Pai transgênero adiou mudança corporal para dar à luz
AJ Kearns abriu mão de sua readequação de gênero para gerar o próprio filho
AJ Kearns é um fazendeiro australiano, de 41 anos, que vive uma vida pacata no subúrbio de Melbourne e luta para criar seus dois filhos com dignidade. Já vimos milhares de histórias de pais que criam seus filhos e, com certeza, você deve estar se perguntando o que há de novo nisso. Realmente, se pararmos para pensar no conceito de família, percebemos que não há nada de diferente, entretanto, se olharmos para a forma com que essa família foi estruturada, podemos notar uma pequena diferença entre Kearns e os demais pais: ele é um homem transgênero, com uma história bastante peculiar.
Desde jovem, Kearns se sentia diferente e acreditava ser homossexual. Com o passar do tempo descobriu que era um homem preso ao corpo de uma mulher. Assim, assumiu sua identidade de gênero e iniciou o processo de transição. Casou-se com Zu White e tiveram seu primeiro filho. Durante a gestação, Zu passou por muitas complicações, o que impossibilitava que ela tivesse outra criança. Algum tempo depois, o casal decidiu que queria ter mais um filho, no entanto, seria arriscado para Zu gerar o bebê. Kearns tomou uma decisão, que para muitos pode ser confusa, mas não para ele. Como ainda não havia completado sua transição física, decidiu postergá-la para gerar a criança.
Em 2010, quando decidiu que queria passar pelo processo de readequação de gênero, Kearns procurou um psiquiatra e foi a ele a quem recorreu quando resolveu adiar a decisão para gerar o próprio filho. O médico achou sua atitude desbravadora e o apoiou totalmente. “É a primeira vez em mais de 30 anos de prática de psiquiatria que encontramos um transgênero masculino que tenha planejado engravidar”, contou a um jornal australiano. Sua única preocupação era como um homem transgênero lidaria com a maternidadade.
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Para Kearns, o processo não era tão complicado assim. Apesar de saber que era um homem e sentir-se confortável em sua condição de trans masculino, também sentia que era abençoado por poder gerar um bebê. Kearns diz que em nenhum momento confundiu sua identidade de gênero e se considera pai de Luca, que hoje tem 4 anos. A senhora White, que já não vive mais com Kearns, vê no ex-marido a imagem do pai ideal. Segundo ela, Kearns é comprometido e dedicado às crianças. Seis meses após o nascimento do filho, Kearns retomou o tratamento de readequação.
O casal optou por contar a verdade aos filhos desde cedo. Apesar de temerem a ignorância de alguns, ambos acreditam que o conceito de família vem mudando e, para uma criança, o mais importante é se sentir amado. Para o psquiatra que participou do processo, a aceitação da criança é sempre mais simples do que a visão do adulto. Segundo ele, crianças são desprovidas de julgamentos. Elas moram em mundos imaginários onde fadas, dragões, príncipes e princesas vivem harmoniosamente. Logo, por que não viveria um pai que deu à luz um filho?