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Mulheres: ”Nada tem tanta força de empoderamento quanto o autoconhecimento”, Fernanda Yamamoto

Empoderamento. A palavra está no centro da roda de debates relacionados à mulher hoje e as discussões apontam diversas maneiras de fazer isso. Uma delas pode passar, sim, pela moda e pela beleza. No mês em que se celebra o Dia Internacional da Mulher, convidamos a estilista Fernanda Yamamoto e a maquiadora Vanessa Rozan para bater um papo sobre o assunto. A seguir, as opiniões delas.

Por Patricia Moterani
Atualizado em 21 jan 2020, 13h40 - Publicado em 7 mar 2016, 13h53
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AUTOCONHECIMENTO

Fernanda Yamamoto – Para mim, nada tem tanta força de empoderamento quanto o autoconhecimento. Nós crescemos com um papel definido do que é ser mulher – algo cheio de modos e posturas a serem seguidos. Conceitos que certamente não servem a todas e precisam ser desconstruídos para que encontremos nossa própria identidade. Nesse processo, enxergo a moda e a beleza de maneira fundamental. Elas se conectam diretamente à imagem que transmitimos e, assim, ao entendimento que temos de quem somos. Por meio de um corte, de um tecido ou de uma cor, você pode descobrir quem você é. Isso traz conforto com a própria pele e, a partir daí, fica mais fácil quebrar os padrões preestabelecidos. Por exemplo:

Não é preciso que a mulher, para se sentir sexy, siga a cartilha dos decotes exagerados. Existem outras maneiras de fazer isso.

Vanessa Rozan – A roupa e a maquiagem que usamos são escolhas que fazemos diariamente. Passar um batom vermelho ou optar por não arrumar o cabelo são sinais que emitimos. Nos anos 1940, as mulheres não saíam de casa sem desenhar a sobrancelha e, em restaurantes, existia uma antessala no banheiro feminino para que elas pudessem retocar o make. Maquiagem era uma conduta. Hoje, noto-a como uma forma de expressão e liberdade. Vejo isso principalmente nas meninas mais novas. Se elas gostam, usam um batom roxo e ponto. Não importa se o namorado não quer, se alguém acha um exagero. Isso é se respeitar. Creio que a febre dos tutoriais de maquiagem na internet ajuda nesse sentido porque com eles é possível aprender a se maquiar de maneira fácil. É possível testar novas ideias também. A informação dá poder.

EXPERIÊNCIAS PESSOAIS

Felipe Gombossy
Felipe Gombossy ()

Fernanda Yamamoto – A moda fez muito por mim. Quando a descobri, além de ter mudado de profissão (Fernanda se formou em administração de empresas e trabalhou um tempo na área), passei também pelo meu processo de autodescobrimento. Antes, eu vestia sempre calça jeans e camiseta porque era o que todo mundo usava. Não havia uma reflexão sobre isso. Atualmente, não há calças no meu armário. Achei peças que me caem bem e com as quais me sinto feminina e sensual sem vestir algo curto e justo. Fiz disso o DNA da minha marca. Então, ter criado uma empresa de moda, para mim, foi algo além do negócio. Teve a ver com um mergulho interno e com a percepção do quanto a moda pode ser transformadora.

Vanessa Rozan – Minha experiência com o poder pessoal da maquiagem vem do contato com clientes. Às vezes, elas chegam a mim pedindo para afinar o nariz ou o rosto, “regrinhas” que estão por aí. Mas não ensino isso. Tento sempre fazer com que entendam o que fica melhor nelas. Quando percebem isso, é quase mágico. Saem dali com um olhar diferente, que influencia todo o resto.

