O Snapchat já se provou um sucesso no mundo todo, mas, muito mais do que um passatempo para adolescentes, a ferramenta pode ser usada para um bem maior: ajudar vítimas de abuso sexual a contar as histórias delas e, dessa forma, conscientizar outras pessoas.
Yusuf Omar, um jornalista de 27 anos do Hindustan Times, da Índia, teve a ideia de entrevistar sobreviventes de violência sexual e documentar tudo com o aplicativo. A forma que ele encontrou para fazê-las falar sem medo de represálias ou de serem identificadas? Por meio dos filtros disponíveis!
As próprias garotas escolhiam como iriam aparecer. “Isso fez com que elas se sentissem empoderadas – parte daquilo. Elas estavam contando a própria história. Era uma selfie; estavam segurando o celular. Eu sequer apertei o botão gravar… Eram apenas as garotas olhando para elas mesmas nos olhos e falando sobre a pior coisa que aconteceu na vida delas”, contou o editor.
De acordo com ele, ninguém que passou por esse tipo de coisa gostaria de ter, por exemplo, várias câmeras e uma luz gigante apontada para o rosto. “Pela primeira vez, nós podemos ver alguém com a identidade preservada, mas com os olhos visíveis. Você pode ver a mandíbula se mexendo, as expressões da testa. É muito mais íntimo e quem assiste pode se relacionar com a história”, explicou ele.
As gravações aconteceram durante a primeira “Escalada Contra o Abuso Sexual” na Índia. A iniciativa, que já acontece em 17 outros países, é uma forma de inspirar outras pessoas a fazerem o mesmo, a falar. Segundo os organizadores, as montanhas são metáforas que significam superação – mental e física.
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Pior país para as mulheres
A iniciativa ganha ainda mais importância pela Índia ser considerada pela ONU o pior lugar (no grupo das vinte nações mais ricas do mundo) para uma mulher viver. Em média a cada 21 minutos acontece um estupro no país, de acordo com dados do Escritório Nacional de Crimes da Índia.
O sistema de castas, terrível divisão social ainda vigente, só faz piorar a situação já que, por exemplo, mulheres que não têm condições para pagar dotes matrimoniais são queimadas pela família do noivo em represálias. E nem as mudanças feitas recentemente na legislação, que ampliaram a definição de estupro, além de endurecer as penas, fizeram o efeito esperado: segundo dados do Governo em apenas 28% dos casos os agressores são punidos – sem mudança em relação aos anos anteriores.
Por isso, e por medo até mesmo dos próprios familiares, muitas vítimas de abuso sexual, infelizmente se calam. E o Snapchat está ajudando essas mulheres no processo de dividirem com os outros os horrores vividos.