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4 experts dão dicas para cuidar melhor do seu dinheiro em tempos de crise

Cuidar das finanças pessoais já é um desafio em tempos de bonança. Em uma crise, a missão de proteger a carteira fica ainda mais urgente. Consultamos quatro especialistas para saber em quais ingredientes apostar.

Por Filipe Luna (Colaborador)
Atualizado em 26 out 2016, 11h05 - Publicado em 18 Maio 2015, 08h43
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A chegada de uma recessão econômica assusta e nos faz olhar para o próprio bolso. Que bom. Para que as finanças estejam sob controle, é preciso encará-las – sempre. “Em épocas de crise, os preços sobem, aumentando nossos gastos”, diz a planejadora financeira Myrian Lund, de São Paulo. “Temos que fazer escolhas, economizar de um lado para garantir do outro. Uma planilha com contas fixas e variáveis é essencial para que possamos visualizar e comparar nossas despesas mês a mês.” Muitas vezes, as pessoas se endividam justamente por falta de planejamento. Um em cada quatro brasileiros (ou 24,5% da população) tem dívida atrasada superior a 200 reais, segundo pesquisa divulgada no final de 2014 pela Serasa Experian, empresa de informação financeira. Saber organizar as contas pode significar a diferença entre uma vida de conforto duradouro e um frenético e constante tapar o sol com a peneira. CLAUDIA conversou com experts sobre o melhor jeito de cuidar do seu dinheiro em tempos de incerteza.

1. Revise gastos e ajuste a planilha

“O brasileiro não está acostumado a lidar com dinheiro, mas, gostando ou não, precisa tomar decisões financeiras. Embora algumas escolas de ensino médio e fundamental já estejam introduzindo finanças pessoais no currículo, ela ainda não é uma disciplina obrigatória. Isso colabora para que sejamos semianalfabetos financeiramente. Mas as pessoas devem conhecer os principais produtos oferecidos pelos bancos, ter ideia dos juros e saber quão caro ou barato sai um financiamento. Em tempos de recessão, a melhor coisa é apertar o cinto! Não é hora de trocar a geladeira nem o carro, nem de fazer reforma na casa, muito menos pensar em uma viagem supérflua. Obrigue-se a sempre revisar suas contas: ‘Será que o meu plano de celular é o ideal? Estou contratando mais canais de TV a cabo do que preciso?’ Até porque uma das coisas que a crise afeta é a inflação – você ganha o mesmo salário, mas tudo fica mais caro. Moral da história: sua renda disponível diminui. Outro ponto é que não contamos com o desemprego até sermos surpreendidos por ele. Então, prudência (acompanhar o noticiário e fazer escolhas financeiras conscientes) é a melhor forma de encarar e superar essa fase. E, se a economia não vai bem, não é o momento de abrir um negócio. Quem quiser empreender precisa pensar duas, três vezes antes! Fazer um excelente plano de negócios é vital para a saúde do seu investimento. Claro que dá para ganhar dinheiro, mas não será fácil. Outro ponto que afeta homens e mulheres é a compulsão. Muita gente desconta no consumo exagerado alguma angústia de vida. Lembre que não é gastando dinheiro que você vai resolver seus problemas emocionais – aliás, muito pelo contrário. O dinheiro deve servir como uma solução, não como uma muleta. Ou então poderá trazer problemas psicológicos e também financeiros.”

Samy Dana, professor na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas

 

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2. Defina suas  prioridades

“Há uma grande diferença entre problemas e preocupações com dinheiro. Um problema, primariamente, consiste em não ter o suficiente para arcar com as próprias despesas. Já as preocupações têm caráter psicológico. Até os ricos passam por elas, mesmo possuindo mais que o suficiente para suas necessidades. Habitualmente usamos o dinheiro para solucionar nossos problemas. Mas há quem acredite que ele pode resolver tudo e que, se a conta tiver mais zeros, até o casamento será melhor. Só que, eventualmente, esse valor extra surge e fica claro que ele não era a solução do relacionamento nem trouxe mais felicidade. Nossas preocupações também variam muito de acordo com o contexto. Repare: em épocas prósperas, as dívidas não parecem um problema tão grande. Mas, depois de passar pelo trauma de um colapso, a tendência é ficarmos mais cautelosos. Uma crise muda também a forma como avaliamos nossos ativos. É diferente ver uma casa como um investimento ou um lar. No segundo caso, ela pode ganhar ou perder valor, mas, como você continua podendo morar nela, se sente mais segura. A dificuldade financeira abala a confiança a longo prazo – fica mais difícil se animar a investir sem saber o que a espera no futuro. Mas também não dá para sair gastando de qualquer jeito; devemos sempre avaliar nossas prioridades. Essa não é uma tarefa simples, pois nossos desejos, colegas e as propagandas não dão o melhor tipo de orientação. Por isso, o autoconhecimento é crucial, especialmente de nossos defeitos. Por exemplo, para algumas pessoas é duro ser realista quanto a investimentos. Elas veem a oportunidade, mas não pensam seriamente no risco. Outras são tímidas ao investir. Acreditam que, se não aplicarem muito, estarão seguras – o que é uma troca emocional, em vez de um princípio de economia.”