A FORÇA DOS GRUPOS

Fernanda Yamamoto – Em 2014, conheci o Cunhã Coletivo Feminista, no Cariri, Paraíba, feito de mulheres rendeiras, e com ele desenvolvi algumas peças. Cheguei a ele, a princípio, apenas com a intenção de entender melhor o trabalho com a renda renascença e a região. Mas foi um encontro transformador. O Cunhã reúne o efeito terapêutico de um trabalho manual, carrega a tradição local e ainda tem força social super-relevante. São somente as mulheres que fazem a renda, e com a atividade, percebem o papel que têm economicamente, na família, com elas mesmas e na comunidade. Ter tido esse contato me fez desacelerar o meu trabalho e reafirmou o entendimento de que a moda tem um grande alcance.

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Vanessa Rozan –  O empoderamento começa no indivíduo e se consolida em um grupo. Um tempo atrás, comecei a bordar por hobby e fiquei fascinada. Passei a me dedicar bastante a isso e acabei fazendo parte da criação do Coletivo Feito a Mão, que agrega mulheres com interesse pelo bordado. Quando nos juntávamos para bordar, falávamos da vida e das mulheres, trocávamos experiências, nos reconhecíamos. Surgia daí um apoio emocional que às vezes não existia em outro lugar. E do apoio emocional vem a força.

Felipe Gombossy
Felipe Gombossy ()

PRECONCEITO

Vanessa Rozan – Quando comecei a trabalhar na área, em meados dos anos 2000, os principais maquiadores e cabeleireiros eram homens. Isso acabou criando um preconceito contra as mulheres. Nas lojas da M.A.C (Vanessa foi vendedora da marca por três anos), não era raro que as clientes pedissem para ser atendidas por homens. Elas próprias não confiavam no trabalho das maquiadoras. Hoje, é diferente. Na minha escola, o Liceu de Maquiagem, as turmas são formadas em sua maioria por mulheres. Mas a mulher ainda precisa se provar. Acho que é por isso também que ela busca por tanto estudo. Outro tipo de preconceito foi o que senti quando migrei da publicidade para a beleza. Ouvi de algumas pessoas coisas como “mas você tem diploma! Vai fazer o que trabalhando com cabelo e maquiagem? Isso é voltar para trás”. Foi um pouco difícil assumir essa escolha para mim também, confesso. Já trabalhando havia um tempo com isso, ainda dizia, em fichas de hotéis, que era publicitária. Demorei a encarar de fato como um projeto de vida.

 

Quando comecei a trabalhar na área, em meados dos anos 2000, os principais maquiadores e cabeleireiros eram homens. Isso acabou criando um preconceito contra as mulheres. 

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Fernanda Yamamoto – Na moda, os grandes estilistas também eram todos homens até poucos anos atrás. Engraçado notar isso quando falamos de temas teoricamente bastante femininos. É algo, porém, que vem da própria composição do mercado de trabalho, por muito tempo feito apenas de homens. Eu me lembro de ter percebido em alguns momentos a dificuldade que havia em chamar uma mulher de “estilista”. Era mais comum o termo “costureira”. Como se a classificação de estilista coubesse apenas a eles, pois seriam os criadores de fato.

A MULHER HOJE

Vanessa Rozan  – A existência de todas as campanhas que surgiram nas redes sociais, como #MeuPrimeiroAssédio e #AgoraÉqueSãoElas, só mostra o quanto de debate ainda precisa ser feito. Sou a favor que essa discussão seja, antes de tudo, feminina. Que encaremos as questões da mulher sob a ótica da mulher, e não necessariamente nos comparando aos homens. E nem de maneira a estar contra eles. Somos diferentes, mas não é preciso criar um embate.

Fernanda Yamamoto – Voltei há pouco da Índia absolutamente chocada com o que vi. Se aqui ainda nos sentimos de alguma maneira acuadas, lá isso é multiplicado de maneira exponencial. A mulher não existe. Fui para lá com meu namorado e as pessoas se dirigiam apenas a ele. Eu me senti desprezada. É óbvio, portanto, a necessidade de falarmos muito e sempre sobre a mulher.

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