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Regina Navarro Lins: novo livro aborda as diversas formas de amar

Em sua nova obra, a psicanalista discorre sobre as múltiplas faces da vida afetiva contemporânea. E diz a CLAUDIA como o casamento está mudando

Por Liliane Prata Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 1 jan 2018, 09h00 - Publicado em 1 jan 2018, 09h00
 (Caiuá Franco/CLAUDIA)
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“Eu não sou contra mandar flores, gente, não é isso”, avisa Regina Navarro Lins, 69 anos, à plateia, em São Paulo, durante palestra sobre seu Novas Formas de Amar – Nada Vai Ser Como Antes: Grandes Transformações nos Relacionamentos Amorosos (Planeta, 44,90 reais). “Que quem gosta dessas coisas continue gostando. Só não podemos mais fechar os olhos para o sofrimento que vem da idealização no romantismo e para os modos de se relacionar que vão surgindo.”

Para a psicanalista carioca – acostumada a polemizar em sua coluna, no site UOL –, que dá consultoria ao programa Amor e Sexo, da Globo, e mantém um consultório no Rio, as alternativas modernas não se limitam à variedade de parceiros. “Também há as que chamo de amores fora da curva, que são as relações duradouras, mas vividas em novos padrões.” E existe cada vez mais espaço para uniões nada ortodoxas. Quando pergunta se alguém ali viveu a experiência do poliamor, uma mulher pega o microfone e apresenta o marido e a namorada – dela.

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CLAUDIA: Por que o amor romântico está em crise?

Regina Navarro: O amor é uma construção social; cada cultura o vive de uma forma. O do tipo romântico tem como características básicas ser calcado na idealização, atribuir ao outro características que ele não possui e acabar se ressentindo quando o parceiro mostra ser quem é. Ele prega que dois vão se transformar em um só – como se pudéssemos ter todas as nossas necessidades atendidas por alguém – e que quem ama não tem desejo por mais ninguém. O que critico são esses ideais. A monogamia vem sendo questionada por muitos casais. Hoje ocorre uma busca pela individualidade. Cada um quer descobrir suas possibilidades na vida. Isso bate de frente com o amor romântico, que vai saindo de cena, dando espaço a novas formas de amar, como as relações abertas.

Os sentimentos estão mais descartáveis ou, pelo contrário, ama-se melhor?

As pessoas estão amando. Não dá para garantir que melhor, mas provavelmente sim. Experimentar uma relação poliamorosa ou outra fora do convencional não significa amar menos. Essa ideia vem dos conservadores, que não admitem mudanças. Apesar de toda a insatisfação em casa, agarram-se aos valores tradicionais do casamento porque o desconhecido gera insegurança. O medo do novo é a única forma que conhecem; estão acostumados a agir assim. Para viver bem, tem de ter coragem. É fundamental questionar as crenças e os valores aprendidos. Só assim podemos nos livrar do moralismo e dos preconceitos.

Como o questionamento dos papéis de gênero está mudando as uniões tradicionais?

Há 5 mil anos, existem um ideal masculino, de força, sucesso e poder, e um feminino, que seria o contrário. A mulher precisa ser bobinha, incompetente e submissa. É evidente que caminhamos para o fim do gênero. Brinquedo de menina e brinquedo de menino estão deixando de existir, o que muda as relações afetivas, porque todos vão ficando mais livres para ser quem são. Quando a pessoa é obrigada a corresponder ao que se espera do feminino ou do masculino, ela vai se mutilando. A diminuição dessas fronteiras reflete até na cama. Na cultura machista, o homem está mais preocupado em provar a masculinidade do que em dar ou obter prazer. Vai para a frente, para trás, ejacula e acha que foi ótimo. Já ela recebeu educação para dar prazer. Muitas fingem orgasmo. O desencontro é total.

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No livro, você conta que, de cinco anos para cá, passou a receber casais em que só um quer abrir a relação.

Considero esse o maior desafio conjugal. Especialistas adoram dizer que os maridos traem por causa disso e as esposas por causa daquilo, mas a maioria das pessoas que têm relações extraconjugais o faz por um único motivo: variar é bom. À medida que uma sociedade fica menos preconceituosa, mais gente passa a ter coragem de ousar, de tentar coisas novas. Antes o homem traía e a mulher aceitava, dizendo que isso era coisa de homem. Agora, muitas traem e não contam nem para a melhor amiga. Tenho ouvido muitos maridos afirmarem: “Olha, amo minha mulher e quero ficar com ela a vida toda, mas não me imagino nos próximos 40 anos fazendo sexo só com ela”. Ainda é difícil discutir a monogamia. Até as pesquisas acadêmicas ficam contaminadas pelo velho ideal. Acho totalmente possível amar alguém e eventualmente ter relações extraconjugais.

Casais monogâmicos podem ser felizes? Na sua opinião, esse modelo tradicional vai continuar existindo?

Acho que sim. Conheço pouquíssimos que se curtem e têm muito tesão um pelo outro. Contudo, não podemos discutir a contemporaneidade afetiva com base em exceções. Noventa por cento dos casados estão vivendo mal. Algumas uniões são do tipo “dá para ir levando”, e a maioria é simplesmente muito ruim. Também acredito que, em alguns casos, quando alguém passa a ficar com outras pessoas, volta a ter tesão pelo parceiro ou parceira, às vezes até mais do que antes. O tesão não acaba por causa desse marido ou daquela mulher, e sim por causa desse modelo de casamento, que prevê uma porção de regras e leis.

Você acha que com o tempo mais pessoas pensarão assim?

Com certeza. Se, nos anos 1950 e 1960, uma pessoa afirmasse que no futuro as moças deixariam de casar virgens, todos achariam isso uma loucura. E se falassem que o divórcio seria algo comum? Muitas escolas não aceitavam filhos de pais separados. O ultraje de ontem é a normalidade de hoje.

Você tem escrito sobre o divórcio grisalho…

Sim. Antigamente, pessoas de 50, 60 anos não se separavam. Com os remédios para ereção e a reposição hormonal, homens e mulheres estão mais ativos. E se separam. Procuram cursos, coisas para fazer, querem aproveitar a vida, o sexo. O mundo mudou.

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