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Bebês com microcefalia: “Foi um susto ver o tamanho da cabecinha”

Conheça a história de brasileiras que tiveram a vida afetada pelo vírus da Zika que segue aterrorizando o país

Por Redação CLAUDIA
Atualizado em 28 out 2016, 09h22 - Publicado em 5 Maio 2016, 14h47
Bruna Valença
Bruna Valença (/)
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“Sou mãe de uma menina de 11 anos e sempre sonhei em ter um menino. Engravidei e, perto do quarto mês, fui fazer o ultrassom morfológico para saber o sexo. Senti uma mistura de alegria e tristeza. Era um garoto, mas a médica disse que ele tinha uma má formação na cabeça. Foi um baque. Cheguei em casa e contei para o meu marido, que não acreditou – dizia que, como a medicina está avançada e o bebê mexia bastante, daria tudo certo. No sétimo mês, fiz outro exame, e a médica confirmou que a cabeça não estava evoluindo como o corpo. Entrei em desespero, não sabia nada de microcefalia. Antes da gravidez, eu e meu marido estávamos bem, havia dois anos juntos. Mas, conforme eu questionava como seria o futuro de quem tem essa má-formação, começamos a ficar meio desconfortáveis. Ele se esquivava, não conseguia enxergar o que estava acontecendo. Para mim, pesquisar era a melhor forma de lidar com o que nos esperava quando o bebê chegasse. Fiquei tentando descobrir as causas daquilo e lembrei que, do terceiro para o quarto mês, tive febre e manchas no corpo, os sintomas de zika. Moro no bairro Apipucos, e aqui tem muito mosquito. Do lado da minha casa, tem uma área aberta com lixo, garrafas, muita água parada. E o Rio Capibaribe, que fica perto, é poluído. Meu filho nasceu com 26 centímetros de perímetro cefálico, bem pequeno. O tamanho mínimo para os bebês normais é 32. Foi um susto ver o tamanho da cabecinha – para o meu marido mais ainda. Ele se emocionou e disse que também estava com medo: ‘Será que ele vai conseguir reagir?’, me perguntou. Senti uma mistura de alegria pelo nascimento com medo do que viria. Com 3 meses, o bebê passou por um exame que confirmou a infecção por zika. Ele se irrita e chora com muita frequência. Com minha outra filha foi diferente. Nessa fase, ela já tinha se acostumado com o ambiente. Quando ele acorda, já começa a gritar. Aí, passa uns 15 minutos calmo, e depois o choro volta por uns 20 minutos, meia hora. O problema é não saber o motivo. Ele começa e para do nada. Não é fome, não é dor, a gente fica sem saber o porquê. A médica diz que pela tomografia dá para ver as calcificações no cérebro, o que pode fazer com que a irritabilidade seja bem maior. Se dou paracetamol, ele melhora, mas, como é remédio, não uso direto, só em último caso. Quando ele tinha 1 mês e 5 dias, meu marido saiu de casa dizendo que não entendia aquele choro. Ele estava desempregado, requerendo atenção, e eu não estava podendo dar. Agora ele vem, passa um tempinho em casa, mas a gente não mora mais juntos. Estou precisando da companhia dele, mas essa situação ocasionava muitas brigas. Hoje temos uma relação bem melhor do que quando ele foi embora. No último mês, ele conseguiu participar um pouco mais, disse estar mais ciente do que está acontecendo. Está vendo a evolução do bebê, vindo para as consultas comigo. Ele me acompanhou em um encontro de mães de filhos com microcefalia, a União de Mães de Anjos, e se sentiu mais confortável porque viu que não é só com a gente. Este é o último mês da minha licença-maternidade. Ainda não sei como vou fazer para voltar a trabalhar. Minha filha e minha mãe me ajudam. A vizinhança inteira também se mobiliza. Moro em uma comunidade, com uma casa colada na outra, de tijolo. Por causa do calor, fico mais na rua. Então todo mundo vê a irritação dele, percebe que cansa a gente. Não estou conseguindo descansar porque ele acorda a cada três horas, e aí demoro uma hora e meia para fazer ele dormir de novo. Nunca pensei em abortar. Uma das médicas do pré-natal, quando percebeu a má-formação, disse pra mim: ‘Não crie muito afeto porque pode ser que ele nasça e morra’. Como eu vou falar ‘meu bebê nasceu’ e não criar afeto? Enquanto estiver vivo, estarei ao lado dele.”

