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Conheça três mulheres que estão tomando conta do mundo dos games

A participação feminina no mercado de games cresce a cada ano, mostrando que uma grande barreira está sendo quebrada e que as garotas manjam muito de videogame

Por Rafael Cezar Argemon (colaborador)
Atualizado em 22 jan 2020, 00h02 - Publicado em 13 abr 2015, 11h36
Arquivo Pessoal / Arte: Renata Kameda (/)
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Quantas garotas já não escutaram aquela velha ladainha machista de que mulheres não sabem jogar videogame? Com certeza, muitas. Mesmo hoje, elas ainda leem muita abobrinha em fóruns de gamers pelo mundo afora. Mas do mesmo jeito que o público cativo dos jogos eletrônicos vem envelhecendo, e, por consequência tornando-se um consumidor mais abonado, as meninas estão mostrando a que vieram. Os marmanjos que se cuidem!

Segundo a pesquisa Game Brasil 2015, da consultoria Sioux, o público feminino já representa quase metade dos gamers brasileiros. Apresentado na última Campus Party, o relatório mostra que 47,1% dos jogadores no Brasil são mulheres. Os homens somam 52,9%. Só para se ter uma ideia do aumento galopante dessa tendência, o mesmo estudo apontou, em 2013, que as meninas representavam 41% desse mercado consumidor, contra 59% dos meninos.

E elas não participam desse mundo apenas como jogadoras (ocasionais ou profissionais), mas também como desenvolvedoras de games e formadoras de opinião em fansites de seus jogos preferidos. Muitos deles, aliás, apoiados por grandes produtoras, como a Blizzard, por exemplo.

Por conta disso, ouvimos mulheres que provam que essa história de que videogame é coisa de homem já era. Elas mostram que os preconceitos são apenas isso e que garotas podem ser tão fãs de games quanto qualquer marmanjo por aí. Aliás, elas são agentes ativos nessa virada de jogo.

Thais Weiller, 28 anos, nasceu em Maringá (PR) e hoje vive em Manaus (AM). É produtora e game designer nos estúdios Black River Studio e JoyMasher.

Quando e como foi seu primeiro contato com games?

Meu primeiro contato foi com um Atari 2600, jogando Pitfall! e River Raid aos 2 ou 3 anos de idade. Lembro vagamente desse período, o que me lembro mesmo é de aos 6 ou 7 anos jogar Lion King, Aladdin e Mogly no 486 de casa e jogar Wolfstein e Doom com meu pai nessa mesma época.

Quais são seus jogos preferidos? Por quê?

Sempre acho difícil responder essa pergunta, todos os jogos tem seus méritos e seus defeitos. Mas se estamos falando de um tão bom que meu objetivo de vida é fazer um jogo que seja comparável a, nem que parcialmente, esse jogo é Super Metroid.

Quando e por que você decidiu trabalhar com games?

De tudo que já fiz na vida, trabalhar com jogos é o que parece mais certo para mim. Me sinto feliz com o trabalho e adoro as pessoas com quem trabalho.

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Você acha que essa área é machista?

O mundo é machista. É difícil para eu dizer, depois de cinco anos trabalhando só com isso. O desenvolvimento de jogos é uma área onde há machismo sim, mas também é uma área que luta contra isso ativamente.

Quais você considera as principais barreiras para que as mulheres possam se igualar em número com os homens nesse mercado?

A principal barreira está se rompendo nesse exato momento. Nos últimos 20 anos, a indústria de jogos se focou muito em um público masculino. Na última década a audiência era majoritariamente masculina. Os desenvolvedores começam como jogadores, e se a maioria dos jogadores é homem, é natural que acabe se formando mais desenvolvedores homens. Acontece que nos últimos anos, mais jogos focados em um público misto ou até focando majoritariamente em mulheres começaram a aparecer. Hoje, a ESA (Entertainment Software Association) estima que 50% dos jogadores no mundo são mulheres. Se esse número continuar estável, nos próximos anos vamos ter mais mulheres no desenvolvimento, quiçá chegar até a um meio a meio!

Valeria Bertozi Lucchesi, 37 anos, nasceu em Recife (PE) e hoje vive em São Francisco (EUA). É gerente de desenvolvimento na Electronic Arts.

Quando e como foi seu primeiro contato com games?

A primeiríssima memória que tenho é jogando Pong numa TV preto e branco. Quando eu tinha mais ou menos 10 anos, minha irmã e eu ganhamos um Odyssey de Natal. Joguei muito Come-Come (Pacman) e Abelhas Assassinas naquele console.

