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“É uma missão de vida”, diz Christiane Pelajo sobre cobertura da Covid-19

Em entrevista a CLAUDIA, ela fala sobre a nova rotina profissional e sobre a importância do jornalismo em tempos de crise

Por Colaborou: Maria Clara Serpa
Atualizado em 16 set 2020, 11h46 - Publicado em 16 abr 2020, 11h01

Cinco anos após deixar o Jornal da Globo e dicar-se exclusivamente ao Jornal GloboNews, Christiane Pelajo retornou à antiga emissora em março para comandar a segunda edição do SPTV, enquanto Carlos Tramontina está trabalhando à distância por ser do grupo de risco. Por acumular as duas funções, a jornalista teve sua rotina completamente alterada, justamente em meio ao isolamento.

Pelajo nos estúdios do Jornal GloboNews, que apresenta desde 2015 (Rede Globo/Reprodução)

Em entrevista a CLAUDIA, ela conta como a loucura do trabalho impactou na vida pessoal e quais hábitos aderiu para cuidar da saúde mental. Além disso, a jornalista comenta as dificuldades encontradas na cobertura de proporções mundiais frente à postura do governo brasileiro.

CLAUDIA – Quais foram as principais mudanças na sua rotina profissional depois do início do surto de coronavírus?

Christiane Pelajo – Minha rotina mudou muito desde o início da pandemia. Manter uma rotina, na verdade, é algo que eu acho fundamental para todos, especialmente para quem começou a trabalhar de casa. Atualmente, eu acordo por volta das 7h e logo já ligo a TV na GloboNews para ver as notícias, além de ler os jornais. Também faço questão de, logo de manhã, me exercitar e fazer pelo menos meia hora de meditação. Depois dessa ronda nas notícias, antes de ir para o estúdio também faço uma reunião de pauta, agora através de videoconferência, com minhas equipes de São Paulo e do Rio e começo a entrar em contato com fontes, em geral muitos médicos e alguns pacientes que tiveram ou estão com Covid-19. Busco fazer tudo isso no jardim da minha casa para aproveitar e tomar um pouco de Sol, porque a vitamina D é muito importante.

Logo após o almoço, vou para o estúdio, onde começo a trabalhar no jornal das 16h da GloboNews, mas sempre mantendo contato com a editora do SP2. Faço maquiagem e apresento o jornal das 16h às 18h e depois saio rápido para o estúdio do SP2, que fica em outra redação. Direto do estúdio gravo alguns offs e começo a apresentar o jornal por volta das 19h10. Quando volto pra casa, no fim do dia, procuro não assistir aos noticiários – na maioria das vezes falho – e, antes de dormir, faço mais uma meditação de mais ou menos 30 minutos.

CLAUDIA – Isso impactou muito na sua vida pessoal? Você adotou algum novo hábito ou método para conseguir um “escape” em meio a um período tão turbulento?

Christiane Pelajo – Não posso dizer que não impactou, mas não foi nada absurdo. Obviamente, apresentar os dois jornais deixou a rotina mais corrida, mas como me divorciei faz mais ou menos 6 meses, consigo focar completamente nisso e acabo não sofrendo tanto na vida pessoal. De segunda a sexta, minha rotina é basicamente como expliquei, mas aos finais de semana fico em casa e sinto, sim, falta de fazer algumas coisas – sair com amigos, ir jantar. A cada duas semanas apresento também um programa no domingo, que dura mais ou menos 6h, o que preenche bastante do meu tempo.

Sempre medito, acho que é essencial para conseguir manter a saúde mental nesses tempos. Fiz um curso de 8 semanas de mindfulness e já estava colocando em prática antes da pandemia, mas agora sinto ainda mais a necessidade. Sou completamente viciada em notícias, então é difícil ficar sem acompanhar. Mas, como eu disse, tento não assistir a tantos noticiários e busco ver séries bem leves para espairecer. Como sou carioca, o que eu sinto mais falta atualmente é de dar um mergulho no mar. É difícil não saber quando vou poder fazer isso de novo.

CLAUDIA – E quais estão sendo os maiores desafios desse período?

