Quem frequenta festinhas infantis já deve ter notado: os monitores tornaram-se figuras obrigatórias nas comemorações de aniversário. Sorridentes e divertidos, eles têm a incumbência de propor brincadeiras, estipular regras e programar toda a diversão dos pequenos. Os pais têm a sensação de que, sem essa orientação, as crianças terão dificuldade de interagir e se divertir sozinhas.
Pode ser mesmo um mal das crianças modernas, especialmente nas grandes cidades, acredita a psicóloga infantil Daniella Freixo de Faria, de São Paulo. Deixados cada vez menos sozinhos e com menos horários livres na agenda, os pequenos estão desaprendendo a brincar e a exercitar a própria imaginação sem orientação de adultos. Aqui a psicóloga conta por que isso é tão importante, mas diz que dá para reverter o quadro rapidamente.
Atividades lúdicas orientadas por adultos têm o mesmo efeito que a brincadeira livre?
Toda brincadeira desenvolve e traz algo de bom. As dirigidas normalmente têm regras, o que é um grande desafio para as crianças que ainda estão aprendendo a considerar o outro e a superar frustrações. Nesse caso, o suporte dos adultos é de grande valia. Mas a brincadeira livre, sem direção de nenhum adulto, permite que a criança se encontre com ela mesma, de maneira criativa. Aprender a brincar sozinho e criar as próprias diversões tem sido um grande desafio nos dias atuais. Ocorre que as crianças são entretidas por seus cuidadores a maior parte do tempo. É importante elas viverem também o processo de começar a brincadeira do zero, cansar daquilo e ter de inventar outra coisa. Para isso, é fundamental ter momentos sem fazer nada, o chamado ócio criativo.
Então as crianças contemporâneas desaprenderam a brincar sozinhas?
Crianças que têm uma rotina cheia demais podem mesmo apresentar certa dificuldade para brincar sozinhas com naturalidade. Elas entendem esse momento como mais uma atividade programada e ficam esperando as orientações. Aprender a usar a liberdade para brincar exige aprendizado. Mas o processo é rápido. Crianças nascem curiosas, interessadas e disponíveis para brincar e descobrir o mundo.
Descobrir o mundo exige espaço e depende de ter mais acesso a locais ao ar livre?
O faz de conta acontece onde menos imaginamos, ao ar livre ou dentro de casa. Quando brinca de médico, de escritório ou de mamãe e filhinha, a criança traz para seu universo as questões de seu cotidiano, promovendo um grande processo digestivo emocional, que permite colocar sentimentos para fora e experimentar novas possibilidades. Dependendo da idade da criança, o adulto deve estar por perto. Mas o principal é permitir que esse desenvolvimento aconteça a todo vapor.
Resumindo, brincar com liberdade é essencial para o desenvolvimento infantil. Por quê?
Brincar é a forma como a criança conhece a si mesma, o outro e o mundo à sua volta. É a descoberta de cores, sons e formas, do próprio corpo e de suas habilidades. Todo o processo de desenvolvimento passa pelo brincar – se dá na alegria que a brincadeira traz para a vida da criança.