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Paixão na terceira idade: as relações depois dos 60 anos

As relações depois dos 60 anos tendem a ser mais satisfatórias e libertadoras para as mulheres, que aproveitam a fase para quebrar tabus sobre a vida sexual

Por Joana Oliveira
Atualizado em 13 Maio 2022, 12h24 - Publicado em 13 Maio 2022, 08h24
Amor 60+
 (Pexels/Divulgação)
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A professora Sonia Pinheiro casou-se aos 28 anos, teve duas filhas e, depois de duas décadas de matrimônio, se separou. Quando lhe perguntavam sobre seu estado civil, ela baixava a voz para responder: “divorciada”. A única mulher entre seis irmãos também foi a única com coragem de assumir uma separação. Com 50 anos, depois de ter vivido o luto pelo fim do casamento, voltou a namorar. “Conheci um cara legal e fui aprendendo a jogar o preconceito no fundo do poço”, conta. Hoje, aos 63, ela compartilha amor e momentos felizes com outro homem, de 68 anos.

“Não sei qual é o título da nossa relação, mas tenho um parceiro com quem gosto de estar junto, de sair e me divertir. Minha filha diz que o nome disso é crush, mas para que dar um rótulo?”, ri Sonia, acrescentando que casar não é a prioridade deles. “Eu construí uma trajetória independente e cheguei até aqui desse jeito. Quero viver a minha vida, não a do outro. Acho que, nessa idade, a mulher tem mais facilidade de descobrir esses caminhos.”

De fato, os relacionamentos tendem a ser mais saudáveis e satisfatórios na terceira idade, segundo psicólogas e outras terapeutas ouvidas pela reportagem. “As mulheres mais maduras já sabem do que gostam e do que não gostam. Na juventude, geralmente acabamos cedendo, nos diminuindo para caber na vida de outra pessoa”, diz Sofia Menegon, consultora em relacionamentos e sexualidade e colunista de CLAUDIA.

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“Você consegue olhar mais para você mesma depois dos 60 anos e entender suas prioridades. Eu abracei minha liberdade.” Sonia Pinheiro, professora. (Pexels/Divulgação)

Maria do Carmo Lopes, de 76 anos, não teve receio em viver um outro amor quando ficou viúva, depois de mais de três décadas de casamento. Quando conheceu o atual marido, ela tinha 56 anos e ele, 39. “Comecei a sair sem medo, porque queria apenas me divertir. Nunca me preocupei com o que o povo pensa, só me preocupo comigo mesma. Sempre fui independente e o que quero é viver o que eu quiser”, afirma, com firmeza e bom humor. Ela garante que se sente mais consciente neste relacionamento do que nas experiências da juventude. “Você fica na relação se estiver bom. Se não, larga e pronto.”

É claro que nem tudo são flores para as mulheres que querem dar uma nova chance ao amor e à paixão depois dos 60 anos. Sonia conta, por exemplo, que de início tinha preguiça de voltar a paquerar. “Nunca usei sites de relacionamento porque, pelas experiências de minhas amigas, os homens não querem mulheres da mesma faixa etária que eles”, diz. Essa foi uma queixa comum entre as senhoras entrevistadas. Por outro lado, essa situação já pode se converter em uma espécie de critério de eliminação na hora de procurar alguém com quem se relacionar. “Homens que se negam a se envolver com pessoas da mesma idade não são parceiros maduros para elas, não estão prontos para relacionamentos leves e livres”, explica Sofia.

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ressalta. Em qualquer idade, as relações românticas só valem a pena se as expectativas de todos os envolvidos estão alinhadas. (Pexels/Divulgação)

A especialista acrescenta que, apesar de o medo da solidão ser legítimo, é importante lembrar que nem todas as relações mais significativas precisam ser, necessariamente, românticas. “Amizades são fontes de amor, por exemplo. É essencial fortalecer esses afetos que já estão em nossas vidas”, ressalta. Em qualquer idade, as relações românticas só valem a pena se as expectativas de todos os envolvidos estão alinhadas e se há respeito. “Você consegue olhar mais para você mesma depois dos 60 anos e entender suas prioridades. Eu abracei minha liberdade. Hoje, quem manda na minha vida sou eu e sou feliz assim”, conclui Sonia.

