Qual é o esporte mais indicado para o seu filho?
Fazer atividade física é bom. É comum, no entanto, que os pais fiquem em dúvida na hora de escolher o esporte ideal para cada idade e cada tipo de criança. CLAUDIA FILHOS consultou especialistas para saber.
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O pai olha o menino brincar de luta com os amiguinhos e já imagina um campeão de judô em casa. A mãe vê na delicadeza dos movimentos da filha uma bailarina nata. O que parece ser apenas uma projeção dos desejos dos pais nos filhos é, na verdade, a melhor maneira de saber o esporte ideal para cada criança. Isso porque, enquanto os pequenos ainda não conseguem expressar o que querem, quem acaba fazendo a escolha são os adultos.
De acordo com Soraia Chung Saura, professora do Departamento de Pedagogia do Movimento Humano da USP, o primeiro grande erro está em ignorar o que ela chama de potência manifesta da criança. “O senso comum leva a crer que, se a criança tem medo de água, o melhor é colocá-la na natação desde cedo. Mas essa ideia é completamente equivocada”, diz ela. “Primeiro, porque trabalha contra a sua vontade, que provavelmente é outra, como jogar bola ou dançar. Segundo, porque pode traumatizá-la. O esporte está, sobretudo, relacionado ao prazer.”
O ortopedista pediátrico Wilson Lino Junior, do Hospital Infantil Sabará, em São Paulo, concorda. “Os pais devem observar o que o filho gosta de fazer e como gosta de brincar enquanto ele ainda não tiver idade para discernir”, explica. Depois disso, o ideal é que a própria criança expresse sua vontade. E, mesmo assim, pode ser que em um ano ela mude de ideia. “A infância é a fase de experimentações, de testar, conhecer coisas novas. Então, se o pequeno quer fazer natação e, no ano que vem, pedir para mudar para caratê, em vez de recriminar, os pais devem incentivar. Quanto mais esportes ele conhecer, mais terá como saber do que realmente gosta”, diz o ortopedista.
Embora a Associação Americana de Cardiologia sugira como ideal 60 minutos diários de atividade física intensa, há crianças que podem precisar de mais do que isso para esgotar as energias e outras que se mostram sobrecarregadas com menos. Observar seu filho é, de novo, o melhor método para não errar. “Se a criança reclamar de dores ou demonstrar desânimo para outras atividades de que gostava, pode ser que esteja cansada demais”, diz Wilson. Para ajudar na avaliação, Abelardo Bastos Pinto Jr., presidente do Comitê de Saúde Escolar da Sociedade de Pediatria do Rio de Janeiro, recomenda que os pais estejam sempre em contato com o pediatra. “O acompanhamento e a supervisão garantirão a segurança necessária das indicações de cada esporte e da intensidade da prática”, diz.
Os especialistas alertam, ainda, para outro ponto: “Atividade física é quando o pequeno gasta energia de forma lúdica, brincando, e é o mais recomendado até os 3 anos”, explica Wilson. Já o esporte é direcionado, mas, para crianças com menos de 6 anos, ainda não tem o sentido de competição. “Até essa idade, a criança é muito nova para entender a noção do coletivo”, completa Soraia.
Como toda regra tem exceções, há o caso das modalidades esportivas indicadas para menores de 3 anos, como natação e aulas de ioga para bebês. “Nadar desenvolve a capacidade psicomotora e respiratória. Normalmente, libero os pequenos a partir de 1 ano, com a ressalva de que é essencial assegurar-se das condições de higiene e segurança do local”, diz Abelardo. Já as aulas de ioga trabalham a respiração e o desenvolvimento do equilíbrio de forma lúdica e suave, fazendo com que os bebês imitem as poses e os sons dos animais. “É claro que não se deve exigir dos pequenos concentração e foco para uma meditação. Assim como nos esportes, a aula é adaptada para a idade e trabalha bastante o alongamento, que é muito valioso nessa fase em que se começa a andar”, afirma Wilson.
Como ainda não têm cartilagem formada para sustentar cargas grandes, as crianças podem se machucar se extrapolarem os limites de uma atividade. Mas isso dificilmente acontece em uma aula supervisionada – em geral, por um professor de educação física. Levando isso em conta, é possível afirmar que os riscos são praticamente nulos, enquanto os benefícios, inúmeros. O sedentarismo aumenta a probabilidade de doenças, como as coronarianas, infarto e obesidade, eleva a pressão arterial, predispõe a diabetes e diminui o bom colesterol. “O preocupante é que essas doenças todas estão começando a aparecer em crianças pequenas, antes dos 10 anos. Ou seja, não estamos falando só de um risco para quando elas chegarem à idade adulta”, alerta o ortopedista pediátrico. “E a simples inclusão da atividade física regular na rotina é capaz de inverter todo esse quadro negativo”, completa. Do ponto de vista ortopédico, ajuda na formação dos ossos, músculos e articulações – que, trabalhadas corretamente, ficam fortalecidas, evitando, no futuro, problemas como artrite, osteoporose e má postura.
Outra vantagem comprovada da prática regular de esportes é o fato de ajudar a melhorar o desenvolvimento escolar. Um estudo publicado noArchives of Pediatrics & Adolescent Medicine avaliou 12 mil crianças de 6 a 18 anos e concluiu que o exercício físico contribui para a cognição, aumentando o aporte de sangue e oxigênio ao cérebro, diminuindo o stress, melhorando o humor e a concentração.
Cada personalidade, um esporte
Não param quietas um minuto
Esse perfil costuma ser o mais fácil, já que crianças ativas, que estão sempre correndo e pulando, precisam gastar bastante energia. Costumam se interessar por futebol, basquete, tênis, vôlei e atletismo.
Preferem brincar sozinhas
As mais tímidas ou quietinhas normalmente escolhem os esportes mais solitários, como natação, equitação e dança.
Gostam de contato corporal
São os famosos moleques e molecas, que adoram lutinhas, brincadeiras de empurrar, correr, atividades que podem ser vistas como mais brutas. Para essas crianças, os esportes de luta ou artes marciais, como judô, jiu-jítsu e caratê, em geral, são os que mais agradam.
São perfeccionistas
Normalmente, crianças com esse temperamento buscam esportes individuais, pois podem manter melhor o controle das coisas. São mais propensas a se interessar por atletismo, ginástica olímpica e tênis, por exemplo.
Adoram música e diversão
Unir a música ao esporte é a melhor forma de agradar a essas crianças. Capoeira, balé ou dança, em geral, são as atividades preferidas.