Acredite, não existe (mais) idade certa para tudo
E isso significa que é preciso o exterminar urgente estereótipos que parecem ter sido criados na idade da pedra
É fato e é inédito: pela primeira vez na história da humanidade tantas pessoas de diferentes gerações habitam o mundo ao mesmo tempo. Convivemos com os chamados “veteranos”, nascidos antes da Segunda Guerra Mundial (1939); com os baby boomers, que ganharam esse nome por literalmente fazerem parte da explosão de bebês nascidos após a Segunda Guerra (a partir de 1945); com a Geração X (filhos dos baby boomers, eles vieram ao mundo entre os anos 60 e comecinho dos 80) e a Geração Y (nascidos até o ano 2000, são filhos e netos dos boomers); e com os millennials (boa parte das que me lêem aqui), que não sabem como era a vida nesse planeta antes que ele estivesse totalmente conectado pela internet.
Essa diversidade etária só é possível por que o século 20 foi um turning point, com avanços científicos e eventos socioculturais que levaram a humanidade a progredir como nunca antes. Esse progresso também levou a outro fato inédito: pela primeira vez se estabeleceram reais diferenças de comportamento entre pais e filhos.
Hoje, é um baita privilégio termos nossos avós e pais convivendo, com saúde e por mais tempo, com nossos filhos e netos (e quem sabe bisnetos?). Mas para aproveitarmos ao máximo essa rica experiência é preciso exterminarmos urgentemente tabus e clichês que parecem ter sido criados na idade da pedra.
Que tal lidar com situações novas como, por exemplo, a vida sexual da sua avó estar a toda com o namorado dela? Ou com o fato de que seu avô é gay? São novidades que exigem resetar o mindset, inclusive dos chamados formadores de opinião. Pode ter certeza que Don Draper, o publicitário de Mad Men, teria um trabalho bem complicado se vivesse hoje em dia, pois o público é bem mais complexo.
Ainda assim, o triste é que ele poderia continuar contando com uma abundância de estereótipos femininos, exatamente como acontecia nos 50 e 60. Basta lembrar a recente revelação da atriz Maggie Gyllenhaal, de 37 anos, que contou ter sido recusada para interpretar a amante de um homem de 55. “No início isso me fez mal, depois fiquei com raiva e no final me fez rir”, afirmou. Só rindo, afinal, são 18 anos de diferença. Em que mundo Maggie poderia ser “velha demais” para um amante de 55?
Quando penso especificamente nos estereótipos relacionados à idade, lembro do trabalho do fotógrafo Ari Seth Cohen, que descobri há alguns anos. Fã de “old ladies”, Ari toca o blog Advanced Style*, onde publica fotos e posts de mulheres que passaram dos 25 há muito tempo, mas não cederam à ideia de se vestir “como convém a idade”.
Algumas têm estilo clássico, outras não economizam em cores fortes e maxiacessórios. Nem todas me agradam – e elas não querem ficar tentando agradar ninguém. É como se dissessem “não vou deixá-los definir o que a minha idade significa”.
Tenho amigas que bem antes dos 30 já têm dois filhos e algumas que aos 35 não estão nem um pouco preocupadas com isso. Tem outra que aos 34 decidiu largar a carreira bem-sucedida e hoje está na Itália ralando (e curtindo!) num estágio em um restaurante na Sicília.
Tem também a que casou com o primeiro namorado. Há quem namore um cara bem mais novo e também quem esteja apaixonada por um homem bem mais velho. Tem gente que aos vinte e pouquinhos já é super bem-sucedida e gente que quer estudar até os 30. Olhando ao meu redor, é impossível acreditar que exista apenas um modelo de felicidade e que ele tenha idade certa para tudo.
Claro que há momentos melhores e outros nem tanto para fazer determinadas coisas. Mas, acredite, a maioria delas é uma questão de coragem. Olhe ao redor. Você deu a sorte de viver em um mundo onde pessoas de 90 anos convivem com crianças de dois. São muitos tipos de vidas para se inspirar. Como disse, nunca antes na história na história da humanidade…
*O documentário Advanced Style, sobre o trabalho do fotógrafo Ari Seth Cohen, entrou recentemente na Netflix. Confiram!