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Quando estereótipos sobre mulheres no trabalho se tornam verdadeiros

A colunista de CLAUDIA comenta pesquisa divulgava pelas universidades americanas de Berkeley e Pensilvânia e traz luz sobre a desigualdades de gênero no ambiente de trabalho

Por Cynthia de Almeida
Atualizado em 31 out 2016, 11h31 - Publicado em 10 set 2014, 22h00
Cynthia de Almeida
Cynthia de Almeida (/)
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Mulheres negociam pior do que os homens. Mulheres são mais facilmente enganadas. Mulheres não sabem guardar segredos. Mulheres não ajudam mulheres. Todas as afirmações anteriores são estereótipos. Mas, infelizmente, isso não quer dizer que sejam falsas. Explico: como são assumidos como verdade, estereótipos têm grande possibilidade de se tornarem mesmo verdade. É o poder maligno do preconceito: ele se instaura, se espalha como um vírus, contamina ações e interfere em resultados. Acaba de ser publicado um estudo das universidades americanas de Berkeley e da Pensilvânia que joga uma luz sobre esse ciclo perverso. Pesquisadores conduziram um experimento para descobrir se, de fato, as mulheres se saem pior do que os homens em negociações. O universo eleito foram alunos de MBA, que receberam a missão de fazer uma transação comercial hipotética.

Foi dado aos “negociadores” o arbítrio de mentir ou não para a outra parte, com a finalidade de obter o melhor resultado. Constatou-se que os rapazes faltaram com a verdade em 24% dos casos quando negociavam com mulheres e apenas em 3% das vezes se havia um homem do lado de lá. As próprias mulheres envolvidas no experimento mentiram mais para as mulheres, embora em menor proporção (17% contra 11%).

O bom dessas investigações comportamentais – nas quais os americanos se mostram pródigos – é, mais do que analisar estatísticas, investigar as motivações que levam a elas e refletir. Perguntados sobre a razão de terem mentido mais para as mulheres, participantes alegaram que “elas são mais facilmente enganadas”. E por quê? Aí a coisa só piora: primeiro, por acharem que mulheres são menos preparadas (uma forma sutil de dizer que são mais incompetentes); segundo, por considerá-las mais afetivas e calorosas, o que as colocaria em situação de guarda baixa. A consequência disso tudo é dupla ou triplamente lamentável: por estarem mais expostas a mentiras, as mulheres serão frequentemente induzidas a erros, o que aumenta o risco de concluírem de modo pior uma transação. Bingo: o estereótipo aqui vira verdade.

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O mesmo estudo investigou outros componentes normalmente envolvidos em uma transação, como a troca de informações privilegiadas, e constatou que as mulheres também tiveram menos acesso a elas. A razão alegada: “Não sabem guardar segredos”. Mais um ponto negativo na equação para chegar à boa negociação. Enfim, esse é só um exemplo de como mentiras sobre mulheres viram verdade e de como, principalmente no território ainda predominantemente masculino do mundo dos negócios, essas visões distorcidas nos desfavorecem.

A única solução para reverter a situação é combater sua raiz e lutar contra estereótipos de gênero. Não é fácil, mas vale a pena. A publicidade, tão acusada (com razão) de reforçá-los, já parece ter acordado para o assunto. Um exemplo positivo é uma criativa campanha internacional de uma marca de absorventes que virou sucesso na internet: em um estúdio, pessoas comuns são instruídas a “correr como meninas” (#likeagirl). Os adultos filmados (homens e mulheres) entendem a demanda como correr desajeitadamente e com gestos ridículos. Uma garotinha de uns 10 anos sai em disparada e, depois, diz ter feito o que foi pedido: correu o mais rápido possível. É uma lição da novíssima geração sobre o que é agir “como menina”.

 

 

 

 

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