Ela concorreu à presidência antes de as americanas poderem votar
Em 1870, a ativista Victoria Woodhull ousou ser a primeira mulher a concorrer à presidência no país.
Depois de terem realmente existido chances de a maior potência do mundo eleger uma presidente mulher, com Hillary Clinton em 2016, chega a ser difícil imaginar a realidade que a sufragista Victoria Woodhull encarou, nos Estados Unidos do século 19.
Cinquenta anos antes de as norte-americanas sequer terem o direito ao voto garantido por lei, a ativista já planejava sua campanha à presidência, no ano de 1870. Na época, muito além de não poderem votar, as mulheres não podiam entrar em restaurantes ou em qualquer estabelecimento comercial sem estarem acompanhadas de um homem.
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Dá para começar a imaginar, com isso, o tamanho da confusão que Woodhull causou ao enviar ao New York Herald uma carta com os seguintes dizeres:
“Eu estou perfeitamente ciente de que, ao assumir esta posição, em um primeiro momento vou evocar mais ridicularização do que entusiasmo, mas esta é uma época de mudanças repentinas e de surpresas impressionantes. O que pode parecer um absurdo, hoje, terá um aspecto sério amanhã“. Maravilhosa, né?!
Dois anos mais tarde, ela foi anunciada como a candidata oficial do Equal Rights Party (Partido dos Direitos Igualitários, em tradução livre), que ajudou a fundar. A partir daí, sua vida virou um verdadeiro pesadelo.
A sociedade e a imprensa da época viam Woodhull como o demônio – literalmente. A seguinte caricatura, feita por Thomas Nast e publicada na revista Harper’s Weekly, é de 1872:
De acordo com Kate Havelin, autora de “Victoria Woodhull: Fearless Feminist” (“Victoria Woodhull: Feminista Destemida”), até mesmo a filha de 11 anos da candidata, Zula, sofreu com a represália e precisou sair da escola – já que os outros pais não queriam a menina “influenciando” seus filhos.
Antes das eleições, a candidata chegou a ser presa por denunciar os vários relacionamentos amorosos do padre Henry Ward Beecher. Ela passou, inclusive, o dia da eleição na cadeia.
Apesar de todos os absurdos pelos quais ela passou, o jornal que deu espaço para que Woodhul publicasse aquela carta em 1870 publicou um artigo, no mesmo ano, defendendo a ativista de tantos ataques.
“A Sra. Woodhull se oferece em aparente boa-fé como candidata e talvez tenha uma impressão remota, ou melhor, uma esperança de que possa ser eleita. Mas parece que ela está além do seu tempo. O senso comum ainda não está educado o suficiente para a chegada dos direitos universais das mulheres“, dizia a coluna. Infelizmente, eles estavam certos.