Quais são seus jogos preferidos? Por quê?

Quando criança, Tetris, Hero, Enduro e River Raid eram meus favoritos. Tenho um perfil mais “single player” então hoje em dia tenho preferência por jogos de Action/Adventure. As séries Uncharted e Mass Effect estão no topo da minha lista. Quando se trata de jogos de celular e tablet, sou mais eclética. Gosto de jogos de match-three, trivia, endless runners e city building/combat. Enredo, senso de humor na narrativa, qualidade audiovisual e jogabilidade bem afinada são elementos que me fazem gostar ou não de um jogo.

O que te atrai mais nos games?

Do ponto de vista de consumidora, quem não gosta de jogos, né? São tantas as opções, estilos e gêneros que sempre vai haver um jogo que até os mais “non gamers” vão gostar. Do ponto de vista profissional, eu tenho grande admiração pelo processo de desenvolvimento de jogos. Fazer jogos requer muita dedicação e um leque variado de talentos e especializações, onde arte e tecnologia se encontram pra compor uma experiência interativa e única. É um processo caro, complexo e exaustivo, mas que também pode ser extremamente gratificante.

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Quando e por que você decidiu trabalhar com games?

Olha, minha história não é das mais tradicionais, em que eu diria que cresci jogando videogames, fiz faculdade de Game Design, comecei como testadora de jogos e hoje estou em outra função. Na verdade, eu comecei nessa indústria quase que por acaso. Minha formação original é em Publicidade e Propaganda, área na qual exerci a função de direção de arte por quase uma década. Em 2007 eu estava passando por um momento de transição profissional e um grande amigo meu que na época era produtor de um projeto de jogo educativo, estava precisando de ajuda para gerenciar o projeto. Eu me interessei pela oportunidade e então pedi um estágio em produção de jogos. Voilà! Trabalhar naquele projeto foi a melhor introdução à área que eu poderia ter tido. De lá pra cá, trabalhei em estúdios no Brasil e nos EUA e não tenho nenhuma intenção de deixar a indústria de jogos.

Se uma garota hoje pensa em trabalhar com games, que conselhos você daria a ela?

Estude. Especialize-se. Vire expert na função de escolha. Nem todo mundo que faz parte da indústria trabalha diretamente desenvolvendo jogos. A indústria precisa de programadores, artistas, músicos, game designers, áudio designers, produtores, gerentes de comunidade, gerentes de projeto, gerentes de produto, gerentes de marketing, advogados, administradores de empresa, analistas de dados, analistas de social media, publicitários e muitas outras funções. Tem muita oportunidade esperando o profissional certo! Mas independente do que escolher, seja notoriamente competente no que faz. E claro, jogue. Jogue muitos jogos e entenda a dinâmica do mercado consumidor. Por último, eu diria que conhecer um pouco de Anime e Manga (animações e quadrinhos japoneses) também ajuda na hora de fazer amizades no ambiente de trabalho.

Camilla Avellar, 29 anos, nasceu em Recife (PE) e hoje vive em Helsinque (Finlândia). É game designer na Supercell.

Quais são seus jogos preferidos? Por quê?

Meus jogos preferidos são ICO e Harvest Moon Back to Nature. O primeiro porque eu gosto muito da narrativa do jogo e de como os sentimentos dos dois personagens são desenvolvidos. É uma história muito envolvente. O segundo porque é um RPG de fazenda e hoje eu trabalho em um jogo no mesmo estilo, o Hay Day. A experiência com Harvest Moon me ajudou bastante.

Quando e por que você decidiu trabalhar com games?

Comecei um pouco por acaso. Cursava faculdade de design aos 19 anos quando uma amiga começou a trabalhar na Jynx playware, em Recife, e me falou que eles tinham uma vaga que poderia me interessar. Acabei entrando nesse mundo e não saí mais.

Você acha essa área machista?

Nunca senti esse machismo como profissional, mas desde criança a gente escuta que menina não é boa em matemática, física, ciências em geral. Por isso, se você vai para essa área, já começa com um pouco de desconfiança.

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O que você acha das personagens femininas nos jogos atualmente?

Acho que o espaço das personagens femininas nos jogos está aumentando. Aquele tipo de heroína feita para agradar os homens, ou a mocinha indefesa que é apenas o interesse romântico do personagem principal estão com os dias contados. E essa mudança vem de baixo. Das muitas meninas que estão começando a desenvolver jogos e que logo estarão arrasando no mercado de trabalho.

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