John Armstrong, filósofo inglês e autor do livro Como Se Preocupar Menos com Dinheiro, da série The School of Life

 

3. Planeje o futuro da conta bancária

“É preciso aprender a fazer o planejamento financeiro da vida. Tudo começa com sonhos: de curto prazo (até dois anos), de médio (dois a cinco anos) e de longo prazo (acima de cinco anos). Crises econômicas afetam o bolso, mas não o planejamento. E, na verdade, elas têm um lado positivo, já que empurram as pessoas a buscar ajuda – enquanto está tudo bem, ninguém pensa nisso. No Brasil, por causa da memória inflacionária (as décadas de inflação elevada acostumaram o mercado a constantes reajustes de preço), do consumo excessivo e da falta de educação financeira, não se tem o costume de olhar com atenção para o próprio dinheiro. Só que é preciso prever ventos e trovoadas e manter uma reserva de emergência, que deve ser complementada com seguros de saúde, residência etc. Em períodos de recessão, os preços sobem com mais frequência, aumentando as nossas despesas. Então, o correto é refazer a planilha financeira e acompanhá-la mensalmente. Temos sempre de fazer escolhas, economizando de um lado para garantir do outro. Falando em futuro, a cada dia está mais difícil realizar um planejamento que mantenha o padrão econômico pós-aposentadoria. Não basta contratar um plano de previdência qualquer para garantir sua segurança. Verifique antes se ele prevê rendimento acima da inflação. Uma pesquisa recente indicou que um terço deles rende abaixo, o que torna mais difícil chegar ao montante desejado. Como as mulheres têm expectativa de vida mais alta, precisam juntar mais dinheiro e por mais tempo. Hoje, também são poucos os planos que oferecem renda vitalícia – direcionada à família depois da morte do beneficiário. Cada vez mais, dependemos do rendimento da aplicação e também de um seguro feito em paralelo para o caso de acidente, invalidez, doença…”

Myrian Lund, planejadora financeira e professora de finanças da Fundação Getulio Vargas, em São Paulo

4. Atenção aos custos reais da vida

“O que fazer em tempos de crise? Ah, se eu soubesse a resposta! Essa pergunta representa tudo que está errado com a maioria das dicas de finanças pessoais. Assume-se que a ação de um indivíduo tem peso equivalente ao das macrotendências econômicas e sociais e que, portanto, podemos contorná-las com um gerenciamento inteligente do orçamento. Por mais que eu queira, isso não é verdade. As dicas de boa parte dos gurus financeiros (que recomendam economizar no restaurante ou na conta do smartphone) não tratam dos problemas reais. Nossos maiores custos são com saúde, educação e moradia. E essas despesas cresceram em um ritmo maior do que a inflação ao longo de várias décadas. Já o custo da maior parte dos itens que chamamos de ‘luxo’, por outro lado, diminuiu nesse período. Acreditar que abdicar de pequenos confortos (como o cafezinho depois do almoço ou a manicure de toda semana) vai resolver seus problemas financeiros é ridículo. Parem de culpar as pessoas pelas crises econômicas. Nosso comportamento, mesmo que esteja longe de ser perfeito, não foi responsável pela dificuldade geral. A era da desigualdade em que estamos tornou ainda mais difícil gerenciar nossas finanças porque, quanto menos recursos financeiros temos, menos realizamos. O mais perturbador é que poucos admitem isso. Existe uma ideia de que os pobres (e até a classe média) estão desperdiçando dinheiro num consumismo frívolo. Desculpe, mas essa não é a causa dos problemas financeiros do mundo. Para a mulher é ainda mais difícil: ela ganha menos que o homem, passa mais tempo fora do mercado de trabalho e vive mais. Justamente por isso, como sociedade, precisamos garantir igualdade salarial e maior proteção aos que chegam à velhice. Nos Estados Unidos, a maioria dos idosos em situação de pobreza são mulheres.”

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Helaine Olen, autora de Pound Foolish: Exposing the Dark Side of the Personal Finance Industry (“O peso da tolice: expondo o lado negro da indústria de finanças pessoais”) 

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