O futuro do mundo do trabalho é exato. Mais precisamente, tecnológico. Sim, esse campo em que as mulheres, por alguma misteriosa razão, ainda se encontram em minoria. No ranking dos melhores empregos projetados para 2014 nos Estados Unidos, o número 1 é o de desenvolvedor de software. No Brasil, segundo listas elaboradas por consultores ouvidos pela revista EXAME, os primeiros lugares se alternam entre vagas para engenheiros e profissionais de tecnologia da informação. Os critérios de apuração vão desde melhor remuneração até mais motivação e ambiente mais favorável de trabalho. O futuro, portanto, é hoje.
E então? As meninas perderão terreno? De jeito nenhum. Se ampliarmos um tantinho o foco do nosso olhar à frente, veremos que estamos, na verdade, em vias de transpor a última fronteira da nossa história no mercado de trabalho. E de acelerar, pela via digital, a escalada para a equidade de gênero nos cargos de liderança. De acordo com um estudo desenvolvido por uma empresa finlandesa de consultoria, a Wevolve, mulheres e tecnologia, juntas, vão dominar o mundo – e torná-lo melhor. Para apontar as oportunidades de negócios no setor tecnológico e a influência do potencial feminino nessa área, eles analisaram dados fresquíssimos sobre tendências mundiais, mudanças socioeconômicas e práticas organizacionais. O resultado da pesquisa Feminine Future – Four Scenarios for Building the Technology Business of Tomorrow é um mapa que descreve como as nossas habilidades e as características da liderança feminina estão fortemente identificadas com os aspectos mais desejados da indústria de tecnologia do amanhã.
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Nos quatro cenários projetados, as mulheres têm contribuição fundamental – seja para humanizar com seu bom senso e intuição as empresas nativas digitais regidas por algoritmos (linhas de código sofisticadas que levam a soluções mais lógicas), seja para contribuir com sua flexibilidade e capacidade de adaptação em organizações elásticas, que irão florescer num ambiente de constante mudança. A Wevolve aponta ainda outros dois tipos de empresa: as fortes e valiosas, em que a riqueza se traduz em grandes ideias para resolver grandes desafios, e as abertas, cujas práticas colaborativas e democráticas vão revolucionar a forma hierárquica como ainda trabalhamos. Em todas elas, concluem pesquisadores, o DNA da liderança feminina se encaixa com perfeição.
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Os exercícios futuristas dos modernos finlandeses já são realidade em muitas empresas digitais no mundo, que se preocupam em atrair cada vez mais mulheres para seus quadros (todas as grandes têm esse ponto nas metas de crescimento). Uma das mais criativas do setor, a americana ThoughtWorks, tem um braço promissor no Brasil e foi considerada em 2013 a melhor empresa para mulheres pelo instituto Great Place to Work. Sua jovem diretora de tecnologia, a brasiliense Claudia Melo, se define como uma “líder servil”, terminologia que, por si só, já mostra o espírito da corporação. Claudia é daquelas profissionais com paixão e brilho nos olhos, que espelha bem o potencial feminino no mundo tecnológico. Sua missão, conta, é compartilhar conhecimento com os times de projetos, assegurar a autonomia e a motivação das equipes e circular livremente por uma estrutura organizacional sem hierarquia, cujo propósito vai além de garantir resultados: é trabalhar para fazer um mundo melhor.
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Cynthia de Almeida é jornalista e estudiosa do comportamento feminino. Com passagens por várias redações da Editora Abril, está constantemente em busca de novas formas de investigar e entender a mulher contemporânea. |