Eu sou o Papai Noel mais tatuado do Brasil
Quem me vê de Bom Velhinho não imagina o que existe por trás da barba, naturalmente branca

Tinha um Lúcifer tatuado nas costas,
mas achei melhor cobrir com uma carpa.
Foto: arquivo pessoal
Meu primeiro trabalho como Papai Noel foi há exatos seis anos, em um shopping de São Paulo. Na época, uma equipe de TV quis fazer uma matéria sobre a transformação de um cara normal em Papai Noel. Fiquei preocupado. Afinal, eu tinha um Lúcifer tatuado nas costas, e isso não pegaria bem no meu bico como Bom Velhinho.
Quando começaram as filmagens, pedi para que não mostrassem aquela ilustração no ar. Toparam, mas continuei encucado. Falei com minha mulher e ela me aconselhou a cobrir a tal tatoo para evitar problemas em futuros empregos natalinos.
Nunca imaginei que um dia eu iria me preocupar tanto com o que minhas tatuagens pudessem representar para crianças… Aliás, se um dia me falassem que eu ganharia dinheiro como Papai Noel profissional, teria dado risada! Eu era diretor de arte em uma agência de publicidade. Essa ideia maluca só surgiu depois que posei de Bom Velhinho para um fotógrafo amigo, numa propaganda. A foto foi um sucesso e o cliente adorou!
Liberei meu corpo pra galera tatuar
No dia seguinte ao da filmagem, fui ao estúdio do Batata, um amigo tatuador, e pedi para ele cobrir a tatuagem do Lúcifer. Ele topou e me fez uma proposta: faria a tatoo de graça se, em troca, eu desse aulas de desenho pra ele. Sou formado em artes plásticas, aceitei na hora!
No meio do processo, o Batata teve a ideia de tatuar ainda mais o meu corpo sem cobrar nada. Bastava eu divulgar o trabalho dele. A notícia correu como pavio aceso entre os tatuadores. Que profissional não sonha em ter uma ”tela em branco” pra poder fazer o que quiser? Por isso, hoje tenho 90% do corpo tatuado e assinado pelos autores.
O problema é quando as crianças do meu bairro me reconhecem na rua como o Papai Noel do shopping… Alguns pais até evitam que elas falem comigo, por causa da minha aparência. Eu acho que eles têm medo de que eu incentive os jovens a ter o corpo todo marcado. Faço o contrário. Se me perguntam, digo que fazer tatuagem é caro e dói muito. Tomo cuidado para não deixar minha pele à mostra quando estou com a roupa vermelha do Papai Noel. Uso luvas e nunca aconteceu de uma criança notar os desenhos.
Portanto, mesmo todo tatuado, sou um Papai Noel e tanto. Me preparo para essa época do ano. Todo começo de dezembro clareio o meu cabelo num salão. Uma vez quase fiquei careca com o tratamento químico. Hoje dou risada, mas, com a cabeleira falha, perdi trabalhos.
Tatuagens natalinas
Foto: Arquivo pessoal
Ganho R$ 10 mil no mês de dezembro
Durante o resto do ano faço comerciais vestido de hippie ou de motoqueiro e também participo de feiras de tatuagem. Mas é como Papai Noel mesmo que faturo uma boa grana. Não tanto quanto alguns amigos meus, que chegam a ganhar até R$ 60 mil.
O pagamento varia muito. Depende do trabalho, que vai de desfile em shopping a campanha na TV. Quanto mais original de fábrica o Papai Noel for, mais ele ganha. A média que eu tiro nessa época é de R$ 10 mil. Nada mal, não?