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Saiba por que você deve deixar seu filho se sujar

Entenda por que a preocupação excessiva com a limpeza não só desestimula a curiosidade das crianças - tão natural e saudável nesses primeiros anos de vida - como as torna mais suscetíveis a alergias.

Por Lila de Oliveira (colaboradora)
Atualizado em 22 out 2016, 22h52 - Publicado em 5 Maio 2015, 05h00

Enquanto seu filho engatinha na direção do cachorrinho de estimação, você lhe oferece uma bolacha. Então, ele joga a chupeta no chão e faz carinho no animal antes de devorar a guloseima e levar novamente a chupeta à boca. Para muitas mães, a cena pode parecer um verdadeiro filme de terror, mas a verdade é que essa sequência de atitudes não deve ser motivo para pânico.

É claro que as crianças devem ser ensinadas a lavar as mãos depois de brincar com pets e antes de se alimentar, e que tudo que elas colocam na boca precisa ser devidamente higienizado, mas não se deve levar essas recomendações às últimas consequências. “A mãe que não deixa o filho encostar em nada vai prejudicar não só as defesas da criança como o seu próprio desenvolvimento”, afirma Darci Boneto, pediatra do Hospital Pequeno Príncipe, de Curitiba. O organismo já nasce preparado para o contato com o mundo, e, embora alguns cuidados sejam de fato necessários, a exposição aos estímulos do ambiente é fundamental para a formação do sistema imunológico da criança. “É como o sistema neurológico, que tem de ser estimulado para que a gente aprenda a ler e a escrever, por exemplo. Nosso sistema de defesa também precisa ser treinado”, compara Jorge Andrade Pinto, professor de pediatria e imunologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Bactérias do bem

Por mais que os pais insistam na obsessão pela limpeza, há muito tempo já se sabe que criar os filhos em ambientes muito assépticos não é nada bom. Estudos realizados na Alemanha após a queda do Muro de Berlim – ocorrida em 1989 – já sugeriam uma maior tendência ao desenvolvimento de alergias em locais mais limpos. “No lado oriental da cidade, as crianças eram mais empobrecidas e tinham bem menos alergias que as do lado ocidental, mais rico”, destaca Ana Paula Moschione Castro, diretora da Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia (Asbai) e médica da Unidade de Alergia e Imunologia do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo.

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A profissional explica que as pessoas que crescem em locais com excesso de higiene têm sua flora bacteriana alterada, enquanto a presença de estímulos bacterianos controlados, obtidos pelo contato com outras pessoas e com o meio ambiente, vai fazendo com que o sistema de defesa do indivíduo reconheça esses agentes externos e elabore respostas adequadas a eles. “Isso torna a criança mais protegida e, consequentemente, menos sujeita ao desenvolvimento de alergias”, atesta. Não à toa, o número de crianças alérgicas é de 30% a 50% menor em zonas rurais. “Nesses ambientes, há uma carga bacteriana maior na poeira doméstica”, justifica Jorge.

Vale destacar que a crescente preocupação com a limpeza – especialmente nos últimos 20 anos – veio acompanhada de um expressivo aumento dos casos de crianças diagnosticadas com doenças alérgicas. Cerca de 7% da população mundial pediátrica apresenta alergias alimentares, de 10% a 15% têm dermatite atópica, 15% sofrem de asma e até 40% têm rinite alérgica. É bom lembrar que carregamos conosco, desde a passagem pelo canal do parto, uma enorme quantidade de material genético estranho ao nosso organismo. “O corpo humano é colonizado por cerca de 10 bilhões de bactérias não patogênicas, ou seja, que não causam problemas a crianças em condições normais. E são elas que incitam o desenvolvimento de respostas imunes favoráveis”, afirma Jorge.

