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Como quebrar paradigmas de sexo e ter mais prazer

Com quase cinco décadas de experiência em consultório e um recém-lançado livro sobre o tema, o psiquiatra Flávio Gikovate propõe abandonar ideias preconcebidas para obter mais prazer

Por Redação M de Mulher
Atualizado em 28 out 2016, 03h12 - Publicado em 27 mar 2014, 22h00
Getty Images
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É preciso se livrar de preconceitos e todo tipo de amarra para vivenciar o sexo verdadeiramente bom. A premissa pode parecer básica, mas, para a maioria de nós, ainda é uma utopia, já que nossa cabeça está contaminada de convenções e rótulos limitadores. É o que defende o psiquiatra Flávio Gikovate, 46 anos de experiência e 32 livros. Seus dois últimos são dedicados ao tema: Sexo, de 2010, e Sexualidade sem Fronteiras, lançado em março (ambos MG Editores). Gikovate, no entanto, é otimista e acredita que uma nova revolução sexual está em curso. Nesta conversa, ele esmiúça suas teorias, estimulando uma reflexão que pode ajudar a começar já a encarar de modo mais lúdico a cama – e, assim, aproveitar todas as suas possibilidades.

Aproveite para ver o nosso vídeo do CLAUDIA Sexo e Relacionamento: Como ficar mais a fim de sexo:

O futuro das relações

É bom que se diga logo que, apesar de ter um discurso mais libertário, o psiquiatra não acredita que nosso destino seja o poliamor, o polissexo e por aí vai. O conceito de sexualidade sem fronteiras, que dá título ao livro, nada tem a ver com todo mundo sair transando com todo mundo. Sua crença é outra: caminhamos em uma direção mais romântica, de uma busca cada vez maior por vínculos afetivos, não meras transas. “A própria luta dos homossexuais pelo casamento gay talvez seja um sinal dessa tendência.” Essa nova visão da atração sexual pode não resultar em relações mais duradouras no futuro, mas Gikovate tem certeza de que os encontros serão de melhor qualidade. “Um irá achar graça no outro para ir além do sexo.”

 

A Nova Orientação

Embora ressalte que ninguém sabe explicar ao certo como se dá a orientação sexual ou ocorre uma eventual mudança, o médico afirma que há uma relação direta entre o desejo e a agressividade. Se ela está voltada para a figura masculina, possivelmente é para esse alvo que o desejo sexual será direcionado. Desde a infância, os homens são estimulados, até nas brincadeiras (futebol, outros esportes de contato, lutas), a ter um comportamento mais agressivo. Tornam-se heterossexuais, segundo Gikovate, quando direcionam para as mulheres a raiva acumulada, na forma de cobiça. E isso é frequente. “Até pouco tempo atrás, afinal, eles tiveram de lidar com a frustração de não ser desejados pelas meninas da sua idade, que estavam sempre atrás dos rapazes mais velhos”, diz.

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Ranço machista

Em todas as pesquisas sobre sexualidade humana conduzidas por homens – e foram várias! -, reina uma lógica machista. “A mulher sempre aparece tendo de acompanhar os passos do homem, como acontece na dança, e o prazer feminino nem sequer é considerado”, afirma o psiquiatra. “Freud dizia que a maturidade sexual de uma mulher era a capacidade de desenvolver um orgasmo interno ao mesmo tempo que seu parceiro.” Assim, se formaram generalizações e rótulos nocivos. “Fica estabelecido que quem tem a orientação voltada para o mesmo sexo é homossexual; e para o oposto, heterossexual. E as pessoas sensíveis aos dois corpos são chamadas de bi”, exemplifica o expert. No entanto, não existe uma única forma de se relacionar. Para começar, há diferenças de gênero: “As mulheres não têm desejo, e sim excitação”.
 

Desejo X Excitação

O primeiro, diz o médico, é ativo, um impulso quase primitivo de tentar agarrar o objeto – algo identificado como masculino. “No mundo animal, é o cão que corre atrás da cadela”, ilustra Gikovate. Já a excitação é um estado de inquietação agradável e interno – e a masturbação é um gatilho para atingi-lo. O desejo, por sua vez, pede estímulos externos, essencialmente visuais. O psiquiatra conta que Freud, em uma nota de rodapé, escreveu que durante a evolução, na passagem do quadrúpede para o bípede, o que era olfativo em outras espécies virou visual na nossa. “Esse talvez seja um daqueles chutes brilhantes de Freud. Não sei se a mudança aconteceu exatamente aí, mas o pensamento serve como uma bela metáfora para ilustrar como é o macho humano”, diz. Para Gikovate, as mulheres, em geral, não são sensíveis a estímulos visuais e, assim, não têm desejo. “Elas se excitam mais ao se perceberem desejadas”, afirma.

Sexualidade sem preconceito

“Eu costumo dizer que, se você estiver de olhos fechados e alguém lhe fizer sexo oral, não existe a menor possibilidade de saber se ali está um homem ou uma mulher, porque a sensação é exatamente a mesma”, conta Gikovate. Só que, se ao abrir os olhos, você se defrontar com uma pessoa que não corresponde às convicções estabelecidas, sentirá incômodo. “Isso é preconceito”, ressalta, comparando qualquer ideia preconcebida ao muro de Berlim, que separou duas Alemanhas iguais. É preciso abrir túneis para romper essas barreiras. Para ele, o mundo feminino é menos preconceituoso – e o aumento que ele observa no número de mulheres de diferentes idades vivendo relações com o mesmo sexo seria uma prova disso. “A ruptura pode ocorrer por causa de uma decepção com um parceiro masculino ou por outros motivos, inclusive circunstanciais, como tomar um drinque a mais, brincar com uma amiga e aí descobrir que aquilo também é bom.”

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