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Carta à querida CLAUDIA

“Você se tornou cada vez mais senhora do nosso tempo. Sempre mostrou a todas nós, mulheres, que podíamos mais”

Por Beatriz Alessi
29 out 2018, 15h03

Você está fazendo 57 anos e parece que nunca esteve tão jovem! Como consegue? 😉 Me espelho muito em você, até porque crescemos juntas. Na verdade, sou um ano mais velha mas, diferentemente de mim, você já nasceu sabendo das coisas. 

Confesso que só dei pela sua existência lá pelos meus 13 anos, quando fui tomada pelas inquietações da adolescência. Sua chegada, a cada mês, quebrava a monotonia da vida na pequena cidade mineira de Araguari e me descortinava um mundo do qual eu apenas começava a me dar conta. Eu já gostava dos Beatles e dos Rolling Stones e sonhava acordada diante das possibilidades que passava a antever. Aliás, até hoje acho que não poderíamos ter escolhido época melhor para nascer!

Embora o Brasil vivesse tempos sombrios, o mundo respirava liberdade com a revolução sexual, a chegada da pílula, a quebra do tabu da virgindade. E você me mostrava que eu podia “soltar a franga”, como se diz lá em Minas, e ser protagonista da própria vida.  

A ideia era tentadora, mas esbarrava na rigidez dos costumes do interior e no mutismo das famílias quando o assunto eram os hormônios da adolescência e o aflorar do desejo sexual. Naquele tempo, meninas não ficavam menstruadas; “viravam mulher”, o que quer que isso significasse, e se esperava que fossem “moças de fino trato” para, com sorte, arrumar um bom partido.

Felizmente, eu tinha em você a amiga descolada da capital, que sabia de tudo, não escondia nada e me ensinava que a história podia ser diferente. Era um alento, mas o aprendizado não seria indolor. Certa noite, o toque do telefone na hora do jantar veio trincar para sempre a minha inocência.

Do outro lado da linha, uma voz masculina me dizia coisas impublicáveis que não tive coragem de relatar aos meus pais por medo de que achassem que eu tinha feito por merecer aquelas indecências. Era em horas como essa que a sua existência aliviava a minha solidão.    

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Evoluímos juntas. Saí da minha Araguari natal para o mundo. E você se tornou cada vez mais senhora do nosso tempo. Como um farol, sempre mostrou a todas nós, mulheres, que podíamos mais. Ingressamos no mercado de trabalho, aprendemos a bancar o nosso desejo e as nossas escolhas.

Casamos, descasamos, tivemos filhos ou abdicamos da maternidade sem culpa. Afrouxamos as amarras que tinham sufocado nossas mães e avós e aprendemos a aceitar nossas fragilidades e a descobrir nossa força.

Tem sido uma jornada e tanto, CLAUDIA, mas você não pode esmorecer. Old habits die hard! – diz o ditado inglês. Velhos hábitos teimam em resistir e, embora tenhamos conquistado tanto, nosso país ainda ostenta um dos maiores índices mundiais de violência contra mulheres. Ainda há muito pelo que lutar por todas nós, cis e trans. 

Na verdade, o mundo nunca precisou tanto de valores femininos para assegurar a própria sobrevivência. Porque, como cantou John Lennon, em Mind Games, “o amor é a resposta”. O amor por nós mesmas, pelo outro e por todas nós juntas. “Uma por todas e todas por uma” é o mantra da sororidade. E, com ela, haveremos de quebrar novas barreiras. 

O futuro é feminino e pede meninas fortes e meninos criados com mais empatia. Só assim haverá mais inclusão e respeito. Como você mesma diz, #eutenhodireito às minhas escolhas. E todos nós, homens e mulheres, temos direito a um mundo mais humano e igualitário. 

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Portanto, querida CLAUDIA, você tem muito a comemorar no seu 57º aniversário, mas nada de sentar nos louros do passado. Você me ensinou a me reinventar todo dia. Então, força no make porque a luta continua!  

*Beatriz Alessi é jornalista e contadora de histórias. Acha que a vida de toda mulher daria um filme – ou ao menos uma bela crônica

Leia também: Conheça os vencedores do Prêmio CLAUDIA 2018

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