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O que se espera dos homens hoje na criação dos filhos – e o que eles já estão fazendo

A clássica figura do homem que mal trocava a fralda do bebê está mudando. Em todo o mundo, ele vem adotando uma postura mais participativa nos cuidados com os filhos e nos afazeres domésticos.

Por Redação M de Mulher
Atualizado em 28 out 2016, 03h48 - Publicado em 3 set 2014, 22h00

Este texto faz parte da nova edição da CLAUDIA Filhos!. Nas páginas da revista, você encontra mais matérias sobre comportamento, saúde, alimentação, moda e educação.
Foto: Reprodução CLAUDIA Filhos!

Veja qualquer filme dos anos 1950, 1960 ou 1970 e o que encontrará é a figura do homem que sai de manhã cedinho para trabalhar, de terno e gravata (com cigarro nas mãos) e volta para casa à noite, encontrando o jantar posto à mesa, crianças provavelmente dormindo (ou, o contrário disso, casa virada de pernas para o ar e brinquedos espalhados pelo chão da sala), enquanto a mulher pergunta se ele quer um drinque. Quarenta anos depois – estamos falando de um fenômeno crescente a partir do ano 2000 -, o pai não é mais o mesmo. Só para que se tenha uma ideia, se nos anos 1970 ele não despendia mais do que 15 minutos diários a suas crianças, 30 anos depois ele já dedicava quase duas horas a elas.

O pai do século 21 não é produto apenas da revolução feminina, mas de uma série de outras coisas. O chacoalhão que a economia deu em todo o planeta levou a ondas de demissão, praticamente toda ela de homens. O número de divórcios também cresceu, e as famílias passaram a se reorganizar das mais diferentes maneiras. Assim, essa nova “espécie” de pai tem vários rostos: é aquele que não quer repetir o que os pais dele foram para ele; é o desempregado, que se vê em casa, tendo de cuidar dos filhos; é o pai solteiro; é o divorciado que tem a guarda compartilhada dos filhos; é o homem que decidiu ficar em casa e cuidar dela e dos pequenos enquanto a mulher trabalha; e é também o parceiro de um casamento do mesmo sexo que resolveu adotar uma criança. “O pai cuidador é o retrato dessa nova paternidade mais envolvida com os cuidados básicos com o pequeno e com as tarefas domésticas. Já não é mais o pai de fim de semana“, declara Mariana Azevedo, coordenadora institucional do Instituto Papai, em Recife.

Para Eduardo Chakora, coordenador de Atenção à Saúde do Homem do Ministério da Saúde, a revolução de costumes que vem sendo promovida pelos homens acontece na direção contrária à das mulheres. “No caso delas, ela se deu para ‘fora’, para o trabalho fora de casa, para a política, para a educação, para a luta pela igualdade de oportunidades e direitos. Mais recentemente, e com passos ainda menores, os homens também iniciaram um movimento. A diferença é que ele tem acontecido para ‘dentro’, por meio de vivências mais próximas e harmoniosas no próprio ambiente familiar e ao se abrirem para a possibilidade de se expressar de forma mais delicada, dando espaço para que suas emoções e afetos se manifestem de maneira mais livre, sensível e, especialmente, sem violência.”

O que se espera dos homens hoje na criação dos filhos - e o que eles já estão fazendo

Muitos homens ainda são estigmatizados quando precisam se afastar do trabalho para atender suas crianças.
Foto: CLAUDIA Filhos!

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Reconstruindo o papel dos gêneros

A maior participação do homem na criação dos filhos vem ajudando também a reescrever o papel dos gêneros, ainda que a passos lentos. Hoje, começa a ruir o discurso de que os cuidados básicos com a criança são território feminino. A atenção pertence ao casal. “O homem deste século está redefinindo os papéis do que conhecemos por pai e mãe. A paternidade responsável é, hoje, algo que se espera dele. A experimentação social que tivemos nos últimos 40 anos acabou sendo um tremendo fracasso para as crianças. Tentamos outras estruturas sociais, as do pai ausente, por exemplo, e também produzimos resultados terríveis para os pequenos”, analisa Vincent DiCaro, porta-voz da Iniciativa Nacional para a Paternidade, organização americana que promove a paternidade responsável.

No entanto, muitos homens ainda são estigmatizados – pelos chefes ou mesmo pelos colegas – quando precisam se afastar do trabalho para atender suas crianças. “Ainda não chegamos a um ponto em que se solidificou a noção de que os pais têm de estar disponíveis para os filhos. Enquanto nos últimos 40 anos os locais de trabalho fizeram esforços para acomodar as mães que trabalham, isso ainda não aconteceu com os homens que têm uma atividade, mas querem estar com a família”, afirma DiCaro. Segundo Eduardo Chakora, a função do cuidador ainda é vista como algo menor, de menos importância e valor. “A sociedade de consumo vende a imagem do homem bem-sucedido, cuja identidade está calcada no trabalho, no modelo e ano do seu carro, nas roupas de grife. Nesse sentido, homens que escolhem o caminho do cuidador correm o risco de ser vistos como improdutivos e, sobretudo, como pessoas cujo valor e autoimagem são questionáveis”, ref lete.

Outro ponto ainda emperra a maior participação dos pais: a falta de políticas públicas que atendam esse homem. “A existência de políticas públicas responsáveis, especialmente aquelas que regulamentam questões relacionadas à equidade de gêneros, é seguramente um dos elementos que contribuem de forma efetiva para o aumento da participação qualitativa dos pais na vida dos filhos. Entretanto, sabemos que a existência de leis e políticas por si só não tem o poder de promover adesão social, embora seja fundamental para a discussão sobre mudanças culturais que perpetuam a desigualdade”, conta Tatiana Moura, diretora-executiva do Instituto Promundo, no Rio de Janeiro. Um começo de mudança, ainda bem tímido, foi a implantação da licença-paternidade de cinco dias, em 1988. Inúmeras organizações no país, entre elas o Instituto Papai, vêm lutando não apenas para alterar esse quadro e para que ela seja equiparada à materna, como para estendê-la a outros modelos de família, como o casal homossexual e o pai solteiro. A disparidade entre as licenças para o homem e para a mulher, defendem as ONGs, ajuda a perpetuar a ideia de que o pai é apenas um coadjuvante e de que os cuidados pertencem à mãe. Vários projetos tramitam pela Câmara dos Deputados, entre eles o da chamada licença parental, que divide o tempo de licença entre o pai e a mãe, de acordo com as necessidades de ambos. Inúmeros países da Europa, como a Suécia, já fazem escola ao tornar esse tipo de licença norma e ao dar ao pai a opção do afastamento não remunerado quando o objetivo é o cuidado com os filhos.

O psicoterapeuta Luiz Cushnir, de São Paulo, afirma que os homens que conseguiram romper as barreiras do machismo e da desinformação só ganharam. “Depois que eles se sentiram mais seguros e menos criticados, se soltaram e se entregaram aos filhos. Hoje, se envolvem com mais facilidade, muitas vezes compartilhando com a mãe os cuidados ou às vezes até fazendo melhor que elas. Os homens desenvolveram com a ampliação de seu papel um espaço riquíssimo emocional com o contato com seus filhos.”

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