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Presidente da Coréia do Sul seria controlada por seita maluca

Entenda a história que está mobilizando a população sul-coreana.

Por Lucas Castilho
Atualizado em 21 jan 2020, 02h52 - Publicado em 1 nov 2016, 10h46

Pode até parecer enredo de alguma série bem louca, como “Black Mirror” ou “Mr. Robot”, porém nenhuma ficção poderia ser tão absurda quanto a trama que se desenrolou nos últimos dias na Coréia do Sul.

O país está mergulhado em uma crise sem precedentes desde que veio à tona a estranha relação da presidente Park Geun-hye com a amiga e confidente Choi Soon-sil, acusada de extorquir mais de 69 milhões de dólares das maiores empresas sul-coreanas. Além disso, foi descoberto, por meio de um tablet não criptografado, que a mulher obtinha informações sigilosas e até rascunhos de discursos da governante.

E até aí, tudo bem. Não é a primeira vez, infelizmente, que a Coréia do Sul precisa lidar com um político corrupto. O que deixou a população indignada mesmo – e fez os fóruns de teorias da conspiração bombarem – é o fato de Choi estar ligada a uma seita xamânica misteriosa que poderia ter interesses escusos com relação ao futuro do país.

Choi Soon-sil
Choi Soon-sil (Reprodução/JTBC)

 

Como tudo começou

Neste momento os cidadãos da Coréia do Sul buscam entender o que levou a presidente Park Geun-hye a se arriscar tanto por uma pessoa que sequer é da família dela. É comum no país que políticos se envolvam em esquemas de corrupção por causa de familiares, como explica o blogueiro  sul-coreano T.K.

E, aliás, por causa disso, uma das grandes bandeiras da campanha de Park para a presidência era o fato dela não ter nenhum parente próximo. Os pais dela, o ex-ditador Park Chung-hee e a esposa Yuk Yong-su, morreram assassinados e ela não tem mais nenhum contato com a irmã e o irmão.

O assassinato da mãe dela fez com que o caminho da presidente se cruzasse pela primeira vez com o de Choi Soon-sil. Em 1975, a mãe de Park foi assassinada por um espião da Coréia do Norte que tinha como alvo, na verdade, o marido dela e pai da futura presidente: o ditador Park Chung-hee.

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O fato é que logo depois da perda,o pai de Choi Soon-sil, Choi Tae-min, começou a enviar diversas cartas para Park, dizendo que a alma da mãe dela havia ido visitá-lo. Choe Tae-min era um ex-policial e, certo dia, começou a autodenominar-se pastor e criou a obscura Igreja da Vida Eterna. Fragilizada, Park caiu na conversa do pastor, e em pouco tempo, os dois tornaram-se inseparáveis. ~Coincidentemente~, em pouco tempo também, a fortuna dele começou a crescer…

O nível de influência de Tae-min sobre Park era tanto que, certa vez, o pai dela convocou o líder espiritual para um interrogatório. No fim das contas, não deu em muita coisa. A jovem Park defendeu com unhas e dentes o pastor por ele ser a única chance de contato dela com a mãe. O ditador fez “vista grossa” e isso pode ter sido um dos motivos da ruína dele.

O pai de Park foi morto, em 1976, pelo então chefe da Agência Central de Inteligência da Coréia do Sul. Um dos motivos do crime, de acordo com o assassino, era a tóxica relação entre Choi Tae-min e Park. Para ele, o fato do ditador permitir esse relacionamento da filha com o pastor seria um indício de que ele não servia mais para comandar o país.

Quem também não estava feliz com a proximidade de Park com o guia espiritual eram os irmãos dela. Em 1990 eles chegaram até a criar uma petição para que o então presidente Roh Tae-woo, salvasse a irmã deles do controle mental de Choi. A petição não deu resultado, e os irmãos cortaram relações para sempre.

