Mulheres contam ter sentido prazer e até orgasmo no parto normal
Mulheres ao redor do mundo descobriram que além da beleza do nascimento o parto pode trazer orgasmos
Foram necessários três anos para que a educadora Carol Valente, 33, entendesse o que tinha acontecido no seu parto. “Demorei para entender que o que eu tive foi um parto orgásmico, pois eu ainda não tinha conseguido nomear o orgasmo quando o tinha no sexo. Depois do nascimento da minha filha, quando passei a me preocupar com o meu prazer no sexo de forma mais efetiva, passei a me deixar sentir e perceber quando o orgasmo acontecia”, explica.
Se sexo já é um assunto tabu e orgasmos são tão difícies de serem identificados por uma grande parte das mulheres, o que dizer de algo como o parto com orgasmo? A sensação não é exatamente uma novidade, afinal mulheres têm partos vaginais desde que o mundo é mundo, mas falar sobre isso só passou a ser um assunto mais comum depois do documentário Orgasmic Birth, de 2008. Veja abaixo o trailer do filme, em inglês:
A explicação para a sensação é mais simples do que qualquer um poderia imaginar, como nos explicou a obstetriz Mariane Menezes: “A ocitocina, que tem um papel fundamental principalmente ao final do trabalho de parto, e também no orgasmo, apelidada por estudiosos de ‘hormônio do amor’, age em ambos os processos com outros hormônios como adrenalina e endorfinas. No parto há um estímulo no canal vaginal, por isso existe a possibilidade do orgasmo.” A conclusão é que quando você está em um momento prazeroso o seu corpo libera hormônios para deixar isso ainda mais marcante e fortalecer laços. O orgasmo é apenas uma consequência. E que ~consequência~ boa!
“Após o parto eu estava sentindo uma euforia muito grande, meu coração batendo muito forte e era a mesma sensação de ter transado muito. Estava me sentindo sexy e bonita. Nunca me senti tão bem na minha vida como após o parto. Foi mesmo algo muito forte e até difícil de descrever”, diz Carol. O nascimento de um filho já marca a mulher para sempre e sentir-se realizada com esse momento pode, inclusive, evitar problemas como a depressão pós-parto. É tudo uma questão hormonal.
Já a recepção das pessoas não foi tão bonita quanto o momento do nascimento de Elis, hoje com quatro anos. “As pessoas, em sua maioria, ficaram assustadas, me chamaram de louca, de inconsequente e de irresponsável, mas tenho certeza de que inspirei muitas amigas a procurarem parto domiciliar.”
Depois de quatro anos para refletir sobre o parto orgásmico, Carol já consegue até ajudar mulheres que se sentem envergonhadas depois de vivenciar um parto assim. “Eu diria que o parto dela foi um portal de prazer que ela precisa buscar para sempre, que ela não precisa se assustar, que isso é dela e ela é merecedora deste prazer.” Somos todas merecedoras de prazer!
Ainda não entendeu bem como se dá esse momento de prazer durante algo tão divulgado como pura dor? A obstetriz Mariane Menezes tira dúvidas:
Vaginal ou clitoriano?
“Pensando fisiologicamente há a possibilidade dos orgasmos no parto serem iguais aos da relação sexual (ou masturbação). Pelos relatos, as sensações são muito similares, e por vezes até mais intensas. Ele se assemelha mais ao orgasmo vaginal, que é bem mais raro, contudo já ouvi um relato de uma amiga também obstetriz-parteira em que a parturiente também fez um autoestímulo clitoriano, como muitas vezes ocorre no sexo”
Qualquer mulher pode passar pela experiência?
“É importante lembrar que não é um evento comum, principalmente no contexto em que se normalmente se dá o parto normal: com o uso de ocitocina exógena (medicamento usado no soro); sem liberdade de movimentos e escolha de posição mais confortável; luzes fortes e acesas; muitos profissionais ao redor e por muitas vezes conversando ou determinando o que deve ser feito, como o ‘empurre agora’. Até mesmo em outros contextos, como hospitais com uma ambientação mais agradável, casas de parto ou até em casa, não se tem referência do parto orgásmico como algo muito comum.”
Existe um treino para ter essa sensação?
“Não existe um treino para orgasmo nem no sexo, imagina no parto que é um evento mais incomum? Mas existe a chance de aumentar a possibilidade de um parto prazeroso ocorrer quando existe um maior autoconhecimento corporal, um ambiente acolhedor com pessoas da escolha da parturiente. E ainda comparando com o prazer no sexo, o autoconhecimento tende a ajudar, mas também não quer dizer que alguém que não tenha tal autoconhecimento seja incapaz de sentir prazer.”
Os tabus podem fazer com que mulheres não falem sobre a experiência?
“Com certeza! Eu acredito que não seja um acontecimento comum o prazer, ou o orgasmo no parto. E ainda assim, passando por todos os impedimentos, ter um parto prazeroso por muitas vezes é um acontecimento cercado de culpa e vergonha. O prazer feminino ainda é algo muito subversivo, digno de horror para muitos. O prazer feminino enquanto está parindo o filho – que é visto como algo sagrado ou um procedimento médico – é ainda mais assustador.”