No Facebook, garoto denuncia o pai por violência doméstica
Ele não aguentava mais ver sua mãe apanhando e resolveu quebrar o silêncio.
Ele não suportava mais assistir às cenas de violência dentro de sua própria casa e decidiu pedir ajuda à internet para que a situação cessasse. Com apenas 11 anos, o garoto usou as redes sociais para denunciar o seu próprio pai pelas agressões. A vítima? Sua mãe.
A foto de Fabiane Boldrini com o rosto ensanguentado foi compartilhada milhares de vezes nesta segunda-feira (27). Ela é casada com Joel Jorge há 16 anos e acusa o marido de ser violento com ela — e na frente dos filhos em várias circunstâncias ao longo desse período de convivência.
Desta vez, no último domingo (26), um dos filhos de Fabiane publicou imagens dela com o nariz quebrado e disse que o responsável pelo ferimento era o pai.
“Por mais q ele tente se explicar isso q ele fez não tem justificativa, ela é vitima dele por muitos anos, ele fraturou o nariz dela com um soco porque ela disse que não queria mais viver com ele aguentando tudo. E antes que pensem que ela fez alguma coisa de errado ela não fez nada para merecer isso. Eu sou testemunha. Então eu peço que compartilhem para que a justiça seja feita. Agressão contra mulher é covardia!”
No post, o garoto explica que a violência ocorreu três semanas antes e que o posicionamento dele reforçava o do seu irmão mais velho, de 14 anos, que também fez uma denúncia, mas foi obrigado pelo pai a apagá-la.
De acordo com o Extra, o acusado de agressão também publicou em suas redes sociais um posicionamento em que assume o ocorrido e pede desculpas à mulher.
“Peço desculpas a Fabiane Boldrini. Como já pedi. Realmente o fato que aconteceu só me faz lembrar o quanto me dediquei a minha família. Errei quando bati, após ser mordido pela mesma, que publicou no Face de seu filho as fotos que aí estão. Usando o Face de uma criança devia postar no dela. Não usar uma criança. Sempre serei um pai, não adianta querer me fazer parecer esse monstro. Já me atingiu Fabiane Boldrini. Agora faça o que falei. Pensão e precisando ainda tenho a honra de lhe ajudar. Gostaria que todos olhassem a foto e vissem se foi espancamento. Não sou um monstro.”Mesmo diante da situação absurda, o agressor tenta minimizar os fatos ao dizer que “não foi espancamento” ou ainda que seria uma “honra pagar pensão”.
Ao Extra, Boldrini explicou que no dia da agressão o homem havia chegado alcoolizado em casa, e ela decidiu pedir o divórcio.
“Quando eu disse que queria me separar, ele começou a apertar meu rosto com força, me machucando. Eu tentei morder a mão dele para que me soltasse, então ele já veio me dando socos. Foi horrível. E meus filhos viram tudo.”Fabiane Boldrini foi no mesmo dia da agressão até a delegacia e fez um registro de ocorrência relatando o caso. Desde então, o casal está separado, mas o ex-marido continuou fazendo ameaças.
A situação da mulher não é incomum, no entanto, ela não pode ser naturalizada. Como Boldrini, outras mulheres são vítimas de violência doméstica, relações abusivas e violência psicológica.
“A coisa foi piorando aos poucos. Ele fazia violência psicológica comigo, dizia que eu nunca ia deixá-lo porque ninguém ia querer uma mulher com três filhos. Sempre que bebia, voltava para casa agressivo e várias vezes me batia. Mas depois voltava, pedia desculpas e dizia que isso não ia mais acontecer. Eu pensava nos meus filhos e perdoava. Mas desta vez foi a pior. As pessoas não sabem o que eu sofria entre quatro paredes.”Fabiane precisou da voz de seus filhos para poder denunciar o marido. É uma realidade de diversas mulheres, vítimas em silêncio de seus maridos, companheiros, namorados.
Os dados do Dossiê Mulher 2016, que reúne informações sobre os registros de ocorrência feitos em delegacias do estado do Rio de Janeiro em 2015, comprovam: as mulheres representam 63,7% do total de vítimas lesão corporal dolosa registradas. Ainda, mais de 40% dos casos de tentativa de homicídio contra mulheres resultaram de violência doméstica.
Denuncie
A denúncia de violência doméstica pode ser feita em qualquer delegacia de sua cidade, ao registrar de um boletim de ocorrência.
Existe também a Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180).
A denúncia é anônima e gratuita, disponível 24 horas, em todo o País.
Para proteger e ajudar as mulheres a entenderem quais são seus direitos foi lançado um aplicativo para celular (Clique 180) que fornece diversas informações e explica os tópicos da Lei Maria da Penha.