Como escolher a escola ideal para a criança
Um roteiro com itens a serem considerados antes de decidir onde matricular seu filho.
Foto: Ben Hupfer / Corbis
Todo ano é o mesmo drama: o segundo semestre bate à porta, as escolas abrem processo de reserva de vagas e os pais ficam angustiados. Começa a peregrinação. Como fazer uma escolha certa em meio a tantas opções? “No passado, matricular a criança na escola era um processo mais tranquilo, pois as redes de ensino eram menos complexas e menos diversificadas. Hoje, o leque de escolhas possíveis é enorme e os pais temem errar”, conta Maria Alice Nogueira, coordenadora do Observatório Sociológico Família-Escola, da Universidade Federal de Minas Gerais. Segundo Quézia Bombonatto, diretora da Associação Brasileira de Psicopedagogia, muitos pais sentem-se inseguros por achar que precisam ter conhecimento técnico a respeito da linha pedagógica proposta pela escola. “Isso não é necessário. O que precisam é questionar a instituição e verificar se as respostas que vão obter dela têm a ver com suas crenças e seus valores. Precisam ter a certeza de que a eleição não é necessariamente uma decisão definitiva e que podem revê-la caso a instituição não corresponda às suas expectativas.”
Escola ideal ou ideal de escola?
A busca pela escola ideal ou perfeita, na realidade, pode ser infrutífera, até porque uma instituição baseada no modelo “um tamanho serve a todos” (e praticamente todas as escolas são assim) vez ou outra vai resvalar no caldeirão de diferenças de perfil, comportamento e atitude das crianças que ali frequentam e pode não saber responder a isso da maneira como os pais sonham. “Não existe escola ideal, mas ideal de escola, aquela que vai oferecer o tipo de formação que a família procura”, pondera Dayse Gonçalves, orientadora pedagógica da educação infantil da Escola Carlitos, em São Paulo. Para o doutor em Educação Gabriel de Andrade Junqueira Filho, professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a escola mais adequada é aquela que dará continuidade ao projeto educativo que se tem em casa.
Necessidade dos filhos ou dos pais?
Os anseios da família, claro, devem ser levados em conta na hora da escolha, mas os especialistas são unânimes em dizer que o fiel da balança é mesmo acriança. “A escola certa é a que é boa para a criança”, afirma Maria Alice. A educadora Dayse Gonçalves vai além: “Os pais precisam ter claro que tipo de cidadãos pretendem formar e se os critérios educativos da família vão ao encontro com os da escola”. Segundo Quézia, quanto mais clara estiverem essas questões, mais direcionada será a escolha.
Mas é bem provável que inúmeras escolas casem com os desejos e as expectativas da família. O funil só vai fechar mesmo quando os pais voltarem os olhos para dentro de casa. É da observação do pequeno e de suas habilidades (ou da falta delas) e de seu temperamento que vão surgir as opções mais indicadas. Uma escola grande, por exemplo, talvez não seja a melhor opção para uma criança que é mais tímida e retraída. “Os pesquisadores ingleses chamam isso de child matching, ou seja, quando o pai ajusta o perfil da escola escolhida ao perfil do filho como criança e como aluno”, diz a professora Maria Alice. Mas aqui vai um alerta: “A escola não pode ser um modo de os pais compensarem o que não tiveram na infância nem algo idealizado por eles, pois a criança pode não ter condições de corresponder aquilo que é sonhado pela família”, diz Quézia.
O que pesa mais: o ranking ou a indicação?
Se até não muito tempo atrás os pais recorriam aos rankings da chamada “excelência acadêmica” para se nortear nesse cipoal de opções, como, por exemplo, o Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp), hoje o que os estudos mostram é que eles buscam fontes mais informais. “É consultando amigos e conhecidos que a família chega a dados mais quentes, entre eles, como a escola se porta em determinada situação, como coloca em prática o projeto pedagógico proposto. Essas informações têm pesado bastante”, conta a professora Maria Alice.
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O lado prático da vida
Na hora da escolha, também é preciso colocar na balança questões de cunho prático, como a distância entre a casa e a escola. Como já é bem-sabido, o trânsito das grandes metrópoles brasileiras travou e o tempo que se perde parado no carro já é um dos fatores determinantes no momento de se decidir por uma instituição de ensino. Pais que não podem levar seus pequenos todos os dias e precisam usar o transporte escolar também devem considerar esse aspecto, pois de nada adianta a escola ser bacana se a criança chega cansada.
Outro aspecto que pode parecer óbvio, porém que muitas vezes passa uma rasteira nos pais, é a mensalidade. Não basta colocar no papel apenas o quanto a escola cobra por mês, mas o custo dos materiais extras exigidos, condução escolar (se for o caso), viagens, excursões e outros itens que, no fim das contas, podem dobrar o valor dispendido com a educação da criança.
Tecnologia: não dá mais para negar
Se no passado eram só a lousa, o professor e o giz, hoje em dia o número de atividades extraclasse e recursos oferecidos por muitas escolas chega a beirar o exagero. Será que realmente é preciso tanto? Para Quézia Bombonatto, mais do que observar a quantidade de recursos extras oferecida, é preciso saber como eles estão sendo usados. “Tecnologia, por exemplo, é uma ferramenta muito útil e bastante motivadora, mas é preciso saber que uso educativo está se fazendo dela. Claro, isso é irreversível, porém a construção do conhecimento e a aprendizagem só são efetivos quando se dá significado para isso. Os alunos têm dificuldade de entender um conteúdo se não compreendem sua aplicação. Portanto, oferecer multimídias como internet, tablets ou outros recursos pedagógicos só farão sentido se, por trás deles, houver um propósito educacional”, conclui Quézia.
Segurança pesa
Os tempos mudaram, de fato. Tanto que a segurança que a escola oferece aos alunos atualmente tem quase o mesmo grau de importância para os pais quanto a qualidade do ensino, segundo dados do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo (Sieeesp). Presença de câmeras, segurança na porta e até cartão personalizado são alguns dos itens que hoje fazem parte do pacote oferecido por escolas particulares do país. “A escola tem de responder às expectativas da sociedade, pois os pais querem mesmo saber onde os filhos estão e se estão seguros”, afirma Quézia.
Linha pedagógica é mais um ponto a ser considerado
Embora muitas escolas se anunciem como construtivistas, waldorfianas, montessorianas ou ainda levantem bandeira de outra linha pedagógica, nem sempre a teoria se manifesta na prática. Há aquelas, inclusive, que usam fundamentos de duas ou mais correntes pedagógicas. “O importante é que os pais estejam presentes, que se disponham a ir às reuniões, que marquem uma conversa com os professores, se for o caso, e acompanhem os filhos de perto, observem o que a escola pede a eles, as atividades de casa, o material solicitado. “Os pais, muitas vezes, não se sentem aptos para checar se a linha pedagógica anunciada realmente está sendo seguida na prática, mas podem estar atentos ao desempenho do filho. É imprescindível que a criança veja que os pais se interessam por aquilo que ela está aprendendo e fazendo, pois vão perceber o valor e a importância que eles dão à escola, ao estudar”, alerta Quézia Bombonatto. Um estudo feito em 2009 pela Fundação Getulio Vargas constatou o óbvio: a presença dos pais na vida escolar da criança se estende até a vida adulta e está ligada ao melhor desempenho escolar. Em outras palavras: pais participativos = notas mais altas.