Meu filho é muito bonzinho com todos. Como devo ajudá-lo a se impor mais
Especialista explica como os pais devem lidar com crianças que sentem dificuldade para se posicionar ou reclamar.
Meu filho de 6 anos é muito bonzinho e obediente. Só que, na escola, essa postura tem provocado dificuldades de se impor e gerado angústia. Ele se frustra quando os amigos não seguem as regras como ele. Quero ajudá-lo a ter equilíbrio (Pergunta enviada por leitora)
Crianças rotuladas como boazinhas recebem, em geral, menos atenção dos pais e da escola justamente porque não causam confusão. É um equívoco, segundo a psicóloga e terapeuta cognitivo-comportamental Anne Tarine Veloso, de São Paulo, pois elas precisam de um olhar igualmente diligente. “Não saber se posicionar ou reclamar pode significar dificuldade para expressar as próprias opiniões, o que acaba sempre gerando frustrações”, avalia. E guardar descontentamentos traz ansiedade. Pior: emoções mal administradas resultam em prejuízos significativos tanto na infância quanto na vida adulta. “Os pais devem conversar e abrir um espaço favorável para a criança contar sobre as relações e os conflitos com amigos, descrevendo as situações que a incomodam”, sugere a psicóloga Belinda Mandel¬baum, professora da Universidade de São Paulo.
Aproveite para mostrar a seu filho que o ponto de vista de todos tem peso igual e que ele não deve se desvalorizar nem se sentir acuado quando alguém discorda e o contradiz. É essencial apoiá-lo e incentivá-lo a encontrar soluções para se sentir autoconfiante em situações de enfrentamento. “A família e a escola exercem esse papel mediador”, completa Belinda. Portanto, marque uma reunião com professores e a coordenação para identificar as circunstâncias que têm provocado angústia nele. Se todos se unirem, terão mais condições de realmente ajudá-lo.
“Outra ferramenta para desenvolver o autoconhecimento e a autonomia são os livros infantis”, sugere a pedagoga Camila Cerqueira, professora do departamento de educação infantil do Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação da Universidade Federal de Goiás. Recorrendo a personagens com os quais a criança se identifica facilmente, eles abordam de forma lúdica temas espinhosos, como solidão, medo e bullying. Podem, então, ser um grande auxílio nos casos de dificuldade em se impor e lidar com as emoções.
Lembre-se de que obedecer às regras é um comportamento adequado – e, claro, não precisa ser combatido. O problema surge quando a criança se submete a imposições de todo tipo indiscriminadamente. “Seguir as ordens dos pais e da escola é normal e esperado, mas a relação entre amigos não deve ser hierárquica”, diz Belinda. Se isso ocorrer, seu pequeno se sentirá inferior aos colegas e poderá até se colocar no papel de vítima. A psicóloga acrescenta que, nessa idade, é comum haver situações em que um quer mandar no outro, o que torna a autoconfiança ea capacidade de se defender ainda mais essenciais.
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