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Mais felizes do mundo, mães finlandesas colocam seus bebês para dormir em caixa de papelão

O que temos a aprender com a simplicidade escandinava

Por Ludmila Vilar (colunista)
Atualizado em 21 jan 2020, 19h13 - Publicado em 3 set 2015, 12h55
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Há alguns dias, uma foto na minha timeline me chamou atenção. Num primeiro momento, achei que fosse de uma festa de casamento. Na imagem aparecia uma mesa decorada, onde havia bolo de dois andares, flores e muitos docinhos em embalagens que também se pareciam com as que envolvem doces de festa de casamento. Só que, em cima do bolo, ao invés dos dois costumeiros bonequinhos representando um casal, tinha apenas um, de uma criança. “É chá de bebê”, entendi. E que chá de bebê.

Havia um certo exagero nele, o que me fez refletir: é preciso tudo isso para receber uma criança? Justo elas que necessitam basicamente de amor, cuidados e diversão para serem felizes? Foi então que me lembrei do exemplo da Finlândia.

Na década de 30, o país tinha uma taxa de mortalidade infantil considerada alta: a cada mil bebês que nasciam vivos, sessenta e cinco morriam. Hoje, a Finlândia tem um dos menores índices de morte de crianças do planeta e no ano passado foi considerado o melhor lugar do mundo para ser mãe, de acordo com a pesquisa State of the World´s Mother, divulgada pela ONG Save the Children. Em seguida vieram Suécia e Noruega. O Brasil ficou em 76º lugar, atrás de vizinhos como Peru e Equador. O pior lugar nesse ranking é a Somália, que ficou em 178º.

Como a Finlândia deu um salto tão grande em um quesito tão fundamental para o bem-estar humano? Uma série de fatores levaram o país a isso, mas especialistas consideram fundamentais os acontecimentos da década de 30. Além de introduzir os cuidados do pré-natal, em 1938 as famílias de baixa renda começaram a receber do governo um kit maternidade, que incluía roupas (e ainda inclui), saco de dormir, produtos de banho, fraldas, lençóis, cobertas e um pequeno colchão. Tudo isso vinha dentro de uma caixa de papelão, que também funciona como um pequeno berço, quando se coloca o colchão dentro dela.

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Na década de 40, o kit passou a ser distribuído para todas as famílias. Segundo dados já divulgados pela BBC, hoje em dia as mães podem optar entre ele e uma ajuda financeira de cerca de R$ 550 por mês. Noventa e cinco por cento delas, no entanto, prefere o kit. Assim, nascer e dormir numa caixa de papel virou uma tradição finlandesa e um símbolo de igualdade para as crianças, que tem as mesmas condições no início da vida (no Brasil, alguns programas públicos disponibilizam kits maternidade para usuários do SUS).

A Finlândia é um dos cinco países (além da Islândia, Suécia, Dinamarca e Noruega) que formam a Escandinávia, região no norte da Europa. Do ponto de vista social, essas são as nações mais ricas do mundo. Isso quer dizer direitos como educação, saúde e moradia de alta qualidade acessível da mesma maneira para toda a população. Mais do que isso, quer dizer, entre outras coisas, igualdade de gênero (a Islândia é considerada o melhor lugar do mundo para ser mulher) e uma ampla atenção às crianças.

Outro denominador comum entre as nações escandinavas é o estilo de vida simples. Os berços de papelão da Finlândia falam por si só, mas só para citar outro exemplo: na capital da Dinamarca, em Copenhagen, até funcionários do alto escalão do governo vão de bicicleta para seus gabinetes. Em outras palavras, essas são sociedades onde quase ninguém tem muito e quase todos têm o suficiente para uma existência bastante confortável.

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A realidade brasileira é tão oposta da escandinava que se um extraterrestre conhecesse aqui e lá certamente acreditaria se tratar de dois planetas em pontos bem distantes da galáxia. Nossas histórias, nossa mentalidade e, por consequência, nossas escolhas são diferentes – uma mãe brasileira de classe média ou classe média alta aceitaria que seu bebê dormisse num caixa de papel? Creio que não.
 
Ainda assim, parece que a simplicidade à escandinava, aleluia, é um valor, que tem começado a ser entendido por aqui. Em São Paulo, onde moro, a população parece estar, por exemplo, no início de uma história de amor com os espaços públicos. As pessoas finalmente começaram a entender que, no geral, estar de graça e ao ar livre é melhor do pagar para estar dentro de um lugar.

Em alguns bairros, é comum ver hoje festinhas de crianças nas praças ou piqueniques de adultos no parque. Até mesmo baladas têm acontecido nas ruas. Este ano tivemos o que eu considero meu primeiro Carnaval paulistano, com direito a trio elétrico e tudo no bonito centro da cidade. E, veja, até o famoso e feio Minhocão virou espaço para passear de bike, curtir uma feira gastronômica ou ir a uma festa junina.
 
Todo esse movimento, que leva em conta uma vida mais simples, já foi captado inclusive por profissionais de marketing e publicidade. Eles estão trabalhando o pressuposto de que para os millennials uma boa experiência vale mais do que um bem de consumo.  No mínimo, uma ótima premissa para uma jornada feliz.

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