Christiane Pelajo – Está sendo bem desafiador, mas eu prefiro ver de outra forma. Pra mim, o que faço é muito mais do que um grande desafio de trabalho, é minha missão de vida. É meu dever levar informação de qualidade para o maior número de pessoas e, nesse momento, percebi isso ainda mais. Ter isso em mente também ajuda minha saúde mental. Poder dar informações corretas para as pessoas (falar sobre o isolamento social e provar que isso é fundamental para achatar a curva da doença, por exemplo) e, de certa forma, ajudar para que a situação não se agrave é importantíssimo.

CLAUDIA – A gente vive um momento em que a imprensa é constantemente desacreditada e as notícias falsas se alastram com enorme rapidez. Como você vê esse cenário?

Christiane Pelajo – Infelizmente, já vivemos nesse mundo há algum tempo e isso só se exacerbou no momento da pandemia. É simplesmente absurdo. Em um curso online que fiz, descobri que o maior medo do ser humano é a morte. Atualmente, as pessoas estão sentindo ainda mais isso, por isso acho que é criminoso espalhar notícias falsas de propósito em um momento em que estamos todos nos sentindo tão fragilizados. Eu mesma, sempre que recebo alguma notícia que não tenho certeza se é verdade, passo para o pessoal do Fato ou Fake (o serviço de checagem de notícias do Grupo Globo) antes de repassar, é muito importante ter essa certeza. Sempre falo isso nos meus grupos de WhatsApp, tem que ter a consciência de apurar.

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Acho que a mídia tradicional é fundamental nesse momento. Quando alguém está em dúvida sobre algo ou buscando informações corretas, ela vai entrar em um desses canais porque eles tem credibilidade e sabe que vai encontrar informações corretas. Tanto é que a audiência dos jornais aumentou e isso sempre acontece em momentos de crise, foi assim na época do atentado de 11 de setembro também.

5) E como a postura dos governos frente à crise influencia o trabalho de quem busca informar a população sobre a gravidade e os desdobramentos da pandemia?

Nós buscamos sempre a ciência, vamos sempre atrás do que a ciência diz. O mundo inteiro está caminhando assim, o nosso Ministério da Saúde também, então é o caminho que temos que seguir. Aqui buscamos sempre a informação correta e ouvir os maiores especialistas da área – já entrevistei o Átila Iamarino várias vezes, por exemplo.
Não só nesse último governo, acho que pelo menos nos últimos cinco, a ciência foi pouco valorizada e recebeu pouco incentivo e o preço por isso está sendo pago agora. É algo que já está sendo revisto e precisa mudar, mas acredito que o brasileiro já passou a dar mais valor.

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6) A chamada TV Bolsonaro, um canal de comunicação do presidente e seus seguidores através do app Mano, está gerando mais repercussão do que nunca em tempos de Coronavírus. O que você pensa sobre isso?

Eu acho que qualquer tipo de manifestação nesse sentido é OK, não tem problema. Afinal, vivemos em uma democracia. Sempre penso que, se ainda estivéssemos nos tempos de ditadura, seria muito pior. Porém, acho importante que as pessoas que estejam acompanhando isso procurem também informações de outros veículos, que elas se questionem “O que está sendo dito aqui condiz com o que os grandes cientistas dizem?”. Não tem problema esse tipo de conteúdo, desde que não seja levado como verdade absoluta sem nenhum tipo de apuração.

7) Em se tratando de jornalismo em tempos de crise, quais são os aprendizados que essa pandemia vai deixar?

Estamos nos adaptando a um novo jornalismo, sem dúvidas, assim como todas as profissões. No meu caso, especificamente, estou também em um momento de adaptação, nunca aconteceu antes isso de ter que fazer dois jornais.  O que eu sinto é que estamos dando ainda mais importância para coisas que já fazíamos antes no jornalismo. Estamos ouvindo o maior número de pessoas possível, sejam especialistas, sejam personagens. É o momento de conseguir cada vez mais embasamento para buscar a informação cada vez mais correta, especialmente por se tratar de uma doença muito nova, que não sabemos muito sobre.

Fora do jornalismo, também passamos por adaptações. O ser humano não costuma gostar de mudanças, é necessário um período de readaptação para que as pessoas passem a aproveitar o novo. É igual quando mudamos de casa. Acredito que teremos também mudanças nas questões de higiene, seja em questões pessoais, como lavar mais as mãos, ou em ambientes coletivos, como na hora de servir comida nos aviões.

Em tempos de isolamento, não se cobre tanto a ser produtiva:

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