Os segredos da família zen
É em casa, na prática, que aprendemos a respeitar, colaborar, perdoar... Saiba o que fazer para incorporar e praticar esses princípios no dia a dia

Quando existe o costume de manter o foco no positivo, a família desenvolve flexibilidade para lidar com problemas
Foto: Getty Images
Pense o que é uma família: Pessoas com idades, hábitos e personalidades diferentes convivendo no mesmo espaço, diz a psicóloga Heloísa Schauff (SP). Em outras palavras, um campo para inevitáveis atritos. Qual é a receita, então, das famílias felizes, aquelas em que o entendimento, o respeito e a colaboração superam de longe os momentos de conflito? A atitude consciente é a chave dessa harmonia e o exemplo dos pais é essencial para esse processo, afirma Heloísa. Em todos os lares há momentos de irritação e discordância. O que faz toda diferença é a forma com que os familiares agem diante dessas crises, explica. A seguir, elencamos os 9 segredos fundamentais que funcionam como gatilhos para criar e preservar a harmonia familiar. Que tal experimentar?
Lazer
Uma das características das famílias felizes é curtir juntos, aproveitando programas gostosos para conviver, lembra Heloísa. Jogos de desafios, tabuleiro ou de cartas, jantar temático, passeio a cavalo, karaokê ou mesmo aquela viagem curtinha para a casa dos avós. Anotem as preferências de cada um e combinem de fazer uma vez por mês, incluindo vovô, vovó e parentes mais próximos! Parece dar certo. Pequenos rituais nos tornam cúmplices. Cultivamos o hábito de ler à mesa. E uma vez por semana fazemos um passeio ou outro programa juntos, diz a paulista Sabrina Lins*, 24 anos. Esses agitos familiares recarregam as baterias, fortalecem os vínculos familiares e ainda rendem um álbum de fotos!
Disponibilidade
Quando estamos em sintonia com nossos familiares sentimos necessidade de algumas atitudes, como pequenas gentilezas que significam muito no dia a dia: deixar um bilhetinho de boa prova ou boa reunião, perceber quando a pessoa prefere ficar na dela ou precisa de um abraço. É sorrir, dizer uma palavra de incentivo, fazer um mimo, uma surpresa, mostrar que há vontade de estar junto. Mas a maior surpresa de todas é descobrir que, ao fazer isso sem esperar nada em troca, a gente sente o calorzinho desse afeto esquentando nosso peito, o que é muito gostoso e contagiante!
Diálogo
É na família que aprendemos a colaborar, a competir, a ganhar e a perder. Esse aprendizado pode gerar traumas ou nos tornar mais fortes e confiantes – vai depender da solidariedade familiar, avalia a mestre em psicologia clínica e terapeuta familiar Valéria Meirelles (SP). O segredo é um só: se colocar no lugar da pessoa, principalmente nos momentos de tensão, e dar-lhe força e apoio. Isso não significa fazer pelo outro – o que deseduca e enfraquece – mas dar espaço para que cada um seja ouvido e levado em conta. Conversar pode trazer grandes lições. A mineira Liane Matheus*, 32 anos, lança mão desse recurso. Eu e meu marido cultivamos um hábito saudável, que é falar numa boa tudo o que nos agrada ou desagrada, não deixando que as pequenas irritações cotidianas se acumulem e virem brigas. Isso evita ressentimentos e dá certo!

Respeito
“Sem regrinhas básicas de convívio, cada um leva em conta apenas a própria vontade, abrindo espaço para desrespeito e brigas, avisa Heloísa. Uma boa dica é fazer uma lista de tarefas e reunir a família para negociar. O que é bom para todos não é chato para ninguém.
Amizade
Quando a convivência em casa é gostosa, receber os amigos dos familiares traz muitas vantagens, diz Heloísa. São formados novos vínculos de amizade e evita-se o isolamento em um grupo fechado. Abrir-se para as relações, como conhecer melhor os pais dos amigos dos filhos, por exemplo, pode ser gratificante para descobrir pessoas interessantes, destaca.
Privacidade
Como você se sentiria ao flagrar alguém mexendo nas suas coisas? Não há harmonia em família sem respeito à privacidade e sem que cada um conheça os limites entre o meu e o seu, diz Valéria. Embora a casa seja um ambiente coletivo, ter o próprio espaço é importante para construir a personalidade
Doçura
Com tanta gente em casa, o que não falta é alguém para apontar as falhas alheias. A grande dica para fazer uma crítica é a intenção. Quando ela é amorosa, a pessoa escolhe a hora adequada, as palavras certas, o modo correto de criticar e, assim, o comentário vira uma observação inteligente e faz o outro refletir em vez de reagir. Dizer coisas como você é burro ou demonstrar hostilidade com silêncios e ironias são agressões que geram defesas e um clima ruim no lar, diz Heloísa.
Tolerância
Mesmo que concordem em muita coisa, não existem duas pessoas iguais – com interesses, temperamentos e valores idênticos. Cada ser humano é a combinação única disso tudo. Reconhecer a essência de quem convive conosco gera respeito pelas diferenças, cria oportunidades de diálogo e de trocas e ainda nos dá jogo de cintura para conviver com outras formas de ser e viver, mesmo fora de casa, diz a psicóloga Heloísa Schau.
Otimismo
Quando existe o costume de manter o foco no positivo, a família desenvolve flexibilidade, serenidade e coragem para lidar com os problemas. Por isso, os pais devem elogiar os filhos e ser autoconfiantes nos momentos difíceis – assim todos se fortalecem e tudo se resolve sem dramas. O oposto também vale: pais que vivem apontando defeitos dos filhos tendem a transformá-los em pessoas inseguras, que desistem fácil e logo se sentem derrotadas.
* O nome da entrevistada foi trocado para preservar a sua identidade.