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Como lidar com as emoções conflitantes da maternidade

As mudanças são tantas que é compreensível o pensamento“quero a minha vida de volta” passar pela sua cabeça

Por Patrícia Affonso
Atualizado em 28 out 2016, 12h26 - Publicado em 10 mar 2015, 17h22

Você é apaixonada pelo bebezinho lindo que agora está em seus braços. Mas, às vezes, ouve uma voz lá dentro reclamando: “Quero minha vida de volta!” Egoísta? Insensível? Desnaturada? Nada disso! Essas emoções conflitantes são absolutamente normais. E dá para lidar com elas numa boa, sem sentir culpa.

Foram nove meses superintensos: a expectativa crescendo a cada dia, os cuidados redobrados para dar tudo certo no final e o seu amor aumentando sempre que o bebê se mexia dentro da barriga. Para atestar a famosa teoria de que o mundo sorri para as gestantes, ainda não faltaram visitas afetuosas, telefonemas cheios de preocupação e uma incrível boa vontade para ajudá-la no que fosse preciso.

Chegou o grande momento. O bebê veio ao mundo e, após a alta do médico, vocês seguiram para casa começando uma nova etapa. Nos primeiros dias, a sensação era de ser a mulher mais poderosa do mundo. Afinal, tem coisa mais importante do que gerar uma vida?

O que acontece agora

Como toda novidade, a doce tarefa de ser mãe também oferece desafios, especialmente no início, durante a fase de adaptação. “Na gravidez, a mulher conta com tempo para digerir as mudanças e necessidades que vão surgindo. Assim que o bebê nasce, porém, ela tem poucas horas para incorporar o papel de mãe e cuidadora”, aponta César Ribeiro Fernandes, psiquiatra e psicoterapeuta, de São Paulo.

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É aí que a felicidade, que parecia intocável, vai abrindo brechas para sentimentos confusos, dúvidas, medos… Para começar, bate um ciuminho ao perceber que os holofotes, que nos últimos nove meses apontavam para você e seu barrigão, agora mudam o foco: seu filho. E não adianta culpar apenas os outros. Sua atenção também se volta totalmente para aquele ser indefeso e dependente.

Mas e você (suas necessidades, preferências, seus momentos e até seu casamento…)? Onde foram parar? Calma lá! Não dá para dizer que nos próximos meses você vai retomar tudo isso, mas, com jeitinho, as coisas se encaixam! E quer saber? Vai adorar a nova rotina, que no começo pode até soar meio impositiva.

Primeira lição: permita-se

Os especialistas são unânimes em dizer que toda mãe, por mais feliz que esteja com a chegada do herdeiro, sente-se, em algum momento, incomodada com as alterações que ocorrem em sua rotina. E vamos combinar que não são poucas, não é mesmo?

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Mas por que será que, mesmo diante de tantas justificativas sólidas, o assunto ainda é tabu para a maioria das mulheres? “Nossa sociedade tem uma visão idealizada da maternidade e cobra da mulher uma realização plena, absoluta e até inalcançável. Por isso, muitas mães entendem que, se questionarem algum ponto, estarão invalidando a felicidade e a gratidão de gerar uma criança”, explica a psicóloga Magdalena Ramos, de São Paulo, coautora do livro E Agora, o Que Fazer? A Difícil Arte de Criar os Filhos (Ágora).

O antídoto contra esse mal, que leva boa parte das mães a manter um silêncio sufocante e forçar uma alegria ininterrupta, é olhar para si mesma de forma mais compreensiva e racional. Afinal de contas, um sentimento não anula o outro. Mais do que isso: somente depois de identificar uma situação conflitante e refletir sobre ela é que será possível buscar soluções.

“É normal intercalar momentos de contentamento e de vazio. Por exemplo, pensar no quanto considera delicioso dedicar-se ao bebê, mas avaliar que, vez ou outra, seria bom ter um tempinho para ficar sozinha e cuidar apenas de si mesma”, aponta a psicóloga Márcia Azevedo, de São Paulo. Então, nada de assumir verdades únicas e absolutas. Com a rotina atribulada que você terá a partir de agora, não faltarão emoções opostas se revezando no seu coração.

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Anular-se, não!

Foi ao ouvir as amigas comentarem animadas sobre os programas de fim de semana que a redatora publicitária Juliana Castellan, 24 anos, começou a perceber quanto sentia falta dos momentos que dedicava a si antes de ser mãe. Até a ida ao salão de cabeleireiro havia sido suspensa! Aos poucos, ela resolveu retomar o espaço dela na agenda, respeitando sempre o tempo e ritmo do filho, Henrique, 1 anos e 5 meses. “Não posso apenas decidir ir ao shopping ou mesmo tomar um banho mais demorado, sem preocupação, pois sei que ele precisará de mim. Brinco que meus horários, agora, são propriedade dele”, diz.

