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Já fui gay, hoje sou evangélico e pai de família

Eu usava até biquíni, mas me arrependi da vida que tinha e voltei a ser macho

Por Redação M de Mulher
Atualizado em 21 jan 2020, 10h02 - Publicado em 17 dez 2008, 21h00
Líliam Cunha (/)
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A cada dia, eu ficava mais à vontade com 
meus amigos gays. Eles me apelidaram 
de Ricardete, nome que passei a usar 
no dia-a-dia
Foto: Líliam Cunha

Aos 8 anos, tive certeza de que era homossexual. Enquanto meus amigos brincavam de carrinho, eu me divertia mesmo com as bonecas. Foi nessa época também que comecei a dançar imitando a cantora Gretchen. Apesar de sempre me mandar parar de dançar — sem eu nunca ter obedecido —, minha mãe não desconfiava da minha homossexualidade.

Aos 19 anos, fui com meus pais morar em Nazaré. A partir daí, passei a andar com gays e a freqüentar as casas deles. Ainda assim, minha mãe não acreditava que eu fosse homossexual.

Um dia, meu irmão disse a ela que achava que eu era gay. Um jovem que freqüentava a mesma igreja que minha mãe contou que havia me visto na casa de um rapaz gay. Nesse dia, meus pais tiveram a certeza de que eu era homossexual.

Já era madrugada quando cheguei em casa, mas minha família estava acordada, me esperando. A hora da verdade tinha chegado. Meu pai veio para cima de mim e perguntou se eu era gay. Eu disse que não. Ele começou a me bater, dizendo: “Você é gay, você é gay”. Depois dessa surra, resolvi assumir de vez minha homossexualidade. Com o tempo, eles foram se acostumando e tiveram de me aceitar, mesmo sem concordar.

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Comecei a ser chamado de Ricardete

A cada dia, eu ficava mais à vontade com meus amigos gays. Eles me apelidaram de Ricardete, nome que passei a usar no dia-a-dia. Decidi, então, transformar meu corpo. Fiz aplique no cabelo e comecei a usar onociclo injetável. Esse hormônio feminino estimula o desenvolvimento em homens de características femininas, como seios e bumbum maiores.

Assim que os meus peitos começaram a se desenvolver, passei a ir à praia de biquíni. Minha mãe insistia para que eu freqüentasse a igreja evangélica. Mas, apesar de eu sempre ter alimentado o temor a Deus, não O aceitava.

Fiz uma cirurgia para retirar os seios

Com 31 anos, resolvi cortar meu cabelo. A partir daí, comecei a me sentir estranho. Eu me olhava no espelho e ficava incomodado com o contraste entre o meu rosto masculino e meu corpo afeminado. Foi então que começou a minha transformação. Cinco dias depois de cortar o cabelo, decidi que faria uma cirurgia para retirar os seios. Como não podia arcar com os custos da operação, resolvi pedir ajuda ao então prefeito, Clóvis Figueiredo

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Ele me deu um bilhete para que eu entregasse ao médico de um hospital filantrópico em Salvador. Marquei a cirurgia para 20 de agosto de 2007.

Passado o período de resguardo, retornei a Nazaré. Um amigo me visitou e quis me apresentar a cunhada dele, Débora. Eu e ela nos tornamos amigos.

Um dia, ela foi até minha casa e ficamos conversando no meu quarto. Ela me disse: “Pense em Deus, pois você é homem, Ricardo”. Mas o “inimigo” botava em minha boca que não, que eu não iria conseguir. E Débora me falou mais uma vez: “Pense em Deus e feche seus olhos”.

Então, fechei os olhos, e nós transamos. Foi a minha primeira relação sexual com uma mulher. Desde então, só me relaciono com ela.

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Quando eu era gay, não conquistei nada

No dia seguinte, minha mãe nos convidou — eu e Débora — para irmos à igreja com ela. Eu não queria, mas acabei aceitando o convite. Ao chegarmos lá, o Espírito Santo de Deus se manifestou por intermédio da pastora Edna. Ele me disse o seguinte: “Aqui, existe um jovem que Deus está transformando hoje. Venha e O aceite como o único salvador da sua vida”.

Ao escutar essas palavras, resolvi aceitar Deus e me converti. Ele entrou com a providência em minha vida. Quatro meses depois, eu estava casado, certo de que não me sentia mais atraído por homens.

Tanto que, hoje, meu desejo é somente pela Débora. Quando olho para o passado, eu me arrependo de tudo que vivi. Agora, estou feliz reconstruindo a minha história.

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Minha mulher está à espera do nosso primeiro filho, que se chamará Sara ou Samuel. Deus me permitiu ganhar um sorteio de um cartão de crédito. Com o prêmio, comprei uma casa, uma moto e arrumei a nossa vida.

Hoje, sou uma pessoa feliz. Eu e minha esposa somos servos do Senhor. Antes, eu vivia de ilusão. É só comparar: em onze anos, eu não havia conquistado nada, e até aqueles que se diziam meus amigos se afastaram.

Agradeço a Deus pela mudança. Agora tenho tudo e valorizo cada uma das minhas conquistas. Deixei a profissão de cabeleireiro. Vivo de pequenos bicos e também da renda do prêmio que recebi do cartão.

‘‘Ele não vai se interessar por homens nunca mais’’

Débora Hevelin da Cruz da Luz, 22 anos, esposa do Ricardo

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“Na época em que conheci o Ricardo, eu achava que ele tinha um caso com o meu cunhado. Falei da minha desconfiança, mas o Ricardo negou. Tornei-me amiga dele. Nós saíamos juntos para festas e bares.

Eu namorava um colega dele, que, na verdade, não gostava de mim. Ricardo me dizia que ele só queria brincar comigo. Acho que ele começou a gostar de mim aí. Um dia, ele me convidou para a festa de aniversário dele, e me dei conta de que estava apaixonado por mim.

Estranhei um pouco, pois ele era gay. Fiz um teste: mandei recados no celular dizendo que o amava. Um dia, fui à casa dele e o chamei para conversar no quarto. Pedi para ele fechar os olhos e deixar rolar. No dia seguinte, resolvemos ficar juntos.

Nos convertemos à igreja que a mãe dele freqüentava e, quatro meses depois, casamos. Fizeram e ainda fazem comentários sobre nossa relação na rua em que moramos, mas não ligamos. A melhor resposta é nosso filho, fruto do nosso amor, que veio para selar a nossa união.

Confio no meu potencial e tenho certeza de que, hoje, o interesse dele é por mim. Sei que ele não sentirá vontade de se envolver com homens. Eu estou satisfeita com tudo que ele me oferece como homem e marido. O passado dele ficou para trás. Nós estamos vivendo o presente e o futuro.”

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