O especialista conta, ainda, que alguns fatores podem aumentar o contato do indivíduo com essas bactérias do bem. “Se seu bebê nasceu de parto normal, foi alimentado no seio e não recebeu antibióticos nos primeiros meses de vida, ele com certeza será habitado por uma população demicroorganismos mais favorável”, diz. Por esse motivo, partos prematuros, cesáreas e pouco contato com o leite materno aumentam o risco de uma série de problemas na infância e na vida adulta, como alergias, obesidade e doenças autoimunes e reumatológicas. “Uma criança que tem exposição muito precoce a antibióticos, por exemplo, terá o desenvolvimento do seu trato respiratório prejudicado, o que pode desencadear processos causadores da asma”, detalha o médico, que ressalta que uma infecção respiratória na infância em muitos casos demanda um tratamento mais simples.

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Escola: problema ou solução?

Você seguiu todas as recomendações do pediatra para garantir a proteção do seu filho no comecinho da vida dele. Mas é chegada a hora de voltar ao trabalho e surge, então, aquela dúvida: será que esse é o momento de colocá-lo no berçário? É claro que essa decisão envolve um monte de questões, mas uma coisa é certa: no primeiro ano da vida escolar da criança, a tendência é que ela tenha pelo menos oito episódios infecciosos – de resfriados a diarreias. A escola é um ambiente de confinamento, com alta concentração de vírus e bactérias, e aí está o problema. O pediatra Darci Boneto informa, no entanto, que uma gripezinha de dois ou três dias não é motivo para alarde. “A criança saiu de um meio em que estava mais resguardada para entrar em contato com novas fontes de contaminação”, diz. Mas, se por um lado as infecções virais causam um transtorno daqueles nos pequenos, por outro, elas são ótimos estímulos para o sistema imune – “desde que não sejam tratadas com antibióticos prescritos sem necessidade, o que poderia prejudicar as defesas da criança”, reforça Jorge.

Pode ou não pode?

Durante a fase oral – do nascimento aos 18 meses – é natural que a criança queira colocar tudo na boca. Cabe então ao adulto manter o que está ao alcance do filho minimamente limpo, além de ficar de olho, sobretudo para evitar que objetos muito pequenos sejam engolidos. “A criança não tem noção de higiene e quer pegar tudo. Mexe em bichos, objetos variados e até em água suja! Por isso, precisa aprender desde muito cedo a lavar as mãos, especialmente depois de ir ao banheiro e antes de comer”, afirma Darci, que destaca a importância desse instinto de experimentação para o desenvolvimento visual, motor, tátil e sensitivo dos pequenos. A seguir, confira as respostas dos especialistas para algumas das dúvidas que costumam surgir a partir dessa fase.

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Até que idade devemos ferver e esterilizar os objetos dos bebês?

Nos primeiros três meses de vida, é sempre bom ferver e esterilizar os objetos que o bebê irá colocar na boca. Depois disso, não há necessidade. Água e sabão bastam.

É importante lavar as mãos antes de carregar o bebê?

Sim, especialmente quando você veio da rua. Mas depois dos 12 primeiros meses o sistema imune da criança já estará bem mais preparado para esse contato.

O que fazer quando a chupeta cai no chão?

Lavar com água e sabão é suficiente, e os pais não devem “limpar” a chupeta com a boca, para não contaminar a criança com eventuais gripes, resfriados, cáries, gengivites, estomatites etc. Fora que a criança não vai entender por que os pais podem e ela não. Ela aprende pelo exemplo.

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É importante deixar o bebê brincar no chão?

Que cuidados devo ter? Sim. Brincar livremente é ótimo para o desenvolvimento, sob os mais diversos aspectos. Lave com água e sabão os objetos que seu filho poderá manipular e divirta-se com ele!

Meu filho pode brincar descalço na terra mesmo quando estiver com algum machucado?

Lesões abertas demandam curativos. Além disso, é importante checar se o lugar da brincadeira é adequado, se não há nenhum depósito de lixo próximo e se animais não costumam deixar excrementos no local.

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