Campanha de lingerie retrata modelos que se submeteram a mastectomia
"Nem todas as mulheres optam pela reconstrução ou acreditam que a cirurgia as fará completas de novo; algumas se sentem perfeitamente plenas sem seios e sem a necessidade de vestir formas de mamas "
Todo mês de outubro, a cultura popular fica cheia de fitas, balões e camisetas cor-de-rosa por causa do Mês de Conscientização do Câncer de Mama. A divulgação de pesquisas e tratamentos pode ser a maneira mais conhecida de levantar fundos e gerar conscientização – mas ela não inclui todo mundo.
Campanhas como “Dia Sem Sutiã” foram alvo de críticas por serem muito “cor-de-rosa”. O resultado não apenas é superficial como representa apenas uma expressão de gênero. É por isso que a empresa de roupas íntimas inclusivas Play Out quer ressaltar em numa incrível série de fotos uma das nuances mais complicadas da doença. As imagens mostram mulheres que se submeteram a dupla mastectomia e não quiseram fazer reconstrução dos seios.
Emily Jenson, Jodi Jaecks e Melanie Testa, três sobreviventes do câncer de mama que passaram pela dupla mastectomia, foram modelos da campanha, que também inclui a modelo andrógina Rain Dove. Jaecks espera que as fotos mostrem mais sobre a realidade da doença.
“Isso leva a conversa além da conscientização básica sobre o câncer de mama. A doença é um fato da experiência humana e é de vital importância que a sobrevivência seja mostrada no contexto do empoderamento”, disse ela por email ao The Huffington Post. “Acho que minha androginia natural e minha preferência sexual me deram a vantagem da autoaceitação muito além da identificação cultural de gêneros ou de normas definitivas. Essa certeza informou não só minha escolha pela dupla mastectomia, mas também a certeza de que minha escolha seria importante para minha autoconfiança e para ter forças para seguir adiante com minha vida.”
A série de fotos da Play Out foi criada em colaboração com a FlatTopper Pride, um grupo de apoio a sobreviventes de câncer de mama LGBTQ que decidiram não fazer a reconstrução dos seios. Testa diz que as fotos chamam a atenção para um grupo de pessoas pouco representado e que pode ser estigmatizado na cultura dominante.
“Viver numa sociedade que não reflete a imagem do meu [tipo de] corpo – sem seios, com cicatrizes e afetado pelo câncer – tem grande consequência e influência para quem foi recém-diagnosticado”, disse ela ao HuffPost. “Nem todas as mulheres optam pela reconstrução ou acreditam que a cirurgia as fará completas de novo; algumas se sentem perfeitamente plenas sem seios e sem a necessidade de vestir formas de seios. Escolhi aceitar meu corpo como ele é e segui em frente com graça e dignidade. Minha esperança é que outras mulheres vejam essas imagens num momento de necessidade e se sintam empoderadas e informadas sobre a reconstrução plana, uma opção entre várias.”
No fim das contas, Jaecks quer que suas imagens positivas e sua história pessoal inspirem força em outras mulheres passando por desafios semelhantes.
“É uma doença, não só uma doença de mulheres. Portanto, [não deveria] ser um ataque à identidade de gênero, à sexualidade, à aceitação de corpo e à autoconfiança da mulher”, disse ela. “A maioria das pessoas não se dá conta de que mais de metade das mulheres que passam por mastectomia não fazem reconstrução. Se conseguirmos ampliar a zona de conforto das mulheres que tomam essa decisão – que anseiam viver aberta e livremente – sem próteses, vamos evoluir muito além da vergonha do câncer do passado.”
Para ver mais fotos da campanha, confira o slideshow abaixo:
Matéria publicada em Brasilpost.com.br