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Como ensinar as crianças a se organizar – e por que isso é tão importante

Crianças organizadas serão adultos mais responsáveis. Um novo livro mostra como ajudá-las nisso desde cedo. São medidas simples, como reservar espaço para as lições.

Por Redação M de Mulher
Atualizado em 28 out 2016, 04h55 - Publicado em 26 ago 2014, 22h00

Na mochila, bugigangas se misturam às lições espalhadas em folhas que deveriam estar agrupadas em um fichário. Em casa, uma escrivaninha abarrotada de livros sobrepostos por brinquedos e até roupas. Na escola, o armário ou escaninho dele parece ter sobrevivido a um furacão. Para completar, trabalhos são feitos e não entregues, datas de provas acabam lembradas na noite anterior. Não espere o senso de (des)ordem do seu filho chegar a esse ponto para ajudá-lo. “As crianças não são bagunceiras porque são preguiçosas. Elas precisam aprender a se organizar, já que o lobo frontal, a parte do cérebro responsável pelo planejamento e a organização, ainda está em desenvolvimento”, disse a CLAUDIA a psicoterapeuta e consultora educacional Marcella Moran. A americana escreveu com o neurologista infantil Martin Kutscher Meu Filho É uma Bagunça (Editora Agir), um manual para ajudar os pais na tarefa, já lançado no Brasil.

Para a criança, esse aprendizado não significa apenas entender como encontrar as coisas e onde deixá-las quando fora de uso. “A organização externa está relacionada à organização mental, que envolve aspectos emocionais, cognitivos, culturais e sociais”, explica a psicopedagoga Edith Rubinstein, diretora do Centro de Estudos Seminários de Psicopedagogia, de São Paulo. Em outras palavras, lições de como manter a ordem têm um impacto muito maior. “Ao dominar noções de espaço e tempo, ela será capaz de construir uma boa relação consigo mesma e com o entorno, sentindo-se mais segura. Consequentemente, se tornará mais autônoma.” E isso fornecerá a confiança necessária para lidar com desafios futuros. “Pequenas tarefas ajudam a prepará-la a assumir responsabilidades cada vez maiores, algo primordial na vida adulta”, completa a pedagoga Virgínia Ávila, coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Educação Escolar e Não Escolar da Universidade de Pernambuco.

No mundo infantil, assim como no adulto, não confunda bagunça com criatividade. “Esta última envolve flexibilidade e ampliação do campo mental, mas demanda organização para que o `invento¿ seja concluído. O caos inicial pode ser o estopim para uma brincadeira, mas um ambiente muito desordenado dificulta a produção”, afirma Edith. Prefira o caminho do meio edeixe tempo e espaço para a criança brincar, remexer tudo e depois arrumar para recomeçar no dia seguinte. Sem excessos: se a mãe é rígida demais, pode criar um adolescente rebelde.

Primeiro passo: estabeleça uma rotina

Já percebeu como o dia fica confuso quando rompemos com a nossa programação habitual? Se já é difícil para os adultos, imagine para os pequenos, que estão se adaptando à escola, às lições e a inúmeras tarefas extracurriculares. “Com os bebês, as mães costumam seguir uma rotina. Não abra mão disso conforme crescem; mantenha horários para as atividades”, sugere Virgínia. A maioria das escolas segue uma programação diária básica com os alunos menores: preencher o calendário, verificar quem faltou, fazer uma atividade, comer o lanche, trabalhar no projeto e finalizar com a leitura de uma história. O script fixo dá estabilidade e segurança à criança – que sabe o que a espera – e ajuda a organizar o aprendizado.

Quando começa a segunda etapa do ensino fundamental, em torno dos 10 anos, ela já tem condições de montar a própria programação. Assim, tente pedir que passe a preencher um quadro vazio – fixado no quarto dela, por exemplo – com suas atividades do dia. “Provavelmente, não vai sobrar espaço para o estudo, mas a mãe pode fazer esse ajuste. Não se deve impor, mas negociar para que ela sinta que o dever de casa é tão importante quanto brincar, comer e tomar banho”, explica Virgínia.

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Na vida escolar, Marcella e Kutscher valorizam a adoção de uma agenda com datas de provas e de entrega de trabalhos. Cada criança, segundo a dupla, preferirá um tipo de anotação, conforme o seu estilo de organização, que pode ser mais visual, espacial ou cronológico (faça o teste na página ao lado). Integrantes do primeiro grupo gostam de ver o planejamento do mês inteiro. Os do segundo necessitam de uma área maior para anotar as atividades de cada dia. Já os do terceiro time querem saber quantos dias faltam para entregar cada tarefa. Uma solução que costuma agradar a todos, eles dizem, é o calendário semanal com notas adesivas, que pode ser fixado na parede acima da escrivaninha. A cada ação concluída, o post-it é removido. “O modelo escolhido tem que fazer sentido para a criança, que deve adotá-lo de verdade. Quando começar a ver suas notas melhorarem, ela ficará motivada a manter a ordem”, diz Marcella.

