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“Na verdade, eu não me via como avô. Talvez pela referência da minha infância nordestina”

O jornalista e romancista Moacir Japiassu, avô de Anna Carolina, 13, Maria Eduarda, 11, e Babi, fala sobre sua relação com os netos.

Por Redação CLAUDIA
Atualizado em 22 out 2016, 17h12 - Publicado em 5 nov 2015, 11h32

“Quando nasceu a primeira neta, fiquei alguns dias a pensar na vida. Na verdade, eu não me via como avô, talvez pela referência da infância nordestina. Por acaso eu parecia com o meu avô materno, o coronel Japiassu, aquele a quem vi no Recife, uma única vez, em casa de minha tia Lurdes, no início dos anos 50? Ele era um velho de rosto seriíssimo, de poucas palavras, e até inspirava certo medo.

Ora, no início deste século, a contemplar o rosto encantador da primeira neta que dormia no berço mais enfeitado do mundo, eu me sentia ainda um menino.

Porém, nunca me senti à vontade para tentar alguma brincadeira com a recém-nascida Anna Carolina. Essa, digamos, falta de jeito permaneceu à medida que a menina crescia. Dois anos depois, veio Maria Eduarda, e o vovô aqui se mantinha retraído, comportamento imutável quando Babi nasceu, em 2008. O gostinho avoengo as três meninas sentiam apenas por intermédio da vovó, de quem as mais velhas ficaram amigas e confidentes em conversas intermináveis no sítio onde elas passam finais de semana, feriados e férias escolares.

Babi, que cumpre a sina das caçulas, meio abandonada pelas irmãs cujos hábitos são de ‘outra geração’, precisa sempre de cuidados redobrados. Nas últimas férias, cumádi Lena, mulher do caseiro Bininho, que costuma cuidar da menina, precisou viajar de repente. Quem tomaria conta da capetinha de 6 anos? Foi então que, para perplexidade de todos, este neto do coronel Japiassu encolheu a barriga, estufou o peito e anunciou: ‘Eu tomo conta!’ 

A cena foi de impressionar, mas juro que ninguém da família caiu na gargalhada. Então, durante alguns dias, enquanto papai e mamãe permaneciam presos no trabalho, coube ao vovô fazer companhia à neta, tratada como ‘princesinha linda’.

A verdade é que nos demos muito bem, e, na primeira noite sozinhos, quando arrumava a cama para Babi se deitar, ela veio com um livro nas mãos, abriu na página do Barba Azul e foi logo dizendo: ‘Se eu ficar com medo, posso dormir na sua cama, vovô?’.

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Tive certeza de que desde o início era intenção da espertinha dormir na minha cama.

Em outra noite, Babi anunciou que lhe caíra um dente e era preciso guardá-lo debaixo do travesseiro; durante a noite a Fadinha do Dente o trocaria por uma moeda. Sempre foi assim, desde que o mundo é mundo, embora o vovô jamais tivesse ouvido falar na Fadinha do Dente e seus poderes. Porém, disposto a entrar no espírito da coisa, aproveitei aquele sono pesado e ressoante para cumprir o papel da Fada. No dia seguinte, aparentemente encantada, a princesinha descobriu a moeda mais bonita.

Na última noite dessa parceria inusitada e inesquecível, arrumávamos a cama quando ela abriu a boquinha num bocejo encantador e disse:

‘Foi um dia e tanto, vovô!’, para depois reclamar: ‘Vovô, você soltou um pum…’

Você é que soltou, menina; vovô não solta pum!, respondi.

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‘EU NÃO SOLTEI PUM NENHUM!!!’

‘Bom, se não foi o vovô nem você, só pode ter sido a Fadinha do Dente…’, falei.

Ela encostou o travesseiro e me olhou como se tivesse pena de tanta ingenuidade: ‘Ora, vovô, a Fadinha do Dente é uma lenda…’

 

 

 

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