizeram com que Severina Rodrigues da Silva decidisse enfrentar o desafio de ir à escola, pela primeira vez, aos 72 anos.

Essa história emocionou a internet ao ser publicada pelo “Quebrando o Tabu”, que ouviu o depoimento emocionante da neta de Severina, Beatriz Rocha (21). Para saber um pouco mais sobre elas, tivemos uma conversa especial com as duas.

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“Essa é a Severina, mais conhecida como Dona Nena, minha avó. Ela tem 72 anos e só entrou na escola até ontem para me levar. Hoje eu a levei no seu primeiro dia de aula. Ela nasceu no Pernambuco, numa cidade pequena, bem roça mesmo, e nunca pôde estudar pois na época seu pai dizia que “mulher só estudava pra escrever carta pra macho”. Hoje ela está realizando um sonho muito antigo: aprender o básico. Eu não poderia estar mais emocionada, orgulhosa e com o coração cheio de amor… Boa sorte, vó! No que depender de mim, em breve a senhora será uma universitária.” Parabéns, Dona Nena!! Que baita quebra de tabu ❤️ via @bearchslv

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Severina não teve uma vida fácil. Natural de Lajedo, cidade do interior de Pernambuco, nasceu numa família de 18 filhos, mas com apenas oito sobreviventes no decorrer dos anos. Mais do que isso, na infância ela tomou para si as tarefas domésticas para que as irmãs caçulas pudessem estudar. Paralelamente, também trabalhava na roça.

E não foi nessa única fase que Severina colocou quem amava em primeiro lugar. Com um ano de namoro, mais um de noivado e 50 de casamento, Severina passou a maior parte da vida ao lado do marido Cícero Severino da Silva. Diferentemente dos exemplos da infância, engravidou apenas uma vez. Esse filho desenvolveu problemas auditivos na infância, o que exigiu dela ainda mais dedicação.

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Com uma vida cercada de contratempos, a chegada da terceira idade também não foi sinônimo de sossego, como é para muitos. Cícero adoeceu e, em setembro de 2018, veio a falecer. Severina ficou devastada. “Ele significou tudo. Meu marido, meu amigo, meu amante, foi como pai, pois até me registrou. Não tinha nem registro de nascimento quando conheci ele. Ele foi tudo na minha vida”, explicou Severina com a voz embargada.

Severina e Cícero
Cícero e Severina foram casados por 50 anos (Arquivo pessoal/Reprodução)

A partida de Cícero fez com que a esposa refletisse sobre como a zona de conforto era um lugar seguro e imutável para ela. Concluindo que era o momento de questionar a necessidade que a rondava de aprender a viver sozinha novamente.

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Como ele fazia tudo para mim, eu me acomodei um pouco. Agora que ele foi embora, eu tenho que me virar, que aprender a me virar”, pontuou ela sem pestanejar.

O maior apoio de Severina veio da sua neta única, Beatriz. Foi ela quem foi até a escola e matriculou a avó, na primeira série do Ensino Fundamental I, em São Paulo. Desde então, a jovem não consegue conter a emoção quando vê a mulher que a criou aprendendo a ler e escrever, mesmo com 72 anos.

Eu chorei quando eu fiz a matrícula dela. Eu chorei no primeiro dia de aula. E, às vezes, eu estou passando lição para ela em casa e começo a chorar também. Aqui em casa a gente sempre deu muito valor para o estudo, a gente sempre soube que era importante. Era o sonho dela”, descreveu Beatriz. 

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Mesmo que o tempo tenha trazido o reumatismo e um derrame na vista, que a prejudicou muito, o desejo de aprender a ler e escrever continuou pulsando no coração da avó. Para tornar isso realidade, a lupa se tornou a melhor amiga de Severina, enquanto que ela, um grande exemplo de persistência.

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Beatriz (à esquerda) ao lado dos pais e dos avós (Arquivo pessoal/Reprodução)

Essa determinação chegou até Beatriz que, hoje, é estudante de Direito. Mesmo sem experiência dentro da sala de aula, Cícero e Severina incentivaram a neta a buscar pela educação acadêmica.

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Eu estudei a vida toda em escola pública, só que eles queriam tanto que eu fosse para faculdade, que isso despertou em mim o interesse de estudar em casa para passar no ENEM e conseguir uma bolsa pelo ProUni, porque a gente não ia ter dinheiro para pagar uma faculdade para mim. Eu fiquei um ano em casa estudando 16 horas por dia, para conseguir a bolsa. Quando passei na faculdade, foi o maior orgulho do meu avô”, afirmou Beatriz empolgada. Cícero só frequentou a escola até a quarta série do Ensino Fundamental I.

Severina tem certeza que, da mesma forma que o marido incentivou a educação da neta, ele também a apoiaria. Inclusive, no seu desejo de um dia chegar até a universidade para cursar administração.

Diferentemente do que um dia o pai de Severina tinha certeza – de que mulher era feita apenas para casar, ter filhos e ser dona de casa – ela está ocupada demais estudando. Inclusive atarefada demais para se dar ao trabalho de mandar carta aos namorados – como seu pai achava que era o objetivo de aprender a escrever.

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