Aceite ajuda

Outra questão que divide a opinião das mães: pedir aquela forcinha – à mãe, sogra ou amiga mais chegada – é uma alternativa viável? De início, é preciso considerar, de verdade, as necessidades da criança. Os três primeiros meses são os mais críticos, pois exigem cuidados constantes, como as mamadas a intervalos curtos, que, muitas vezes, não podem ser passados adiante.

No entanto, à medida que o bebê cresce, dá para delegar funções. E acredite: sem danos. Aliás, é importante para o bebê se acostumar com outros ambientes e outras pessoas. Ajuda na socialização lá na frente. “É claro que se deve ir testando a criança aos poucos, para que se adapte sem traumas. Nesse sentido, é fundamental que a mãe transmita segurança sobre sua decisão”, afirma Márcia.

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Identificada a oportunidade – pegar um cinema com o marido, ir à manicure, comprar roupas -, procure praticar o desapego. O vínculo criado com o bebê é tão forte que pode ser difícil se desligar dele, ainda que seja por uma horinha. Também se prepare para domar a culpa (outra vez essa vilã) – por delegar a outra pessoa uma tarefa, que, no seu entendimento, deveria ser apenas sua – e pensamentos do tipo: “Ninguém pode cuidar de meu filho tão bem quanto eu”.

“Inconscientemente, a mãe se coloca nessas ciladas, que, no final das contas, levam à desagradável sensação de que vivem só para atender aos chamados da criança”, avalia Ana Paula Mallet Lima, psicóloga da Casa de Saúde da Mulher, da Universidade Federal de São Paulo. Ao deparar com essas cobranças internas, lembre-se: não é porque virou mãe que você deve deixar de lado os outros papéis que exerce na vida. Dê espaço também para a esposa, a amiga, a mulher vaidosa…

A executiva de contas Fernanda Ciccarelli M. Chahestian, 31 anos, mãe de Gustavo, 2 meses, atesta que compensa. “Se não me convenço a buscar ajuda apenas para ganhar um tempo para mim, penso que, se estiver sobrecarregada ou insatisfeita, posso não cuidar dele como deveria”, diz. Boa tática, pois o que é bom para você reflete em benefícios para o bebê.

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Tudo vale a pena

As mães desta geração certamente são as que mais sentem falta da independência pré-baby. Afinal, estão acostumadas a trabalhar, estudar, viajar… Enfim, usufrem da liberdade de ser e fazer tudo o que desejam. A advogada Juliana Cajano, 31 anos, que o diga.

Para ela, a licença-maternidade pareceu uma eternidade. Tanto que a retomada da carreira foi rápida: ela retornou ao escritório assim que Maria Clara, hoje com 1 ano, completou 3 meses. “Em casa, a rotina é muito repetitiva e estressante. Trabalhando a gente tem que lidar com pessoas e situações diferentes o tempo todo. Só me dei conta da importância disso quando tive de abrir mão”, pondera.

Para os primeiros meses como mãe não ficarem marcados como uma experiência repleta de renúncias, avalie com antecedência as responsabilidades que terá que incluir no cotidiano e aquelas que ficarão em stand-by por um tempo. Isso facilita (e muito!) o processo de adaptação.

Por outro lado, tente aceitar suas necessidades (“Preciso de uma hora de massagem!”) e desejos (“Quero passar uma semana em Nova York livre, leve e solta!”) sem se cobrar uma postura de supermãe. E procure relaxar para curtir as delícias de cuidar do seu pequeno, como aquele sorriso que faz com que você nem sequer se lembre de como era a vida sem ele.

Alerta vermelho

Sentir-se angustiada e pensar que seria bom ter uma folguinha do expediente tão intenso de mãe é para lá de normal. No entanto, se esse tipo de emoção prevalece e chega a sufocar a alegria de estar com a criança, fique atenta. Pode ser indício de distúrbios psicológicos que ocorrem após a gestação, como o baby blues e a depressão pós-parto.

O primeiro é bastante comum: acomete entre 70% e 85% das mulheres. Os sintomas mais frequentes são choro fácil, insegurança, apatia e irritabilidade. “É um quadro benigno que dura dias ou poucas semanas e pode ser resolvido com auxílio familiar e social adequados”, relata o psiquiatra César Ribeiro Fernandes.

Já a depressão pós-parto apresenta um quadro mais complicado. “A mulher sente uma tristeza profunda, que pode vir acompanhada de desinteresse em cuidar da criança e crises de pânico. Há necessidade de tratamento médico, que inclui a administração de remédios”, diz a psiquiatra e psicoterapeuta Elisabeth Sene-Costa, coordenadora dos Grupos de Auto-Ajuda da Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (Abrata). A orientação primordial é não negligenciar os sinais: nada de relacionar a insatisfação constante ao cansaço, por exemplo. Na dúvida, converse com um especialista.

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