Mas não precisa seguir padrões rígidos. Cada criança pode criar seu método, que às vezes só funciona com ela. Por isso, os pais devem observar se o resultado alcançado nos trabalhos e nas provas é positivo. Esse é um dos sinais mais contundentes da eficácia daquele sistema de organização para o pequeno. “Às vezes, o que parece uma bagunça é o modo que a criança achou de se encontrar no meio de tanta informação. Os pais devem ficar atentos se a opção do filho está dando certo. Ou conversem e mostrem por que é importante mudar, apresentem uma sugestão e peçam que ele teste”, indica Elisabete da Silva Duarte, coordenadora da educação infantil e do primeiro ano do colégio paulistano Nossa Senhora do Morumbi. Nesse percurso, a escola também tem muito a ajudar. Na instituição do Morumbi, a partir do sexto ano, os alunos têm uma disciplina chamada orientação educacional, em que recebem dicas de estudo e aprendem a lidar com o número maior de provas e disciplinas. “Essas sugestões são apresentadas como uma opção, mas não a única. Cada um vai construir seu esquema, que tem a ver com a forma de arranjar o próprio pensamento.”

Segundo passo: arrumar a área de estudo

Experts ressaltam a relevância de reservar (e arrumar) um espaço físico para lições e estudo, de preferência composto de uma escrivaninha esomente os materiais necessários para a tarefa. A dupla americana propõe que os organizadores visuais tenham prateleiras próximas para dispor de tudo que vão usar. Aos espaciais, recomenda-se uma mesa em L que lhes permita se espalhar. E, para os cronológicos, não deve faltar um relógio à vista. Tudo bem se a criança preferir estudar na mesa da cozinha ou da sala (para ficar perto de um adulto e da ação normal da casa), desde que ela esteja limpa e ordenada. O mesmo vale para o quarto: se estiver bagunçado, ela precisa ajeitá-lo antes. “Mas não adianta a mãe dizer algo genérico, como ‘Limpe o quarto’. Tem de ser específica: ‘Faça a cama’, ‘Cate o que está no chão’. Fica mais fácil seguir uma ordem concreta”, avisa Marcella.

Limpar o que sujou e arrumar o que bagunçou são hábitos que podem (e devem) ser incorporados desde cedo. “Em muitos casos, a razão de a criança não se organizar é o fato de ter assistência o tempo todo, seja da mãe, seja das pessoas que trabalham na casa”, aponta Edith. Policie-se para dar (ainda que mínimas) responsabilidades aos pequenos. Aos 2 anos, eles podem ajudar a guardar os brinquedos. “Lembre-se de não exigir demais, pois eles tendem a desanimar se acharem que você nunca está satisfeita. Prefira só pedir que coloquem tudo em um baú”, recomenda Elisabete. Nas escolas, convocar os alunos a organizar a sala após cada tarefa, guardando canetas, livros e brinquedos sempre no mesmo lugar, também ensina.

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Com 5 anos, os pequenos são capazes de arrumar seus pertences e até pegar um objeto para um adulto. “Solicitar auxílio e agradecer por isso é um bom motivador”, conta a pedagoga Virgínia. As responsabilidades podem ir aumentando ao longo do tempo – na escola, vale estabelecer rotinas que envolvam os alunos, como ajudar a professora a preparar a sala para o lanche ou distribuir a lição. Aos 7, as crianças têm condições de tomar banho sozinhas e começar a cuidar do quarto. “A partir dos 11, conseguem refletir sobre o que fazem e podem assumir tarefas como pagar uma conta e participar das decisões da rotina familiar.”

A organização precisa se estender à mochila – colorida para as crianças visuais, confortável para as espaciais e cheia de compartimentos para as cronológicas. Só não pode virar um buraco negro. “Os pais devem incentivar a limpeza dela frequentemente. Na véspera da aula, vale repassar com o filho se tudo de que ele precisará está ali”, diz Marcella. Na escola, uma boa solução é manter prateleiras, nichos ou armários individuais. Os professores podem supervisionar e propor uma forma de arrumação.

E se não funcionar?

Colocar a vida do filho em ordem às vezes leva tempo – e algumas crianças precisam de supervisão por um período maior ou até demandam ajuda externa. Segundo Edith, a dificuldade pode ser reflexo do entorno. “A criança começa a se organizar com base na relação que estabelece com o ambiente e com os adultos próximos. Se a desordem faz parte do dia a dia da casa, é assim que ela vai aprender a viver também”, explica. Se todas as tentativas foram feitas, e o pequeno continua tendo problemas por causa da bagunça, os pais precisam redobrar a atenção. “Às vezes, é sinal de que algo mais não está bem. Ele pode ter uma dificuldade de aprendizado, déficit de atenção ou um problema de fundo emocional. Nesses casos, é necessário procurar ajuda”, afirma Marcella.

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