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Presidente da associação de críticos do RJ é acusado de assédio e afastado

Em nota, a Escola de Cinema Darcy Ribeiro afirmou o afastamento frente às denúncias das alunas de assédio moral, verbal e sexual

Por Da Redação
Atualizado em 28 jul 2018, 15h12 - Publicado em 28 jul 2018, 14h00
Professor Rodrigo Fonseca é acusado de assédio (Facebook/Reprodução)
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A Escola de Cinema Darcy Ribeiro confirmou, em nota o afastamento do professor Rodrigo Fonseca, acusado pelas alunas de assédio. Os relatos são de ligações durante a madrugada, mensagens abusivas, tentativa de contato físico sem consentimento e perseguições.

Respeitado em sua área de atuação, Rodrigo Fonseca é presidente da Associação de Críticos do Rio de Janeiro e colabora para alguns dos principais veículos de imprensa do Brasil. Alguns deles, no entanto, já afirmaram encerrar qualquer vínculo com o professor, como o Omelete, especializado em cinema.

Apesar das acusações coletivas, Rodrigo Fonseca nega ter praticado assédio e afirma ter se afastado da Escola por problemas de saúde.

Leia a carta das alunas da Escola de Cinema Darcy Ribeiro na íntegra:

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“CARTA ABERTA DOS ALUNOS DA DARCY RIBEIRO

Em reunião realizada no dia 09 de julho de 2018, 13 alunas da Escola de Cinema Darcy Ribeiro relataram às turmas de Roteiro, Direção, Montagem e Produção I assédio sofrido pelo professor Rodrigo Fonseca ao longo das aulas do primeiro semestre do ano corrente.

Rodrigo Fonseca tornou-se professor da turma em março do ano de 2018, aparentemente cordial e prestativo. Docente notável, sempre tentando aproximar-se e agradar os alunos, levava comida e livros para distribuir durante as aulas, sempre sorridente e simpático. Mas sua simpatia tinha interesse restrito e direcionado. Desde as primeiras aulas dava orientações profissionais às suas alunas; os biscoitos e ofertas de livros logo viraram ingressos para filmes e debates, entradas gratuitas em eventos e cursos, bajulações sem fundamento profissional que poucos ou nenhum homem recebiam.

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A partir disso, as alunas, crendo em sua boa fé, começaram a ver-se em situações constragedoras. Ligações durante a madrugada, mensagens abusivas, olhares asquesoros, tentativa de contato físico, perseguição dentro de eventos. A bondade e atenção viraram constatação: a contribuição dele não era profissional, mas sim, dotada de interesse sexual, que como nunca foi correspondido, resultou em inúmeras ofensivas por parte do professor.

O docente não respondia mais às perguntas das alunas assediadas, e quando o fazia, era sem seriedade, demonstrando fúria e imaturidade, colocando-as em posição de extrema opressão. Durante as aulas, fazia piadas vexatórias com as alunas abordadas, com intenção de humilhação.

Com o tempo as aulas se esvaziaram, muitas mulheres ausentes; mulheres disciplinadas, assíduas, já não frequentavam as aulas. Um estranhamento começou a ocorrer, e com ele, uma identificação. As alunas começaram a se falar, e enfim, estavam num grupo de 13 mulheres relatando as mesmas vivências e opressão, do mesmo assediador.

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Durante a reunião, foram relatados inúmeros assédios, desde simples cantadas, presentes dados às alunas pelo professor, ligações inexcrupulosas, ameaçadoras e em horários inapropriados, a uma tentativa de beijo na boca de uma aluna sem consentimento e perseguição a outra durante um evento. Cabe ressaltar que todas as alunas que informaram ser comprometidas deixaram de contar com a mesma atenção.

Além dos relatos de assédio sexual, foram presenciados durante as aulas assédio moral, com ameaças de perda de pontos para quem questionasse o professor em qualquer conceito que não o agradasse. O mais grave ocorreu no dia 04 de julho, quando o professor disse, grosseiramente e de modo alterado, a um aluno que não responderia nenhuma pergunta enquanto ele “não sentasse o rabinho na cadeira”. Durante a reunião, outras pessoas denunciaram falas racistas, xenófobicas, homofobicas, preconceituosas e intolerantes. Todas travestidas de piada e licença poética.

Cabe ressaltar que o assédio pode vir de uma atitude verbal ou física, com ou sem testemunhas, e acontecer em sala de aula, ônibus, ambiente de trabalho, boates, consultórios médicos, na rua, em templos religiosos. O assédio não tem um local específico. No caso, há clara relação de poder de um professor, reconhecido no mercado, investindo contra alunas que sentem-se intimidadas com as consequências de suas denúncias.

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Quando um homem tem interesse em conhecer uma mulher, ou elogiá-la, ele não lhe dirige palavras que a exponham ou a façam sentir-se invadida, ameaçada ou encabulada. Caracteriza-se como assédio verbal (artigo 61, da Lei das Contravenções Penais n. 3.688/1941), quando alguém diz coisas desagradáveis ou invasivas – como podem ser consideradas as famosas “cantadas” – ou faz ameaças.

Diante dos inúmeros relatos, reiterados de forma contundente e emocionada, a turma comunicou à coordenação da Escola de Cinema Darcy Ribeiro em uma reunião com a presença de cerca de 80 alunos, naquele mesmo dia, cobrando providências. Com a gravidade dos fatos e dos inúmeros relatos das alunas, a coordenação se comprometeu em frente aos presentes a desligar o professor, ratificando que esse tipo de comportamento não pode ser aceito pela instituição.

Destarte, reiteramos tudo que foi exposto na reunião e com o pronunciamento oficial da escola, para resguardar a integridade e a honra das alunas denunciantes, que foram vítimas de assédio.

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Esta carta não é somente uma denúncia pública e coletiva, mas também uma resposta ao senhor Rodrigo Fonseca. As vítimas são muitas e estão unidas, fortes e tranquilas de sua postura, contando com o apoio da instituição, de todos os discentes e da opinião pública.

Não nos intimidaremos. Não nos silenciará. Somos muitos! Ao contrário do que você e muitos imaginam ao assediar, nós nos falamos e nos cuidamos e denunciamos, sim, cada assédio sofrido. A cada assédio denunciado, outros tantos aparecem. Não por histeria coletiva, não estamos fantasiandos, e não queríamos estar aqui hoje, perdendo saúde, tempo e vida para berrar os assédios sofridos; queríamos não ter sido, mas fomos, por você.

Os inocentes não ficarão calados, por mais difícil que seja falar.

ASSINADO: TODOS os alunos do Módulo I”

 

Em nota oficial, a Escola de Cinema Darcy Ribeiro afirmou que: “apoiou e atuou, como, inclusive, continua apoiando, através de assistência social, psicológica e assessoria jurídica, as alunas, fazendo com que, logo após o relato dos fatos, toda a turma não tivesse, como, de fato, não teve, mais qualquer contato com o Professor, cujo contrato não foi renovado, estando afastado da Escola”. E que: “repudia qualquer ato de assédio, discriminação, e refuta com veemência qualquer atitude que viole o bem-estar de toda a comunidade escolar.”.

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