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Luiza Trajano: a rainha do varejo

A dona do Magazine Luiza sabe usar o carisma interiorano para os negócios

Por Patrícia Zaidan Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 26 out 2016, 11h07 - Publicado em 5 jun 2014, 22h00
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No palco, não tem para ninguém. Luiza Helena Trajano, 62 anos, é mais que a presidenta do Magazine Luiza, empresa com 744 lojas de eletrodomésticos, que faturou 10 bilhões de reais em 2013 e emprega 24 mil brasileiros. Em debates e palestras, ela entretém a plateia como pop star – na verdade, como uma mulher autêntica, que roda a baiana na feira ou em reuniões com a nata do empresariado nacional. Rapidamente, seu sotaque de Franca (SP) cria identidade com quem nasceu no interior ou em qualquer rincão distante.

O público se diverte com as ironias e metáforas engraçadas que ela usa para explicar a economia e as coisas simples da existência e vem abaixo quando a ouve dizer: “Vou contar uma fofoca”. Ela faz a introdução para comentar algo sobre o mundo dos negócios, da política ou da vida privada. Em geral, não revela nenhuma negociação de bastidor, nenhum grande segredo.

Do palco até o carro, Luiza demora de 30 a 40 minutos. Baixinha, 14 quilos mais magra (graças à reeducação alimentar iniciada há três meses, que vinha adiando desde a cirurgia bariátrica, feita em 2011), a empresária posa para fotos, autografa e recebe presentes. Os mimos seguem para a sede do Magazine, na zona norte da capital paulista, prédio com paredes de vidro onde os funcionários veem uns aos outros trabalhando. Incluindo Luiza, que entrou no negócio da família aos 12 anos.

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Quando saiu de Franca para São Paulo, foi facilmente aceita pelos empresários?
Eu não falo inglês, fiz direito na minha cidade, não estudei no exterior, como muitos deles. Achavam cafona tudo que eu realizava. Reunia – e ainda reúno – os funcionários às segundas-feiras para uma conversa e para cantar o Hino Nacional. Era brega. Mas não me senti vítima de preconceito nem inferior aos outros empresários. Também não mudei meu jeito. Hoje recebo visitas de executivos que querem ver como é o rito da segunda-feira.

O aprendizado veio de onde?
Minha tia Luiza fundou a empresa no interior em 1957. Ela é uma mulher de 87 anos que só tem o curso primário e, desde o começo, praticou a inclusão e o respeito pela diversidade sem usar essas palavras. Ela perguntava ao setor de recursos humanos: “Por que vocês só contratam a moçada? Cadê as mulheres mais velhas, os negros?” Entendi que varejo é povo, simplicidade, precisa de todo mundo junto. Nunca me baseei só na teoria. Frequento as favelas de Paraisópolis e Heliópolis, as duas maiores de São Paulo, e vejo como a vida funciona. Paraisópolis tem mais de 8 mil empreendedores, projetos culturais, artistas plásticos maravilhosos, e o dinheiro está circulando. Mas, em geral, o que falam das favelas é que elas estão entre tiroteios e mortes.

A que atribui a sua popularidade e liderança?
Nunca vejo o lado vazio do copo, mas o lado cheio. As pessoas estão cansadas de quem só enxerga as coisas com negatividade. Torcer pelo fracasso do país não dá mais ibope. Quando ouço: “O Brasil está ruim, o governo não funciona”, eu respondo: “Pare de chorar. Vamos fazer uma agenda propositiva que as coisas melhoram”. Mas não gosto quando dizem que sou otimista demais. Eu sou realista. Mostro números. A fase é de pleno emprego. Em 2002, havia 10 milhões de desempregados; no ano passado, caiu para 4,9 milhões. Emprego e renda movimentam a economia. Nas palestras, não falo do Magazine. Estimulo as pessoas a acreditar e a empreender, não fico cuidando do meu quintal.

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De certa forma, cuida: mais gente na economia significa mais lucro para o varejo.
Lucro é uma coisa que se tem hoje e amanhã não se tem mais. Busco um lucro sustentável. Fizemos o Minha Casa Melhor, programa em que o governo empresta para 3,75 milhões de famílias do Minha Casa Minha Vida o valor de 5 mil reais para a compra de eletrodomésticos e móveis. O varejo cedeu em preço; o imposto (IPI) da máquina de lavar caiu de 20% para 10%. Foi bom para todos. Estamos formando novos consumidores. E o índice de inadimplência é mínimo. Como não tinham histórico de crédito e passaram a ter, querem manter o nome limpo. O crédito para eles é sagrado, ter uma casa e sonhar com uma TV é sagrado.

