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Prestes a virar freira, ela se descobriu lésbica no convento

"Mudança de Hábito" ou "Noviça Rebelde"? Clichês à parte, a história da paulista Thaís Mariane realmente daria um filme.

Por Júlia Warken
Atualizado em 5 jul 2022, 22h00 - Publicado em 7 abr 2018, 10h00
 (Thaís Mariane/Arquivo pessoal)
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Thaís Mariane tinha 16 anos quando anunciou à família que queria tornar-se freira. Os pais não ficaram muito contentes com a decisão, mas ela seguiu esse caminho mesmo assim e, aos 18 anos, iniciou o processo de formação para a vida religiosa.

“Eu participava de muitos retiros e encontros vocacionais na igreja. Em um desses momentos eu conheci uma congregação franciscana e me apaixonei pelo trabalho deles. A partir daí quis me tornar freira”, contou Thaís no Facebook, através de um grupo secreto. Para a sua surpresa, o post viralizou e ela passou a ser conhecida como a “freira de Taubaté”.

Foram cinco anos no convento, quando, na última etapa do processo para tornar-se freira, Thaís resolveu largar o hábito. A vontade de se afastar do noviciado aconteceu, pois ela começou a se envolver com uma menina em pleno convento. “Fiquei com uma amiga, rolou mais de uma vez e rolou uns carinhos mais intensos”, revelou na conversa que teve com o MdeMulher.

Thaís conta que passou anos lutando contra esse desejo, até que o primeiro beijo lésbico de sua vida aconteceu, quando ela tinha 21 anos. Aquela não foi a primeira vez que o clima esquentou entre ela e outras noviças, mas antes as coisas nunca haviam passado de carinhos e um selinho.

Durante os anos como missionária, ela visitou diversas cidades e sempre conhecia garotas novas. “Daí dormia perto e eu queria fazer umas coisas erradas”, relembra. Thaís conta que sentimento de ter que se separar das freirinhas que foi conhecendo era sempre muito triste.

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“Cada lugar que morava era um tormento diferente, porque eu queria pegar alguém e não podia. Hoje eu dou risada, mas era sofrido”. Antes de entrar para o convento, ela chegou a namorar brevemente alguns meninos e diz que nunca havia suspeitado que era lésbica.

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Thaís saiu do convento aos 23 anos, mas só foi aceitar-se como lésbica aos 28 (Thaís Mariane/Arquivo pessoal)

Depois do primeiro beijo, Thaís sentiu-se culpada e chegou a buscar orientação. “Eu contei para minha superiora e a reação dela foi bem escrota, porque ela me perguntou se era tão bom quanto as pessoas diziam”.

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Aos 23, decidiu largar a vida religiosa. Faltavam apenas 6 meses para que ela fizesse a profissão dos votos – que é uma espécie de formatura para tornar-se freira oficialmente. “Eu decidi não seguir mais a vida religiosa depois que fiquei com a menina no noviciado, porque fomos ficando todos os dias, daí eu sabia que não condizia com a vida que eu tinha escolhido ali. Também não queria ser motivo de escândalo para eles”.

A história de Thaís desperta curiosidade, mas o mais impressionante é saber que ex-noviças lésbicas não são uma raridade tão grande assim. Ela conta que pelo menos cinco garotas que conheceu no convento hoje também são assumidamente homossexuais. E é triste imaginar o quanto essas mulheres sofreram na trajetória de autoaceitação.

Mesmo fora da congregação, assumir-se lésbica foi um processo complicado para Thaís. Ela ainda era muito ligada à religião e acabou se envolvendo com uma menina da igreja que, segundo conta, “era bem bitolada”. Nessa época, até mesmo um padre lhe aconselhou a tentar engatar o namoro com a menina, mas nem isso adiantou.

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“Ela não aceitava de jeito nenhum, até hoje não se aceita, e eu comecei a entrar em parafuso. Fiz terapia e comecei a me desvincular um pouco da igreja”. Foram três anos nessa relação conturbada, cheia de dúvidas e culpa. Aí Thaís resolveu mudar de cidade para se afastar da garota. Foi quando conheceu Aléxia, com quem namora até hoje.

Essa nova fase se iniciou quatro anos atrás e Thaís finalmente conseguiu tirar das costas o peso de viver se escondendo e se enganando. Ela conta que assumir-se lésbica para a família foi mais tranquilo do que anunciar que queria ser freira. “Todos aceitaram numa boa. Minha mãe disse que já desconfiava”. Atualmente, aos 32 anos, ela é sócia de um bar e trabalha como sommelier de cervejas.

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Hoje, ela é sommelier de cervejas e sócia de um bar (Thaís Mariane/Arquivo pessoal)
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Hoje, Thaís reconhece que os dogmas rígidos do cristianismo certamente dificultaram muito seu processo de  autoaceitação. Ela ainda é católica, mas frequenta cada vez menos a igreja – por falta de tempo e pelo desconforto de conviver com a intolerância.

Mesmo assim, acredita que a atual postura do papa Francisco está sendo importante na mudança dos paradigmas. “Acho que o papa está ajudando bastante ao se abrir mais para o diálogo e a aceitação, mas existe muito tradicionalismo dentro da Igreja, o que complica demais. Só que, ao mesmo tempo, conheço inúmeras pessoas que são bem praticantes no catolicismo e estão com o coração aberto para esse assunto”.

Para Thaís, todo cristão deveria respeitar os LGBT, mesmo que não concorde com as diferenças. “É como Jesus, que não concordava com o pecado, mas amava e respeitava o próximo, mesmo se ele vivesse no pecado”.

E seria então a homossexualidade um pecado, afinal? Durante muito tempo, Thaís acreditou que sim, mas hoje pensa diferente. “Acho que viver em pecado é viver sem amor, com rancor e fazendo mal para as pessoas”, finaliza.

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