Daniela Santos, 29 anos, recepcionista, de Recife
 
 “Descobri que estava grávida em setembro, quando estavam começando a falar em zika. A ligação entre o vírus e a microcefalia ainda era só especulação. Nem pensei nisso quando dei a notícia para minha mãe, mas ela estava mais informada e me alertou para os perigos da doença, especialmente em grávidas. Desconfiei que fosse exagero, superproteção. Entretanto, em questão de dias, o número de casos cresceu muito. Não era mais uma preocupação somente no Nordeste, as histórias já apareciam em todos os lugares. Fui a vários médicos perguntar qual era a recomendação deles, mas ninguém tinha uma resposta certeira para me dar. Por fim, resolvi que, quanto mais prevenção, melhor. Tenho uma prima que mora na Itália e poderia me receber; trabalho como autônoma, então conseguiria fazer algumas coisas à distância. Não deu tempo de me programar, pois a pressão foi ficando cada vez maior. Comprei a passagem de última hora e parti em plena véspera de Natal. Um mês antes do embarque, minha irmã descobriu que também estava grávida, mas ela optou por ficar. O plano era voltar em dois meses, quando eu completaria 25 semanas. A princípio, diziam que, naquele momento, mãe e bebê eram mais frágeis e suscetíveis. Hoje, já há quem questione essa informação. Deixei meu namorado aqui. Ele não pôde acompanhar de perto a gravidez nessa época, mas foi um dos principais incentivadores da viagem. O importante era zelar pela saúde da nossa filha. Fiz seguro de saúde e paguei uma consulta médica porque não estava fazendo o pré-natal. Cheguei a perder a data para um ultrassom morfológico, que era muito caro por lá. Quando deu o prazo e o dinheiro acabou, retornei. Tenho medo, sim. Passo repelente muitas vezes ao dia e só ando de calça. Em casa, um apartamento térreo com jardim, colocamos telas nas janelas e não usamos mais o quintal. O que assusta é a falta de controle que temos sobre isso: não adianta só eu me cuidar se o meu vizinho não fizer a prevenção também.”

Fernanda Metidieri, 31 anos, Publicitária, de São Paulo

“Não tinha pensado na possibilidade de ir para outro país até a Fernanda partir. Quando descobri que estava grávida, em novembro, zika parecia algo distante. Com o tempo, casos mais próximos apareceram. Pesei os prós e os contras: queria viver esse momento perto do meu marido e da minha família, além de fazer questão do acompanhamento do meu médico. E, mesmo que eu fosse, ainda estaria exposta a uma série de outras doenças que também são nocivas para o bebê, como a toxoplasmose. Fora isso, não queria deixar meu emprego. Resolvi ficar, mas, no fundo, pensava nas consequências da minha escolha. E se eu pegasse zika? Redobrei meus cuidados. Hoje, com 25 semanas, passo um repelente mais forte, difícil de achar. Não saio de casa de sandálias, saia ou blusa de manga curta. Tomei vitamina B para aumentar a imunidade e diminuir o risco de contrair qualquer vírus. Ando com spray inseticida na bolsa. Se vejo um mosquito, já começo a borrifá-lo, mesmo se estiver na casa de outra pessoa. Não dá para relaxar.”
 
Maria Luiza Metidieri, 33 anos, coordenadora de marketing, de São Paulo

“Eu e meu marido começamos o tratamento para engravidar em novembro de 2015, depois de mais de um ano tentando sem sucesso. O processo de inseminação é simples: o médico coleta espermatozoides, faz uma seleção dos mais fortes e injeta-os na cavidade uterina. Daí em diante, tudo continua naturalmente. A nossa primeira tentativa foi no dia 15 de janeiro. Eu estava muito ansiosa e torcendo para dar certo. Porém, duas semanas depois, o teste deu negativo. Ficamos muito tristes, mas sabíamos que poderíamos tentar outra vez. Cogitei até partir direto para a fertilização (que é quando você fecunda o óvulo in vitro e depois implanta na mãe), mas meu médico me acalmou e disse que deveríamos cogitar outra inseminação antes. Dois dias depois dessa notícia, enquanto eu ainda me recuperava, percebi algumas manchas pelo corpo e senti mal-estar. Também estava com febre. No dia seguinte, os sintomas pioraram. Fui ao hospital e o diagnóstico foi de zika. O exame que confirmava a presença do vírus só sairia dali a 15 dias, mas eu preenchia todas as descrições: dores de cabeça, nas articulações, conjuntivite, febres temperaturas e manchas vermelhas. Nessa hora, pensei: ‘Que bom que não estou grávida’. Trabalho em centros de tratamento intensivo neonatal e infantil. Vejo de perto as consequências da zika em bebês. Não é só a microcefalia, mas outras sequelas neurológicas. Além disso, as famílias dessas crianças ficam perdidas, não contam com nenhum apoio nem sequer sabem o que vai ser do futuro. Precisamos, como sociedade, pensar no suporte que podemos oferecer às mães e aos pequenos. Já fiz dois exames para saber se o vírus tinha deixado meu corpo – no último ele não estava presente – e estou esperando o resultado da sorologia para ver se criei o anticorpo. E se ele se manifestar de novo mais para a frente? Até quando pode afetar o bebê? Quero ser mãe, mas, até estar totalmente tranquila quanto a isso, não penso em tentar engravidar de novo. Dizem que quem já teve a doença uma vez fica imune a ela, mas não há pesquisas que comprovem. Espero que, em breve, tenhamos algumas certezas ou, pelo menos, mais informações.”

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Julia Guimarães, 36 anos, pediatra, do Rio de Janeiro

 

Depoimentos a Luara Calvi Anic e Isabella D’Ercole

 

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