A senhora fala como se fosse do governo. Pensa em disputar uma eleição?
Não sou do governo. Acho que o país tem custo elevado, muitos impostos, mas posso ajudar. A nação está nas mãos de quem faz acontecer. Como líder, tenho essa consciência e exercito a política sem partido. Defendo cotas para as mulheres nos conselhos administrativos das empresas, onde somos apenas 7%. Se deixar como está, vai demorar 100 anos para termos 12%. Nosso projeto é atingir 14% em dois anos. Cotas são um processo transitório para acertar desigualdades. É preciso haver legislação para tudo isso. E, como cidadã que paga impostos, cutuco os políticos.

Num debate com suas amigas Chieko Aoki, fundadora da rede de hotéis Blue Tree, e Sônia Hess, presidenta da Dudalina, a senhora mostrou que networking é vital para a carreira. É válido misturar amizade e negócios?
Por que não? A gente faz negócios com ética e honestidade. São valores que combinam com amizade. Não abusamos. Mas, se posso comprar delas e elas de mim, qual é o problema? Chieko fez sua empresa enquanto o marido estava doente. Sônia precisou se destacar entre 15 irmãos para assumir a liderança. Ela enfrentou um câncer e a quimioterapia sem fraquejar. A gente se ajuda, troca figurinhas. Recentemente, a empresa dela foi comprada por fundos de investimentos americanos, que a mantiveram no cargo. Eu brinquei: “Minha amiga, fica esperta com os fundos. Eles parecem bonzinhos, mas quando a coisa aperta…” Chieko e eu viramos kit. Sempre juntas. Onde vou perguntam por que não levei a Chieko. Com ela acontece o mesmo. Como nós duas somos viúvas, saímos, jantamos, viajamos. Mas nunca serei elegante e chique daquele jeito.

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Chieko contou ao público que a senhora faz os convidados lavarem a louça no seu rancho, à beira de uma represa em Minas Gerais.
Comecei quando meus filhos, adolescentes, levavam os colegas para lá. Não é porque temos caseiros que vamos deixar tudo revirado. Acabou virando tradição. Uma amiga me deu uma máquina de lavar pratos, dizendo: “É para você não colocar todo mundo na pia”. Não instalei. Ia acabar com um costume tão gostoso?

Como a senhora administrou a viuvez?
Meu marido morreu há quatro anos e até hoje Deus não me explicou direito. Ele estava saudável, voltávamos de uma viagem e ele entrou na piscina. Ao sair, sofreu um aneurisma. Só não caí em depressão porque não parei de trabalhar. Tenho cadernos em que escrevo para Deus. Não sou religiosa, mas ali converso com ele.

Foi um casamento sempre feliz?
Uma história de 35 anos. Ficamos separados por quatro: eu achava que não havia namorado o suficiente, me casei virgem aos 23 anos. Ele entendeu. Mas voltamos porque havia muita coisa em comum. Meu marido tinha o próprio negócio, com fazenda e posto de gasolina, e nunca me atrapalhou na carreira – pelo contrário, apoiou. E eu não tirei o masculino dele ou a força de pai na educação dos filhos.

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A senhora é do comitê que prepara a Olimpíada de 2016. Tem medo de um clima hostil como o que precede a Copa?
Minha área não cuida de obras, mas do evento em si. Serão gastos 7 bilhões de reais e já conseguimos patrocinadores para isso. Estou lutando por um marketing educativo. Assim, o povo entenderá a importância do evento e não haverá rejeição, como ocorreu com a Copa do Mundo. Aliás, só mostram o lado ruim da preparação. O evento vai ser muito bom para nós. Fui à África do Sul, como convidada, para assistir à Copa. Jamais teria ido para lá se não fosse o Mundial. Fiquei encantada com o país e pretendo voltar para levar os meus netos. Muita gente sentirá o mesmo ao conhecer o Brasil.

Como descansa de todas as suas lutas? A senhora gosta de vinho, de festas?
Meu maior defeito é não beber. Eu até tento um chopinho, um vinho e não consigo. Meu avô foi alcoólatra e isso me traumatizou. Eu tinha 8 anos e ia buscá-lo no bar. A família sofreu muito. Mas acho chato eu não beber. A gente precisa tomar um pilequinho de vez em quando. Fiz curso de dança de salão, mas só sei dançar com o meu professor. Como ele mora em Franca, fica difícil carregar a tiracolo para as festas.
 

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