Amor de app

Para Alda Teresinha de Moura, aposentada de 61 anos, o amor é o segredo para rejuvenescer. Em outubro do ano passado, ela conheceu Ivo, de 68 anos, no aplicativo de namoro Par Perfeito. Seis dias depois de começarem a conversar, marcaram um encontro e, desde então, não se desgrudaram. “Estamos praticamente morando juntos e já falamos em casamento”, conta ela, aos risos. Alda decidiu procurar alguém depois que ficou viúva, em 2019. Por coincidência, ela havia conhecido seu falecido marido no mesmo app. “Eu dou sorte”, diz.

Os usuários acima de 60 anos representam 9% das pessoas ativas no Par Perfeito, segundo dados do próprio aplicativo, e, destes, 53% são mulheres. “Percebemos que esses usuários preenchem o perfil com mais detalhes do que a média, especialmente em relação ao que buscam em um parceiro. Ou seja, sabem o que querem. As conversas também geralmente fluem de maneira mais rápida, provavelmente pelas sinergias entre assuntos e afinidades”, comenta a porta-voz Eugênia Del Vigna.

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Os usuários acima de 60 anos representam 9% das pessoas ativas no Par Perfeito. (Pexels/Divulgação)

Alda, que se descreve como uma pessoa ativa, que gosta de sair e de conhecer pessoas, encontrou em serviços como esse um escape da solidão. “Isso me lembra que continuo viva, que ainda tenho desejos. É muito especial se apaixonar depois dos 60, porque você aprende a buscar emoções em toques, cheiros, carinhos e vai se descobrindo nisso. Eu rio bastante, isso é a vida”, descreve.

E o sexo?

Engana-se quem pensa que os namoros e casamentos a partir dos 60 anos são relações nas quais imperam, exclusivamente, a amizade e o companheirismo castos. Pode haver paixão, e muita. Alda faz questão de contar que seu relacionamento é “muito ativo nesse sentido” e ela, inclusive, ganha lingeries e outros mimos do namorado. “Viver a sexualidade neste momento da vida tem sido maravilhoso para mim. Eu e Ivo nos gostamos, temos muito respeito e cumplicidade um com o outro. Diferente da juventude, quando éramos inexperientes, o sexo é algo que te completa. Estou mais consciente.”

Valmari Cristina Aranha, psicóloga especializada em gerontologia, explica que existem muitos mitos sobre a “velhice assexuada”, como se os idosos perdessem automaticamente a libido a partir de determinada idade e deixassem de ser atraentes, porque o padrão do corpo desejado é jovem. “Essa é uma ideia culturalmente difundida, não vemos os idosos como seres desejantes, mas muitas mulheres vão ter um orgasmo pela primeira vez numa relação na terceira idade. Isso acontece principalmente com as que casaram virgens. Hoje, elas têm mais informação sobre o próprio corpo e desejo”, comenta.

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“Eu não tenho mais hormônio nenhum. Mas já estou há um ano e dois meses com esse crush e sinto que virei adolescente de novo. Como em todas as idades, a vida sexual depende da afinidade e química que você tem com a pessoa”, ressalta Sonia Pinheiro.

“Viver a sexualidade neste momento da vida tem sido maravilhoso.”

Alda Teresinha de Moura, professora aposentada

Valmari acrescenta que, aos 60 anos, normalmente as mulheres já passaram pela menopausa, então as maiores alterações hormonais ficaram para trás. “Questões como a perda de lubrificação natural são reais, mas existem recursos, desde remédios até lubrificantes e outros produtos de bem-estar sexual. Além disso, na terapia é possível conversar sobre a importância da preliminar, por exemplo, para que o sexo seja cada vez mais prazeroso”, acrescenta.

Segundo Alda, é preciso parar de enxergar um casal de idosos como apenas bons amigos. “Não pensem que a pessoa, depois dos 60 anos, fica paradona, que é apenas um olhando para a cara do outro. Não! Eu e Ivo viajamos, saímos para tomar cerveja, para jantar, e curtimos com a família um do outro. É um relacionamento de vida leve.” Como diz ela, o melhor amor é sempre o do agora.

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