NoMo: as mulheres que não querem filhos (e querem respeito!)
Porque nenhuma mulher é obrigada.
Ainda há um longo caminho a ser percorrido, mas uma coisa é fato: nunca se debateu tanto sobre o novo papel da mulher na sociedade. Lideramos grandes empresas e nações, dirigimos caminhões, táxis e aeronaves. Decidimos o rumo de nossas vidas! Nesse cenário a questão da maternidade, logicamente, também aparece.
Sim, é possível ser uma profissional de sucesso e ter filhos ao mesmo tempo. E também não há nada de errado em desejar cuidar da casa e da família. Ninguém está sugerindo o contrário! A questão aqui é sobre escolhas pessoais genuínas, em substituição ao que nos é imposto. Ainda é aceitável supor que toda mulher nasceu para ser mãe? Não. E respeitar isso não tem nada a ver com um embate Elas vs. Nós. Tem a ver é com respeito.
Com a desconstrução da maternidade compulsória, surge uma nova geração de mulheres: as NoMos (abreviação de Not Mothers – Não Mães). Diversas famosas já declaram abertamente fazer parte desse grupo: Jeniffer Aniston, Cameron Diaz, Oprah Winfrey, Ellen DeGeneres, Portia de Rossi, Renée Zellweger, Helen Mirren e por aí vai.
Mas é realmente necessário dar nome a esse grupo de mulheres? Sim. Mais uma vez: não se trata de Elas vs. Nós, se trata de representatividade e tem a ver com a exposição de um assunto que precisa ser debatido para ser desmistificado. Ainda há quem acredite ser vergonhosa a posição de uma mulher que diz não à maternidade e esse pensamento retrógrado só vai ser página virada quando mais e mais NoMos puderem falar sobre isso abertamente. É a lei da normalização.
“Surge aquela pressão aos 30 e poucos anos, e você pensa: ‘Eu vou ter filhos só para não perder algo que os outros parecem amar? Ou isso é o que eu realmente e genuinamente quero do fundo do meu coração?’”, respondeu Portia de Rossi à revista Out quando perguntada sobre decisão de não ter filhos com a esposa Ellen DeGeneres.
Assim como Portia, milhares de mulheres ouvem continuamente que uma mulher só é completa ao tornar-se mãe. Mito. Segundo Daniel Gilbert, autor do bestseller “O Que Nos Faz Felizes” (Editora Campus Elsevier), estatisticamente, pessoas com filhos têm mais chances de desenvolver depressão do que aquelas que optam por não tê-los. “Eu adoro crianças, e é claro que não estou dizendo para você não ter filhos, mas não espere encontrar neles o caminho para a felicidade”, declara ele, que é professor de psicologia em Harvard.
É o que diz também a socióloga Robin Simon, autora do estudo “The Joys of Parenthood Reconsidered” (“As Alegrias da Maternidade/Paternidade Reconsideradas”, em tradução livre). “Há mais casos de depressão entre pais e mães de crianças pequenas do que entre pessoas sem filhos, e pais de filhos crescidos também não apresentam maiores índices de qualidade de vida do que adultos sem descendentes”, assegura ela.
“Você está sendo egoísta” é outra frase clássica que as mulheres que não querem ter filhos estão cansadas de ouvir. Basta refletir brevemente sobre a situação populacional da Terra para descobrir que não há lógica nesse clichê. Hoje somos 7 bilhões de pessoas em um planeta que, segundo estimativas, deveria comportar apenas 1,5 bilhão para estabelecer o equilíbrio.
No polêmico livro Contagem Regressiva (Editora Leya), o jornalista Alan Weisman sugere que, com base no cenário atual, a mais provável causa de extinção para a raça humana seria um colapso decorrente da superpopulação. Ninguém está sugerindo que todos parem de se reproduzir nesse instante, mas ora, ainda faz algum sentido acreditar que a função vital de todo e qualquer ser humano seja procriar? Não. Em tempo: segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), 222 milhões de mulheres que não querem engravidar não têm acesso a contraceptivos, pois moram em zonas remotas e muito pobres. Esse sim é um assunto urgente!
E mais: por que somos nós, mulheres, as mais cobradas? Por que somos mais julgadas do que os homens? Por que a maternidade ainda é tratada como o grande pilar da essência feminina enquanto para os homens é apenas mais uma escolha a ser feita? Ainda nos é imposto esse conceito viciado, criado para controlar o desejo pessoal das mulheres. Não é difícil compreender que, historicamente, o fortalecimento dessa convenção serviu para que menos mulheres nutrissem o desejo de vivenciar experiências tidas como masculinas.
“Mulheres sem filhos são uma ameaça ao status quo”, diz Jody Day, criadora do movimento Gateway Women, grupo de apoio a mulheres que não puderam ter filhos. Jody sentiu a necessidade de debater o assunto, publicar um livro e fundar o grupo, com base em sua experiência pessoal. Ela sempre quis ser mãe mas, aos 43 anos, estava solteira e sentiu que seu sonho não se concretizaria. Após um longo período de frustração, ela cansou-se de lamentar e passou a não mais aceitar o sentimento de pena vindo de quem estava a sua volta. Foi aí que começou a debater sobre o fato de que a imposição social da maternidade é duplamente nociva às mulheres: ela condena as que as escolhem não ter filhos e deprime as que não conseguem. Ou você é egoísta ou é uma coitada.
Ao final, essa imposição prejudica a TODAS nós. Até mesmo as mulheres que sonham em ter filhos, uma vez que elas passam a ser vistas como retrógradas em certos grupos. O que também é absurdo! Não, você não é a personificação do mal do quando decide não ter filhos. Não, você não é uma fracassada quando quer e não pode tê-los. Não, você não pertence ao Século 18 caso sonhe em ter um bebê ou seja realizada como mãe. Respeitar a realidade das outras mulheres é respeitar a realidade de todas nós.