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“A mulher precisa planejar sua carreira”

Abaixo, você confere o nosso bate-papo com Tania Cosentino, presidente da Schneider Electric para América Latina

Por Isabella D'Ercole Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 8 Maio 2017, 18h35 - Publicado em 2 jun 2016, 13h22
Germano Luders
Germano Luders (/)
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A área de exatas era a favorita de Tania Cosentino quando ela era pequena. Ainda criança, participava de olimpíadas de matemática e, no colegial, optou por uma escola técnica, onde se formou em elétrica. “Não importa sua origem, classe social, mas o estímulo que você recebe da sua família”, conta a presidente da empresa de gestão de energia Schneider Electric para América do Sul, 51 anos. Para ela, a razão de muitas meninas migrarem para a área de humanas é o estereótipo que vem de casa: “Elas escutam que física e matemática não é coisa de mulher”. Quando era estudante, uma empresa foi até escola de Tania e contratou todas as meninas como estagiárias. Naquela época, ninguém entendeu a ação, afinal, igualdade de gênero não era um assunto comentado. Entretanto, já era uma iniciativa de incluir mais mulheres no setor. “Acabei seguindo carreira lá. Terminei a faculdade de engenharia elétrica, fui efetivada e cresci”, lembra.

Por ter facilidade de lidar com pessoas, foi naturalmente migrando para cargos gerenciais, mas sem deixar a área técnica ficar desatualizada. Em 2000 entrou para a Schneider Electric, empresa que já tinha compromisso com a diversidade. “Vi que eles estavam dispostos a investir em mulheres que queriam crescer e aproveitei a onda”, diz. Tania se orgulha de ter corrido atrás de cada vaga que ocupou, de ter se candidatado e falado com os responsáveis. “Se esperarmos sentadas, nada acontece.”

Foi exatamente assim que se tornou presidente da empresa, quando manifestou seu desejo para o francês que ocupava o cargo na época e procurava um sucessor. Juntos, eles analisaram os gaps que Tania tinha como gestora e montaram um plano para compensá-los. Ela trabalhou na França por alguns meses e, em 2009, assumiu a presidência da empresa no Brasil. Depois, em 2013, virou responsável por toda a América do Sul. “A inovação mantém as companhias vivas hoje. E para isso, é preciso uma equipe diversa”, defende.

Desde que entrou na Schneider, você investiu em projetos para aumentar a diversidade e viu os números aumentarem. Quais ações considera mais eficientes?

Decidimos que aos menos 40% das novas contratações precisam ser de mulheres e sempre queremos ver uma finalista mulher para as vagas em aberto. Ano passado, atingimos a marca de 42% de contratações, mas no topo da pirâmide, da gerência para cima, ainda estamos em 18% de mulheres. Criamos aqui dentro um comitê para discutir a questão feminina. Em nossos encontros, tentamos abordar temas relevantes para acelerar a mudança de jogo. Quem contrata são os homens, são eles também que formam os conselhos, então precisamos convencê-los a pensar diferente e forçar a entrada de mulheres na rota.

Depois que você planejou sua carreira, sentiu maior rapidez na evolução?

Acho normal que no começo da carreira a ambição não seja muito bem definida. Como era apaixonada pelo que fazia, nunca tinha parado para pensar nisso. Quando desenhei minha carreira, a coisa foi acontecendo, você vê que é possível chegar mais longe. Mas não é só planejar. Tem que entregar resultado. Só me permitia pensar no próximo passo quando tinha um resultado consistente, além de credibilidade e confiança do meu chefe para galgar mais. Eu acho que esse é um erro da mulher, de não sentar e olhar para o que ela quer, onde quer chegar. Ela não precisa ser perfeita em tudo, mas estabelecer objetivos reais.

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Sofreu preconceito alguma vez?

Nunca vi isso como uma barreira. Simplesmente ignorava piadinhas e entregava meu trabalho para mostrar que sou capaz. Lembro de uma vez que mandei meu currículo para uma empresa e eles responderam que não contratavam mulheres para a área comercial. Pensei: ‘que vergonhoso! Ruim pra eles’. Anos depois, eles me fizeram uma proposta. As empresas tiveram que se modificar com os anos. Até mesmo por questões financeiras, afinal, a entrada de mulheres no mercado de trabalho fez crescer – e muito – os rendimentos.

Você sempre foi uma minoria na área de atuação e defende a presença de mais mulheres em exatas. Como fazer isso?

Tem que desmistificar na escola elementar, falar que elas podem se formar no que quiserem. Não tem essa coisa de área de menino e área de menina. Falta um modelo positivo, alguém que reforce o que há de bom e inspire. E tem que entender que, para conquistar, é preciso abrir mão de algumas coisas. Sugiro uma reflexão importante: do que você não abre mão em hipótese alguma? Se não pararmos para pensar nisso, sempre nos sentiremos frustradas e culpadas. É possível ter carreira, casa e família. Mas, para isso, você precisa se organizar, criar uma estrutura e ser menos exigente consigo mesma.

Com todas as ações para mulheres na empresa, notou alguma reação masculina?

A relação de trabalho está mudando. A internet vai transformar esse modelo que conhecemos hoje. Mas isso não quer dizer que teremos menos espaço. Achar que ao inserir mulheres cortamos espaço do homem é estúpido. Além disso, homens não devem ficar de fora dessas discussões, afinal, a vida deles também vai ser afetada. O modelo antigo de produtividade masculino, do workaholic, não faz mais sentido. Eles também querem cuidar dos filhos, ir para a casa ver a família, cuidar de si mesmos. Além disso, são os homens que contratam ainda, então precisamos que eles estejam nesses debates, pois eles também serão os agentes da mudança.

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