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Coluna da Mônica Martelli: “Coleciono desilusões amorosas e aprendi que elas não matam”

Nossa colunista Mônica Martelli conta como devemos superar nossos rompimentos mais dolorosos.

Por Mônica Martelli (colaboradora)
Atualizado em 27 out 2016, 19h03 - Publicado em 5 set 2016, 14h18
Little Bee 80/ThinkStock
Little Bee 80/ThinkStock (/)
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Vou ter que discordar dos poetas e dizer que o amor não perdoa nem cura tudo. Ele não sobrevive a tantas diferenças, desejos desencontrados, valores distintos. É um sentimento lindo, mas precisa de ajuda para se manter saudável. À parte as tragédias, o fim de um amor é, para mim, a maior das dores. Dessas que parecem que nunca vão passar.

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Pois tudo fica ainda pior quando a relação termina, mas o sentimento ainda está presente. O coração acelera, os pensamentos trazem lembranças boas, ruins, abandonos e acolhimentos. Não dá para lutar contra, só resta ir administrando e torcendo para que, com o passar do tempo, os flashes fiquem mais e mais esporádicos até você se dar conta de que está há horas sem se lembrar do assunto.

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Coleciono algumas desilusões amorosas e aprendi que, apesar de difíceis, não matam. Mas cada luto é diferente do outro, depende muito de como terminou. Esse a que me refiro especificamente foi na véspera do meu aniversário. No dia seguinte, recebi flores com um cartão escrito: “Com carinho”. É o tipo de mensagem que mandamos para aquela conhecida distante com quem nunca tivemos muita intimidade. Não bastassem as palavras vagas, a letra ainda era da mulher da floricultura. Imediatamente, fui autorizada pela minha médica a tomar três gotas de Rivotril para atravessar aquele dia sombrio, enquanto o recado ecoava na minha alma. Nunca tinha tomado nenhum remédio parecido. Na verdade, hoje, olhando para trás, vejo que não deveria sequer ter me permitido sofrer dessa maneira. Não por alguém que, depois de três anos de paixão e cumplicidade, consegue ser tão frio. Mas eu sou assim: vivo intensamente e saio dos pontos baixos ainda mais inteira. Eu me conheço na vitória e no fracasso, na alegria do amor e no sofrimento do fim.

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Claro que minha família e meus amigos não queriam que eu ficasse deprimida. E foi por isso que minha irmã, Susana, organizou uma viagem maravilhosa. Partimos eu e ela para Nova York sem preocupação com tempo, filhos ou trabalho. Ela reservou restaurantes deliciosos, ficamos em um hotel charmoso, assistimos a ótimas peças de teatro e passeamos de bicicleta. Tudo foi planejado para me distrair e evitar perrengues. Quando meu humor não colaborava, Susana trocava a programação até melhorar meu estado. Certo dia, estávamos indo ao Museu de Arte Moderna e a tristeza bateu. Imediatamente, mudamos a rota e fomos para a loja de bonecas American Girl achar um presente para minha filha, Julia. Comprar coisinhas para ela é algo que me alegra, principalmente quando estamos longe. O que tínhamos esquecido é que a loja tem quatro andares repletos de filas. Percebendo a proximidade de outra crise de pânico, largamos tudo e voltamos para o museu. Eu e minha irmã rimos muito depois. Serei eternamente grata a ela por essa aventura. Comi, rezei, andei, falei, chorei, comprei e dei risada também.

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Antes da viagem, a escritora Martha Medeiros tinha me dado um bom conselho. Ela me dissera para escrever em papeizinhos todos os sentimentos dos quais eu gostaria de me livrar e jogá-los fora. Deixei nas lixeiras de Nova York a mágoa, a tristeza, a raiva, o ressentimento… Assim, meu coração voltou para casa mais inteiro e eu me lembrei do pacto de vida que tenho com a alegria e, principalmente, com o amor.

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