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Josh Levs: “A licença para cuidar dos bebês deveria estar disponível para ambos os pais”

O jornalista americano Josh Levs saiu a público para dizer que, sim, homens também têm conflitos com o equilíbrio entre a vida pessoal e o trabalho. E que adorariam passar mais tempo em casa, com os filhos – e todos os expedientes da rotina doméstica

Por Tatiana Schibuola
Atualizado em 12 abr 2024, 11h23 - Publicado em 10 jun 2016, 13h23

Duas semanas. Era esse o período da licença-paternidade remunerada que a rede de tevê CNN, do grupo Time Warner, oferecia a seus funcionários do sexo masculino em 2013. Às vésperas do nascimento de sua terceira filha, o jornalista americano Josh Levs decidiu que gostaria de ficar em casa as mesmas dez semanas que suas colegas do sexo feminino para participar dos primeiros cuidados com o bebê ao lado de sua mulher. Ao questionar o RH, ouviu que nenhum futuro papai tinha requerido o benefício antes. Recorreu ao CEO da empresa, irredutível. Então resolveu processá-la, ainda sem efeito. Mesmo após o nascimento prematuro da caçula, o que só aumentava a necessidade de dedicação intensiva, ele precisou voltar ao trabalho no prazo estipulado. O que ocorreu a seguir foi uma surpreendente onda de solidariedade. Ao expor o caso em seu blog, recebeu o apoio de muitos colegas e setores da sociedade. O tema foi levado às primeiras páginas dos jornais e às mesas de debate nos programas de tevê. E então Levs percebeu quanto os homens têm se sentido sozinhos e deslocados das discussões sobre equidade de gênero e paternidade. No ano passado, lançou o livro All In (em tradução livre, “Todos dentro”, sem previsão de lançamento no Brasil) e finalmente deixou o emprego. Tornou-se referência no assunto: foi eleito pelo jornal americano Financial Times um dos dez maiores feministas entre os homens. E recebeu da ONU Mulheres o título de Campeão Global da Equidade de Gênero. Ele falou a CLAUDIA, com exclusividade, sobre licenças remuneradas, pais estereotipados na mídia e, sim, sexo depois que os filhos nascem.

Em seu livro, você diz que as leis, as políticas corporativas e as expectativas acerca dos gêneros no ambiente de trabalho parecem saídas de 1950. Pode nos dar exemplos?

As leis empurram as mulheres a ficar em casa e os homens no escritório. Muitas nações dão às mulheres mais tempo de licença remunerada que aos homens. Por quê? Claro, a mulher precisa se recuperar fisicamente após o parto. Mas homens e mulheres são igualmente capazes, tanto em casa quanto no trabalho.

Para tornar os homens uma parte da batalha pela equidade de gênero, é essencial que sejam incluídos na conversa. Em sua opinião, o que faz com que não se sintam parte da questão?

Infelizmente, muitos homens aprenderam cedo a não se envolver nessas discussões. Eles conscientemente ficam quietos. Muitos caras que entrevistei disseram que tinham medo de ser criticados por falar abertamente sobre equilíbrio entre vida pessoal e trabalho – como homens, eles desfrutam de certo privilégio de gênero; então, reclamar sobre suas lutas poderia parecer insensível para as mulheres. Outros disseram que não se sentiam bem-vindos nessas discussões.

Lutar por equidade significa que os pais também terão de cuidar de crianças e da casa – o que pode ser mais estressante que um dia no escritório. Os homens realmente querem isso?

Sim! Estudos globais mostram que, de longe, os homens querem mais tempo com seus filhos. É claro que também dá trabalho, mas é o mais recompensador e divertido de todos.

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No Brasil, as mulheres têm licença-maternidade remunerada de quatro a seis meses; os homens, de apenas cinco dias. Em algumas empresas, o prazo foi estendido para 20 dias. É suficiente?

Essas políticas estão longe da modernidade. A licença para cuidar dos bebês deveria estar disponível para ambos os pais. Pior é que, mesmo quando existe, a licença-paternidade não é utilizada. Países do norte europeu criaram cotas para pais – períodos de dispensa só para eles. Pode ser fácil recusar algumas poucas semanas de licença ou escolher que a mulher fique com todo o prazo disponível para os dois. Mas por que alguém recusaria meses de licença remunerada se não houvesse como transferi-la à parceira? Isso muda a cultura. As crianças crescem vendo tanto pais quanto mães tomando conta delas em casa.

+ LEIA MAIS: “A licença-maternidade é curta perto do talento da profissional”, diz Joanna Monteiro, CCO da FCB Brasil

Alguns defendem que, especialmente nos primeiros dias do bebê, o homem não teria função. Qual o papel do pai durante a licença?

Nós podemos fazer tudo, exceto amamentar! Algumas mulheres escolhem tirar o leite. E outras famílias optam por suplementar com uma fórmula. Em todos esses casos, o homem também pode alimentar o bebê. A ciência comprova que existem benefícios tremendos a longo prazo para crianças que têm essa ligação com o pai. E, quando os dois pais têm a chance de estar por perto desde os primeiros dias da vida de um filho, desenvolvem a mesma confiança e habilidade, o que leva a mais paridade ao longo de toda a infância.

Você deixou seu emprego no ano passado. Isso teve algo a ver com o fato de ter acionado judicialmente a empresa em que trabalhava ao lutar por seu direito à licença?

Eu escolhi deixá-lo. Desde o lançamento do livro, sou convidado para conferências em empresas, agências governamentais, universidades. Ainda assim, eu sabia que estava arriscando meu emprego. Mas o esforço foi válido. Recentemente, a Time Warner revolucionou sua política de benefícios, tornando-os melhores para homens e mulheres.

Você diz que os homens que escolhem cuidar da casa e dos filhos sofrem preconceito. Da sociedade, que questiona sua masculinidade. Das empresas, que produzem anúncios em que os pais são mostrados como patetas. Como ajudá-los?

Estereótipos retrógrados ensinam a meninos e meninas que homens são menos capazes de tomar conta. E há uma certa “patrulha feminina”. Acontece quando as mulheres dizem: “Não, querido, não é assim que se troca o bebê; não segure o bebê desse jeito etc.”. Por outro lado, vale notar que alguns anunciantes começam a fazer um bom trabalho com campanhas que mostram imagens positivas de homens cuidadores.

Seu livro traz um capítulo especial sobre como cuidar dos filhos afeta a vida sexual. Precisava?

(Risos) Uma matéria equivocada, publicada no The New York Times, dizia que equidade em casa resultava em menos sexo: uma ideia ridícula de que mulheres querem dividir as tarefas igualmente, mas, na cama, preferem um pouco mais do machismo tradicional. Tenho pesquisas recentes que provam que igualdade nas tarefas domésticas não leva a ter menos sexo. Nem mais.

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