Em documentos vazados pelo Wikileaks em 2007, quando Park concorria à presidência pela primeira vez, o embaixador norte americano da Coréia do Sul escreveu:

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Existem diversos rumores que o pastor, já falecido, tinha total controle sobre o corpo e a alma de Park durante a juventude dela e, bem, parece que hoje é a filha dele quem exerce esse poder

Com a morte do pastor Choi Tae-min, em 1994, a confiança de Park voltou-se toda para a filha dele, Choi Soon-sil. E, bem, deu no que deu.

 

Presidente marionete

Choi
A selfie da ~discórdia~ (Reprodução/weibo.com)

O castelo de cartas da presidente começou a ruir quando a filha de Choi foi aceita em uma das melhores universidades da Coréia do Sul, a Ewha Womans University. Por ela não ter um histórico escolar respeitável, as pessoas começaram a suspeitar de algum favorecimento. O que ninguém poderia imaginar era o tipo de relação que a presidente mantinha com Choi Soon-sil.

No dia 24 de outubro – o país já com ânimos inflamados -, a TV sul-coreana JTBC encontrou um tablet deixado por Choi Soon-sil em um escritório abandonado. E, não, ele não tinha senhas. E, sim, tinha muita sujeira dentro dele. O difícil de acreditar é como ela pode ter sido descuidada, já que normalmente ninguém gostaria de ter seus podres expostos na mídia.

Bem, foram descobertos discursos da presidente com alterações feitas por Choi, boletins presidenciais, bate-papos com assessores do Governo, agenda de férias da presidente e até mesmo documentos secretos de encontros entre as autoridades da Coréia do Norte e do Sul. A cereja do bolo ficou por conta mesmo de uma selfie tirada por Choi Soon-sil, caso restasse alguma dúvida de que o aparelho fosse dela.

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De acordo com investigações, Choi teria extorquido cerca de 69 milhões de dólares de duas grandes empresas da Coréia do Sul por meio de duas ONGs comandadas por ela. Pior: Park pode ser a presidente, mas quem controlava tudo no Governo mesmo era a ~amiga~. Além dos papéis sigilosos, Choi também tinha acesso a informações privilegiadas e até mesmo conseguiu que a presidente contratasse como assessor o personal trainer dela (!!!).

Ah, Choi também era responsável por comprar as roupas da Chefe de Estado. Chanel, Louis Vuitton e Balenciaga? Não, nada disso: peças baratas. Sim, o nível de controle era tão grande que ela VESTIA a presidente.

Tão logo essa bomba explodiu, Park correu para defender-se da opinião pública. Segundo ela, que pediu desculpas ao povo e demitiu parte da equipe, Choi era apenas uma pessoa que a ajudou em um passado difícil. Claro que não adiantou nada e a aprovação popular da presidente despencou para 17%, milhares de pessoas foram às ruas protestar e já pedem tanto a renúncia da governante quanto o impeachment. Choi está presa para investigações.

Bizarrice sem limites

A história acima já é bem louca e, justamente, por causa disso, qualquer rumor que surge na Coréia do Sul, por mais absurdo que possa parecer, ganha a atenção dos cidadãos.

Um deles diz que o nome do grupo político de Park, o “The Saenuri Party”, seria um código para Shincheonji, uma espécie de culto muito popular na Coréia do Sul que, ao mesmo tempo que possui muitos adeptos, é bastante odiado por diversos meios de comunicação, como jornais e TV. A principal crítica seria a forma figurativa que a religião ensina os textos bíblicos.

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Mas isso nem é o pior. Nos últimos dias, uma teoria da conspiração tem ganhado força entre os sul-coreanos. De acordo com ela – que existe já há um tempo -, o terrível naufrágio de uma balsa que, em 2014, matou 250 estudantes e 11 professores, poderia ser obra de um ~sacrifício~ orquestrado por uma seita bizarra. Sinistro.

A história ganha ainda mais força pelo fato de Park ter ficado “desaparecida” e incomunicável por cerca de sete horas após o desastre. Os rumores dizem que ela estava participando de um memorial em homenagem ao finado Choi Tae-min, morto exatamente há 20 anos. Sim, a desgraça aconteceu exatamente no dia do aniversário da morte do pastor.

Park Geun-hye vai ter muito o que explicar. Será que a Netflix vai comprar os direitos?

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