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Faça as escolhas certas sem sentir culpa

Tudo ao mesmo tempo. Esse tem sido o mantra feminino, abarcando cada vez mais responsabilidades. Como gênero, é disso que precisamos: ocupar todos os espaços. Como indivíduos, porém, podemos fazer escolhas - sem culpa nenhuma

Por Redação M de Mulher
Atualizado em 16 jan 2020, 02h44 - Publicado em 31 mar 2013, 21h00
Reportagem: Patrícia Affonso - Edição: MdeMulher (/)
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Está na hora de nos permitirmos fazer escolhas para ganhar qualidade de vida
Foto: Getty Images

Em menos de 100 anos, conquistamos direitos básicos, como poder votar. Entramos em massa no mercado de trabalho e nas universidades. E usamos a pílula anticoncepcional para planejar o tamanho da nossa família: a média de filhos dos casais brasileiros caiu de 6,16 filhos, em 1940, para 1,9 nos dias de hoje, segundo dados do IBGE. Tudo isso dizendo assim: “No trabalho, asseguramos aos patrões que seremos tão disponíveis quanto os homens. Em casa, garantimos aos maridos que nada mudará e que nem perceberão que agora temos horários, viagens, contas a prestar a um patrão”, como coloca a advogada e jornalista Rosiska Darcy de Oliveira (RJ) em seu livro Reengenharia do Tempo (Rocco). Ou seja, estabelecendo uma perfeição inatingível. E ainda falta fazer muito: no Senado, há apenas dez representantes do sexo feminino contra 71 do masculino. Na Câmara Federal, dos 513 deputados eleitos, 45 são mulheres. No cargo de presidente, as brasileiras são apenas 11% nas grandes empresas**. Ganhamos menos para atuar na mesma função que um colega homem. Fato: como gênero precisamos ocupar todos os espaços e trabalhar pela igualdade. Mas, como indivíduos, está na hora de nos permitirmos fazer escolhas para ganhar qualidade de vida. Aqui, pontos para pensarmos:

Menos perfeição

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Um padrão estético baseado no ideal irreal de modelos e celebridades está entre as maiores cobranças vivenciadas pela mulher moderna. “Um pouco disso se deve ao capitalismo, que afirma que precisamos seguir estereótipos, que muitas vezes não correspondem às nossas condições físicas e até financeiras”, diz a socióloga Jolúzia Batista. Mirian Goldenberg, que estuda a mulher há 25 anos, explica que diferentemente de outras nações, no Brasil, o corpo feminino é um capital valorizado ao extremo. “Os homens e as mulheres de outros países, como a Alemanha, valorizam mais outras aptidões (poder, charme, talento). Se formos compará-las com a beleza, fica claro que ela é o bem mais frágil, afinal, sofre a interferência constante do passar dos anos”, diz Mirian. O desafio, segundo ela, é cada pessoa cultivar um olhar mais individualizado e carinhoso sobre si mesma e aceitar cada fase da vida e os seus encantos. Esse despertar já está acontecendo. Um estudo publicado no periódico Proceedings of National Academy of Sciences apontou que o sentimento de felicidade se eleva gradualmente a partir dos 50 anos. Isso graças à diminuição dos fatores desencadeantes de stress e preocupações. Mais livre, a mulher madura vive uma rotina agitada, produtiva e usa o seu tempo para fazer novas descobertas. “Nunca envelhecemos com tanta saúde e possibilidades. O que falta para algumas mulheres é se desligar dos padrões estéticos e se permitir ser quem são”, finaliza Mirian.

Menos sobrecarga

“Definiu-se como igualitário um mundo em que as mulheres teriam “apenas” que continuar a fazer o que sempre fizeram, adicionando à vida delas afazeres até então reservados aos homens”, resume Rosiska Darcy de Oliveira (RJ) sobre a armadilha em que caímos, a de uma definição capenga de igualdade. O fato é que não dá para trabalhar em período integral, participar de todas as atividades dos filhos, cuidar dos pais idosos, dar atenção ao marido, frequentar a academia… tudo isso nas 24 horas de cada dia. “Os passos que a mulher deu em direção ao que desejava tiveram um preço alto. Parte da cobrança vem de nós mesmas, que ainda achamos que devemos cuidar da vida privada com a perfeição que nossas mães e avós cuidavam, apesar das novas atribuições. Outra parcela se deve ao mundo, que ainda é machista”, opina a coach executiva Bruna Gasgon, autora do livro As Equilibristas (Ed. Jardim dos Livros). “É como se muitos homens pensassem: ‘Vocês quiseram a mudança, agora aguentem’.” Para Rosiska, é imprescindível as empresas compreenderem que, assim como a mulher mudou, a sociedade e seu sistema de trabalho também precisam de alterações. E isso é possível graças aos avanços tecnológicos, que nos permitem maior produtividade em menor tempo e sem a necessidade de estar em determinado lugar. A autora defende a revisão da jornada, a flexibilização dos horários e dos locais de trabalho. “Tais mudanças deveriam ser disponibilizadas a todos: homens e mulheres, que se dividiriam também nas tarefas do cotidiano”, acrescenta Bruna. A coach diz mais: “A educação precisa acompanhar o processo, ensinando meninos e meninas a compartilharem tarefas. Se todos assumirmos nossa parte diante das responsabilidades, as coisas podem melhorar muito”.

