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Precisamos falar sobre a obesidade das nossas crianças

Os índices de pessoas acima do peso têm crescido, principalmente, entre os pequenos. Cintia Cercato, endocrinologista e Presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade (ABESO), te ajuda a controlar a situação em casa

Por Débora Stevaux (colaboradora)
Atualizado em 12 abr 2024, 16h30 - Publicado em 21 set 2016, 18h14
ThinkStock/Kwanchaichaiudom
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Dificilmente você encontrará uma mãe que nunca ouviu falar sobre obesidade infantil, mas elas raramente encaram o distúrbio cientes de sua real gravidade. Essa é uma das principais críticas realizadas pela Dra. Cintia Cercato, endocrinologista e Presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO), que acaba de atualizar a 4ª edição do maior estudo realizado sobre o assunto no país. 

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“A 3ª edição foi publicada em 2009, e de lá para cá, pudemos observar um avanço muito significativo no conhecimento sobre o tema. Nesta nova versão das diretrizes, abordamos os diversos aspectos da doença, desde o diagnóstico até tratamentos farmacológicos e cirúrgicos, por isso sentimos a necessidade de atualizar a pesquisa”, explica a médica sobre o projeto que também serve de fonte de consulta para diversos profissionais da área como especialistas, psicólogos, cirurgiões etc.

Apesar dos índices da obesidade serem maiores em mulheres com idades entre 45 a 60 anos, é na infância que há um crescimento mais acentuado – e muito assustador. “Isso se deve ao grave problema de maus hábitos alimentares desta faixa etária, e como é extremamente complexo combater a obesidade, faz-se necessário tomarmos diversas medidas; entre as mais significativas estão a implementação da educação nutricional nas escolas; uma melhora na qualidade dos alimentos da merenda e no regulamento do que pode ser vendido nas cantinas”, relata Cintia.

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Mas não pense que para por aí, há outros fatores agravantes que atuam como um efeito dominó no sedentarismo do cotidiano infantil: “O marketing voltado para as crianças também integra – com grande parcela de culpa – esta problemática; tanto é que deveria ser proibido influenciar desta maneira a escolha infantil. Outro agravante é a falta de clareza nos rótulos dos produtos, que parecem ser feitos de modo a esconder a procedência e as consequências das substâncias nocivas que ingerimos diariamente. O consumidor é livre para comprar o que ele quer, mas precisa entender o que ele esta comprando”, adverte a doutora.

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Outro aspecto que também influencia surpreendentemente na rotina sedentária dos nossos pequenos é a ineficiência da segurança pública:  “Isso os obriga, de certa forma, a ficarem confinados em casa, permanecendo mais de 5h diárias em frente às suas diversas telas (computador, videogame, celular), quando o tempo recomendado pelo Laboratório de Obesidade Infantil do Hospital das Clínicas é a menor do que metade, cerca de 2h”, pontua Cintia. 

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A principal maneira de combater a obesidade infantil é pelo estilo de vida da família, que deve reeducar seus hábitos alimentares não só para motivar os mais novos, conforme comenta a endocrinologista: “É fundamental que haja um acompanhamento, até porque os mais velhos são sempre vistos como exemplos a serem seguidos. A mudança na alimentação deve ser uma causa abraçada pela família inteira, porque é muito comum que as crianças ou adolescentes obesos tenham familiares com excesso de peso em casa, ocasionado pelo consumo excessivo de alimentos ultraprocessados. É um problema sério, precisamos do máximo de ajuda e apoio familiar.”

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É muito comum também que, mesmo profissionais da área da saúde, não sejam capazes de enxergar a gravidade da enfermidade, que não à toa, foi reconhecida há apenas 5 anos como tal pela Associação Médica Americana: “Outra característica preocupante é, além da demora e da resistência na prescrição do diagnóstico, a responsabilização da criança de ser obesa por ‘vontade própria’. E isso é muito grave, tão grave que reduz consideravelmente a expectativa de vida das pessoas que permanecem nessa situação. A criança pode fazer dieta, sim, independentemente da idade, caso precise”, elucida Cintia. 

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O simples fato de enxergar a criança como ‘culpada’ pela doença também traz reflexos preocupantes e serve para minar, ainda mais, a auto-estima infantil, que na maioria das vezes, já sofrem de bullying no ambiente escolar, como analisa a médica “O rendimento dos pequenos que são ridicularizados na escola pelo seu excesso de peso é um dos sinais mais palpáveis deste tipo de prática. Numa ditadura do corpo perfeito, das barrigas negativas, corpos esqueléticos, é muito comum que as crianças – principalmente meninas – tenham aversão à suas imagens refletidas no espelho.”

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O site da ABESO disponibilizou uma ferramenta chamada de Calculadora da Obesidade Infantil, que apresenta o peso saudável para as crianças de acordo com as informações fornecidas pelos familiares como faixa etária, gênero etc. 

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