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Manifesto contra a felicidade

"É preciso sentir plenamente as dores: das perdas, do luto, do fracasso. Eu acho um tremendo desastre esse ideal de felicidade que tenta nos poupar de tudo o que é ruim"

Por Bruno Maciel (colaborador)
Atualizado em 21 jan 2020, 21h28 - Publicado em 11 jun 2015, 11h15
Reprodução / grumpycats.com (/)
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Este manifesto é destinado a você. Você, que está correndo atrás da felicidade. Ou então a você, que vive se perguntando por que veio ao mundo. Ou mesmo você, que está esperando seu sonho se realizar para se sentir…. bem… realizado. Também a você que está esperando o próximo fim de semana. Você, que olha para os lados e só vê gente bonita e sorridente desfrutando de seus relacionamentos perfeitos e de suas contas bancárias recheadas.

Você não está sozinho. Sim, existem milhões de pessoas na mesma situação. Milhões de pessoas sentem esse mesmo desconforto, essa necessidade de sempre ter mais do que se tem, essa necessidade de “progredir” incessantemente na vida. E, para complicar, há grandes chances que algumas dessas pessoas olhem para você e almejem o que você tem e a sua “felicidade”. Você batalhou na vida, tem sua família, paga suas contas, tem carro, casa própria e, ainda assim, sente falta de algo mais. Porque ainda não se sente feliz? O que está errado então?

A bem da verdade, ninguém sabe o que é ser feliz! Habituamo-nos a correr atrás de algo que não sabemos o que é. Ninguém nunca chegou lá, naquele estado de felicidade constante onde os problemas não existem! No entanto, enganamos a nós mesmos procurando algo que nunca vai existir. Não há como atingir a plena felicidade, saciar todos os sonhos. Isso quer dizer que necessariamente você vai se frustrar, vai se deparar com a realidade, e vai ter que vivenciá-la do jeito que ela é: imperfeita, inconstante, demandante e verdadeiramente sincera.

Dificuldades são necessárias

Qual o problema de ter problemas? Nenhum, todo mundo tem. De um lado ou de outro, agora, no passado ou no futuro…todos têm problemas. A graça da vida é saber lidar bem com eles, de forma madura, sensata e tirando o máximo proveito deles. Sim, tirar proveito dos problemas é mais que possível, é desejável e recomendável…

Outro dia, uma amiga me presenteou com um texto, na verdade uma entrevista, com o psicanalista Contardo Calligaris. Caiu como uma luva para o momento em que estou vivendo. “Felicidade é uma ilusão mercadológica”, diz o psicanalista. Ainda segundo Calligaris: “É preciso sentir plenamente as dores: das perdas, do luto, do fracasso. Eu acho um tremendo desastre esse ideal de felicidade que tenta nos poupar de tudo o que é ruim”. Não que nunca tenha ouvido nada parecido, ou mesmo que nunca tivesse eu mesmo pensado no assunto, mas não deixa de ser encorajador perceber que meu ponto de vista está em sintonia com de outras pessoas.

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Acho que seríamos todos mais felizes se não estivéssemos preocupados em ser felizes o tempo inteiro. Essa pressão pelo sucesso, pelas conquistas, pela perfeição acaba por nos trazer justamente o contrário. Calligaris foi preciso ao afirmar que “mais do que buscar permanentemente felicidade máxima, um arrebatamento mágico, deveríamos nos preocupar em tornar interessante nossa vida de todo dia. Temos de tornar cada uma de nossas escolhas interessante”. Mas, detalhe, “isso só é possível quando temos simpatia pela vida e pelos outros”, diz ele.

Decidimos, Melissa e eu, dar um passo rumo ao desconhecido, largando nosso mundinho em Brasília e explorando a vida num país diferente. Queremos construir uma história que nos deixe satisfeitos e, quem sabe, nos permita inspirar outras pessoas a fazerem o mesmo. Afinal, se todos vivêssemos melhor, a vida por si só já seria mais proveitosa. E, para ter uma vida interessante, encontramos uma receita que tem funcionado extremamente bem: sair da zona de conforto.

Acreditamos que seja possível levar uma vida com mais satisfação e sentido. Acreditamos que podemos e devemos ser fiéis a nós mesmos, aos nossos sonhos e desejos. Para tanto, não é preciso largar tudo e se mudar do país. Não precisa nem mudar de emprego, se não quiser ou puder. Mas é preciso fazer algo… é preciso fazer diferente, é preciso enfrentar o medo, arriscar. Desconstruir e construir. É preciso arriscar a perder no processo de buscar algo melhor para si.

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Criamos o blog Vida Borbulhante para compartilhar nossa “receita” para ter uma vida interessante: ousar, experimentar o diferente, atrever-se a tentar algo novo, sair da rotina… seja no ambiente de trabalho ou no familiar, seja com seus relacionamentos ou consigo mesmo. Temos, a cada dia, nos fortalecido com essa pequena mudança de postura diante da vida.

Convocamos a todos os que leram essas linhas até aqui a se juntarem a esse movimento. Queremos viver em um mundo onde seja permitido se perder, errar, e tentar até acertar. Queremos desafiar nossos desafios em busca de uma vida mais plena. Queremos viver uma vida bem vivida. Não queremos ser poupados dos problemas, queremos crescer com eles. Queremos estabelecer conexões, valorizar nossa vida e a de quem estiver próximo. Queremos uma vida onde, além da felicidade genuína, outros sentimentos e emoções estejam presentes, e que sejam valorizados, pois entendemos que eles constroem e fortalecem nosso ser. E se, finalmente, encontrarmos a felicidade numa esquina qualquer, bem, talvez não tenha sido obra do acaso. Que ela seja eterna enquanto dure.

 

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Matéria publicada em brasilpost.com.br

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