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Menos desigualdades

Para entrar num universo que antes pertencia aos homens, a mulher teve que se esforçar e mostrar o seu valor. Para isso, não mediu esforços. A prova é que já somos a maioria da população brasileira com formação superior: 12% contra 10% da ala masculina, segundo dados do relatório Education at a Glance, publicado no ano passado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). Mas não parece ser suficiente. A instituição, formada majoritariamente por nações europeias, trouxe outro dado que mostra um descompasso na teoria da igualdade: as taxas de emprego das mulheres são menores que as dos homens, sem exceção, em todos os países participantes da pesquisa. “Ou podemos nos disponibilizar menos a elas, por causa de outras responsabilidades, como a criação dos filhos. Por isso, é tão importante que se cobre a criação de creches e escolas de qualidade”, diz Jolúzia. Há outros motivos para indignação: embora mais preparadas e ocupando os mesmos cargos que eles, ainda ganhamos menos. Segundo o IBGE, em 2011 o rendimento médio dos homens era de R$ 1857,60, enquanto as mulheres brasileiras ganharam cerca de R$ 1343,81. “É um erro do mercado enxergar que a renda da mulher é menos importante ou complementar. Pesquisas mostram que muitas de nós somos chefes de família. Minha sugestão é que todas as mulheres que vivem esse tipo de discriminação busquem auxílio dos órgãos responsáveis, como os sindicatos, por exemplo”, diz a socióloga. Mas, antes de tudo, é preciso olhar para dentro si mesma e identificar suas prioridades. “Muitas mulheres têm remuneração menor por preferirem cargos nos quais têm mais flexibilidade e, assim, mais tempo com a família. Não há problema nisso! A liberdade de escolha existe e deve ser feita sem culpa”, pondera a antropóloga Mirian Goldenberg, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Menos violência

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A cada duas horas uma mulher é morta no Brasil. O dado, do Mapa da Violência de 2012, comparou 87 países e constatou: dentre eles, somos o 7º que mais mata mulheres. O Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea) aponta ainda que a cada 15 segundos uma mulher é espancada por um homem no Brasil. Isso sem falar de outros tipos de agressão, como a sexual, a psicológica e a moral. “A maior parte dessa violência ocorre dentro de casa e por parte dos parceiros, pais, padrastos… Em pleno século 21, vivemos uma realidade em que muitos homens ainda acham que têm direito sobre o corpo das mulheres da sua família. E, mais do que isso, que têm direito sobre a vida delas”, diz Jolúzia Batista (DF), socióloga do Cfemea. A advogada e procuradora de justiça Luíza Eluf (SP) concorda e salienta que a violência contra a mulher sempre existiu em números assustadores. O que mudou é que hoje ela não é mais vista como algo “natural” e que deve ser resolvida dentro de casa, sem intromissão, como no passado. “Foram criadas políticas públicas para proteger a mulher, como a Lei Maria da Penha, que pune agressores do ambiente doméstico ou familiar. Além disso, a mulher está mais ciente dos seus direitos. Só que muitos homens reagem a isso de forma ainda mais raivosa e violenta”, diz Luíza. Para que os índices diminuam, a especialista só vê uma saída: denúncia e união. “A mulher não deve permitir que essas situações fiquem no anonimato. Além disso, sugiro que sejamos mais unidas. Juntas, somos mais fortes”, garante. É importante lembrar que qualquer pessoa pode fazer a denúncia para ajudar a reverter o quadro de violên­cia, já que na maioria das vezes a vítima se cala com medo das ameaças por parte do agressor e da pressão psicológica e econômica.

** Segundo Pesquisa do Wef (Fórum Econômico Mundial, na sigla em inglês)

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