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Quando o amigo é racista, a amizade e o respeito acabam

O empresário Rodrigo Branco fez comentários racistas sobre Maju Coutinho e Thelma Assis na live da então amiga, a DJ Ju de Paulla

Por Ana Carolina Pinheiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 25 nov 2022, 15h44 - Publicado em 31 mar 2020, 22h12

O peso do racismo é tão forte, que, mesmo quando somos vítimas, sentimos culpa e medo de sermos responsabilizados por ele existir. A influenciadora e DJ Ju de Paulla sentiu na pele essa pressão psicológica na tarde desta segunda-feira (30) durante uma live em seu Instagram. “A maioria me apoiou, mas bateu uma preocupação, já que sou sempre tão cheia de argumentos e não consegui ter naquela hora”, disse a influenciadora sobre a fala racista que seu, até então, amigo, o publicitário Rodrigo Branco, fez na sua transmissão ao vivo. ”O racismo também é isso, ele pega a gente desprevenido e nos deixa sem palavras”, comenta Ju.

A ideia inicial de conversar despretensiosamente sobre o reality show Big Brother Brasil virou um crime. Enquanto Ju expressava sua torcida pela médica Thelma, que é negra, Rodrigo entrou na live e questionou: “Não, a Thelma nem pensar. Posso falar uma coisa? Você gostar da Thelma é racismo”, alucinou o publicitário na live. “É o seguinte, todo mundo tá votando nela, porque ela é negra coitada. […] Quer ver, por exemplo, a Maju Coutinho é péssima, horrível, fala tudo errado e só tá lá pela cor. A carreira dela foi ela ser xingada”, disse o agressor em uma sequência, que nem vale ser completada aqui.

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precisamos falar da postura de @brancorodrigo. não costumamos mencionar alguém diretamente nesta página para preservar a identidade das pessoas, não apoiar uma cultura do cancelamento na internet e sobretudo, cuidar dos nossos, mas o que @judepaulla, @thelminha_assis e @majucoutinhoreal sofreram durante a LIVE que aconteceu ontem no perfil de @judepaulla precisa ser evidenciado. Ela foi surpreendida com as falas de Rodrigo, que sem o menor pudor, destilou seu racismo. Aliás, essa é a primeira coisa que precisa dita: a fala de Rodrigo não configura opinião, ponto de vista, liberdade de expressão ou quaisquer outras colocações dos passadores de pano. Configura RACISMO, que é um crime cruel e inafiançável, inclusive respaldado dentro das normas da lei. Dito isso, gostaríamos de deixar um abraço as meninas que sofreram essa violência direta e nominalmente deste rapaz. Ao longo da live @judepaulla ficou tão incrédula, que ainda tentou explicar para o colega a problemática profunda presente em sua fala, e infelizmente, o mesmo desdenha das meninas e justifica a cor única e simplesmente pelos espaços que elas ocupam. este post não tem intenção de provar que ele errou: isso é fato, ponto. o principal objetivo aqui, é ratificar a importância de estarmos alertas e reflexivos. @brancorodrigo tem quase 1M de seguidores em suas redes, é diretor de televisão e já esteve em grandes emissoras, ou seja, é ingenuidade pensar que essa lógica de um pensamento estrutural racista que coloca o negro na posição que ele as colocou, não está presente na massa da população e no conteúdo que consumimos. é fundamental analisar tudo com um viés crítico e racial, não aceitando violências que de tão naturalizadas, aprendemos a conviver com elas. texto: @ocaraquesente #influencianegra #racismoestrutural #rodrigobrancoracista

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A influencer, um tanto perdida com a situação, falou que não acreditava no que o amigo estava dizendo. “Se pudesse voltar naquele momento, seria mais incisiva e direta com ele. Mas depois que acabou nós fomos conversar e consegui questionar ele”, explicou Ju a Rodrigo, que insistia em dizer que era a opinião dele. “Ele tem o direito de não gostar da Maju, como jornalista, e da Thelma, como participante, mas relacionar isso com a cor delas é ser racista, sim”.

Antes de excluir sua conta no Instagram, Rodrigo chegou a fazer um vídeo pedindo desculpas e dizendo que é uma pessoa aberta a mudanças. Além disso, ele agradeceu aos amigos que foram o alertar do erro. “Como pessoa privilegiada, branca e rica, ele tem acesso a todo tipo de informação. Então, você escolhe ser a pessoa que ele foi ou ouvir quem realmente tem algo para agregar sobre isso”, alertou a influencer.

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Do comentário velado, disfarçado de piada, à atitude racista escancarada, o racismo machuca e revolta de todo jeito. Mas, quando você escuta de alguém por quem cultiva um respeito e afeto, a recepção é ainda mais danosa. “Pra mim, foi muito violento vir de uma pessoa que tenho carinho e é do círculo de amizade, até por isso acho que me faltou palavra no momento”, explicou.

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Sobre o questionamento de Thelma e Maju alcançarem lugares de ascensão por causa da etnia e não por mérito, Jude lamenta que “não era uma opinião dele apenas em relação a elas, mas ele pensa isso das pessoas pretas no geral, e isso me inclui. Ele acha que sou uma pobre coitada, que provavelmente só está aqui por alguém teve pena”, considera.

Associar pessoas negras a narrativas de “vitimismo” e deslegitimar suas conquistar são apostas recorrentes de racistas, dos distantes aos que estão do nosso lado. E o silêncio como resposta para eles é dar passe livre e ser cúmplice para que o racismo se fortaleça ainda mais. “Não tenho vontade e nem espaço de manter amizade com alguém que não tem vontade de enxergar que está errado, que foi machista, racista ou homofóbico. Não tem relação mais”.

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Seja antirracista

“Ei, branco! Você é mesmo antirracista? O seu silêncio é racismo”. Esse recado apareceu na timeline de muitos usuários do Instagram na noite desta terça-feira (31). A onda de compartilhamento do post, que foi liderada pelo Coletivo Potências Negras, foi uma das repostas para o crime cometido pelo empresário Rodrigo Branco. Na publicação, a famosa frase da filósofa e ativista do movimento negro Angela Davis incita uma reflexão para as pessoas não-negras em relação aos diários casos racistas, endossando a ideia de que não basta observar o crime motivado pela distinção racial. Mais do que isso, precisamos de aliados para combatê-los.

Além de Davis, o conceito de ” crime perfeito”, segundo o antropólogo Kabengele Munanga, também aparece na publicação e levanta a questão da responsabilidade, jogada de forma negligente, para a vítima. Ao ouvir de um judeu, vencedor do Nobel da Paz, que o carrasco mata duas vezes para garantir que a pessoa permaneça calada, Kabengele identificou o racismo no Brasil como esse “crime perfeito”, já que o sistema não expõe o opressor e ainda mata consciência do próprio oprimido. Ou seja, pessoas sofrem racismo diariamente, mas ninguém assume que pratica. 

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