As mulheres ainda são inseguras na hora da entrevista de emprego
Em uma conversa descontraída com as amigas, elas falam sobre seus potenciais e se afirmam como profissionais sérias. Mas na hora de serem entrevistadas, ficam receosas e não mantêm a mesma postura confiante.
Faça com que os outros saibam da sua competência!
Foto: Getty Images
Minha amiga está sentada na minha frente. Toma um suco, sorri e discorre com desenvoltura sobre o seu trabalho nos últimos tempos. Conta quanto aprendeu e evoluiu na sua área e como se sente preparada para assumir posições ainda mais desafiadoras. Em nenhum momento seu discurso soa falso ou pretensioso. Ela fala com clareza e objetividade, cita realizações, cursos, experiências internacionais. Tem os olhos brilhantes e a convicção de quem sabe o que quer e do que é capaz. De repente, toda a aura de segurança desaparece e ela me conta a respeito de uma entrevista em uma nova empresa que teria no dia seguinte: Então, está marcada uma reunião com o presidente amanhã e não faço a menor ideia do que vou falar para ele.
Respondo: Você vai repetir, com todas as letras, o que acabou de narrar aqui para mim nos últimos três minutos. E ela: Ah, não sou capaz de dizer tudo isso sobre mim mesma. Minha amiga estava falando sério. Pior: sem se dar conta de que acabara de me dar um resumo enxuto e atraente das suas qualificações, expressava o que a maioria das mulheres pensa quando se trata de falar, no âmbito profissional, sobre como são capazes e talentosas. Somos muito boas para apontar nossas falhas e implacáveis na hora de julgar nossas aptidões, mas péssimas para nos autocongratularmos, especialidade masculina que nos tira de concorrências com eles que poderíamos ganhar de lavada.
Ok, todas nós conhecemos aqueles chatos homens ou mulheres exibicionistas sem noção que parecem se inebriar com o som da própria voz e não se cansam (embora esgotem o interlocutor) de falar bem de si. Não é desses ou dessas que estamos falando. Eu me refiro a vencer uma insegurança atávica que nos impede de ter um olhar mais generoso sobre nós mesmas.
Homens, vaidosos ou não, fazem isso lindamente. Raras mulheres são craques na matéria. Assisti a uma palestra recente da executiva e consultora de gestão Denise Damiani em que ela relatou, com muita propriedade e articulação, o que chamou de sua linha do tempo. Como excelente narradora da própria história, contou desde sua origem e criação até os grandes desafios e as realizações do percurso, deixando claro que foi e é muito bem-sucedida no que faz. Em nenhum momento, seu discurso pareceu pedante. Por mais que se tratasse de uma palestrante profissional falando sobre si mesma, Denise conquistou a plateia pela naturalidade e pelo fato de falar sem qualquer vergonha por se orgulhar do que soube e sabe fazer.
Perguntei a ela qual era o segredo da sua técnica e ela me respondeu que era não ter técnica. Disse que aprendeu a falar com a simplicidade de quem fala das coisas da vida. Foi uma resposta sábia e feminina, como seu estilo de liderança e uma inspiração para quem tem dificuldade de falar sobre si mesmo quando sabe que está sendo avaliado. Além de praticar um discurso mais simples, temos de igualmente nos treinar a pensar com maior simplicidade. E, se não estivermos preocupadas com o que o fulano ou a fulana na nossa frente vai pensar quando dissermos isso ou aquilo, o relato sairá fluente e verdadeiro, como aquele que minha amiga tão espontaneamente fez para mim. Dica mais direta e descomplicada é impossível: em uma entrevista de trabalho, fale com a mesma alegria e a autenticidade que você usa para conversar com as pessoas mais próximas.
Cynthia de Almeida é jornalista e estudiosa do comportamento feminino. Com passagens por várias redações da Editora Abril, está constantemente em busca de novas formas de investigar e entender a mulher contemporânea. |