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Cuidado com o que você pede ao universo!

Quando o assunto é achar um cara bacana, os anjos podem mais atrapalhar do que ajudar...

Por Marcela Leal (colaborador)
Atualizado em 27 out 2016, 23h31 - Publicado em 9 jul 2015, 17h03

Joana é uma pessoa bem resolvida em vários aspectos: tem um bom trabalho, ganha bem e, apesar de já ter chegado aos quarenta, não tem nenhuma paranoia em relação ao corpo ou idade. A única coisa que ela ainda gostaria de ter, assim como noventa por cento do mundo, é um relacionamento perfeito. Isso ela nunca teve.

Depois de muita terapia para tentar entender os motivos dos seus relacionamentos fracassados, ela resolveu fazer umas pesquisas sozinha e, lendo livros de autoajuda, aprendeu que, se pedisse ao Universo de coração aberto, mostrando exatamente o que gostaria de ter num parceiro, o Universo a atenderia. Mas o que ela não sabia é que o Universo era um fanfarrão, e não só ele a atenderia como mandaria sempre uma versão exagerada do que ela pediu. O Universo é abundante e, se você quiser, você vai ter mesmo! Afinal de contas, Ele vai se divertir com o quê? Com a nossa cara, sempre!

E então ela começou a namorar o Jaime, um filósofo, fruto do seu pedido pro Universo por um homem disponível, que tivesse tempo para o relacionamento, que fosse profundo nas conversas, inteligente, um cara sensível. E ela teve! Se ela estivesse comendo uma batatinha frita, ele queria discutir sobre o arquétipo da batata na sociedade patriarcal segundo Deleuze, se ela estivesse vendo novela, ele fazia um discurso sobre os males que são causados as pessoas que se submetem ao entorpecimento alienante do culto à TV. E ele tinha tempo para o relacionamento. Se ela ia à manicure, ele ia junto. Se ela ia para a ioga, ele queria fazer a aula com ela. Se ela saía sem ele, ele ligava várias vezes para se mostrar disponível mesmo à distância. Se ela abria a tampa do forno, ele saía de dentro. Resumindo: era um psicopata carente. Um psicopata com todas as características que ela pediu para o Universo.

Então, depois do trauma com o Jaime ela decidiu que era melhor pensar em alguém livre, alguém que tivesse sua própria vida, que fosse leve, desapegado, feliz e nem precisava ser tão inteligente assim.

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E o Universo, gargalhando enquanto esperava a pizza chegar à sua sala de TV, mandou o Siba.

Siba Prem era o nome do moço que Joana conheceu no retiro de ioga. Ele era um cara tranquilo, zen, leve. Siba Prem era seu nome artístico no mundo da espiritualidade, mas o nome mesmo era Josyelsom. Siba era realmente leve, pesava no máximo uns sessenta quilos e era feliz; fumava oito baseados por dia num narguilé e ria até da cor da grama, além de ter sua própria vida, que era a de vender esculturas de Durepoxi nos bares da Vila Madalena. A gota d’água veio com o primeiro “seje” saindo de sua boca, afinal, como ela pediu, ele nem precisava ser tão inteligente assim.

Já olhando torto para o Universo, Joana resolveu fazer o seu último pedido: “Quero um cara normal. Tem alguém normal, Universo? Pode ser?”.

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E chegou o Pedro. Ele era normal. Era um cara bonito, sem problemas, tranquilo e consciente. Tudo dava certo, tudo funcionava com ele. Ele sabia cozinhar, reciclar o lixo, fazia esportes, o sexo era bom e ele trabalhava e era bem sucedido no que fazia. E com o tempo ele foi se tornando um cara tão normal, mas tão normal, que um dia ela se pegou gritando com ele:

– Pelo amor de Deus! Seja alcoólatra! Me traia! Pule pela janela ou corte os pulsos pelo menos! Não aguento mais este relacionamento de mexer mingau!

Pedro saiu pela porta e não voltou mais. Mas o surto de Joana continuou. Ela então queimou todos os seus livros de autoajuda, xingou o Universo de imbecil, de otário, de míope e disse que não queria mais nada dele, pediu que ele se afastasse dela (se é que isso era possível, porque, afinal de contas ela vivia dentro dele) e que não atendesse mais nenhum pedido seu. O Universo, amoroso, novamente atendeu o seu pedido e se afastou. Depois disso, Joana começou a se relacionar consigo mesma, coisa que nunca tinha feito, e gostou. Lembrou-se de uma frase que uma vez grifou num livro de Leon Tolstoi: “O amor começa quando a pessoa se sente só e termina quando a pessoa deseja estar só.” Definitivamente, a sua relação com o Universo foi o último relacionamento malsucedido que teve.

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Marcela leal é atriz, humorista e roteirista

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