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10 práticas inspiradoras de escolas

Conheça algumas que vão além do á-bê-cê e do 1 + 1 e surpreendem pelos métodos de ensino inovadores. Veja o que vale a pena aprender com cada uma delas.

Por Liliane Prata
Atualizado em 22 out 2016, 19h03 - Publicado em 19 Maio 2015, 05h00

Matemática, geografia, ciências. O professor ensina, os alunos aprendem. Ainda é assim na maioria das escolas. Mas, no Brasil e no mundo, cada vez mais crianças e jovens têm tido contato com atividades que fogem do roteiro escolar tradicional. São práticas que, em uma disciplina específica ou envolvendo várias delas, traduzem os objetivos do projeto pedagógico de maneira criativa e até inusitada. Nessa onda, mesmo o espaço físico está sendo reinventado – quem disse que lugar de aluno é (só) na sala de aula? Para muitos educadores, mais do que mera coadjuvante no processo de aprendizado, a inovação é fundamental no mundo contemporâneo. “Estamos em um momento de crise profunda no paradigma escolar”, afirma Jaqueline Moll, professora associada da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul que foi diretora de Currículos e Educação Integral da Secretaria de Educação Básica no Ministério da Educação de 2007 a 2013. “Herdamos do século 18 um ambiente rígido, mas o jovem de hoje não é mais aquele sujeito passivo e não se enquadra nos velhos modelos.” Luis Carlos de Menezes, membro do Conselho Estadual de Educação de São Paulo e consultor da Unesco, concorda: “Para dar conta da nossa juventude, é urgente pensar em outro desenho de escola”. A seguir, veja dez práticas que vão além do óbvio e mostram que, quando o assunto é aprender, libertar-se das convenções pode ser uma boa opção para estimular os alunos e, quem sabe, apontar em direção ao futuro da educação. 

1. (Muito) ar livre

Waldkindergarten é o nome do método utilizado por mais de 300 escolas da Alemanha para ensinar crianças de 3 a 6 anos. De segunda a sexta, elas se reúnem a céu aberto, em um espaço sem teto e sem salas: a floresta. Mesmo quando neva, os pequenos vão às aulas – devidamente agasalhados, é claro. Há uma cabana no caso de emergências climáticas. Entre as árvores, a escola mantém até um berçário de animais, onde as crianças aprendem a cuidar dos bichos. “Nas longas caminhadas pelos bosques, elas ficam muito mais envolvidas com os colegas e as atividades com elementos da natureza”, observa a psicanalista gaúcha Elizabeth Brose, que, em temporada na Europa, acompanhou algumas aulas do sobrinho em uma escola adepta do método. Essa acaba sendo uma educação mais voltada para a interação social do que para a informação, o que é mesmo mais relevante nessa primeira infância.

2. Bom uso digital

O pensador italiano Umberto Eco já disse: “A internet é perigosa para o ignorante e útil para o sábio”. Nada mais apropriado na hora de avaliar a utilização de gadgets no ambiente escolar. “Hoje, muitas escolas se sentem pressionadas a usar computadores e tablets”, afirma Bianca Santana, professora de novas tecnologias da Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo. “Mas é fundamental que os equipamentos estejam associados ao projeto pedagógico. Só assim pode haver ganhos na aprendizagem.” Ela aponta o colégio paulistano Dante Alighieri como referência nesse bom uso. “Para cada prática tecnológica, há uma intenção pedagógica”, diz Valdenice Minatel, responsável pela área de tecnologia da escola. Entre as diversas atividades propostas, ela destaca os encontros semanais em que os alunos discutem novidades das plataformas digitais. “Como passam mais tempo navegando do que os professores, é importante dar voz a eles.”

 

3. Finanças infantis

Na escola bilíngue See Saw, em São Paulo, as crianças aprendem educação financeira a partir dos 4 anos. Aluno do primeiro ano do fundamental 1, André, filho da administradora Mara Limonge, 45 anos, logo passou a se interessar pelas compras da família. Ela conta: “Agora ele vive questionando se a gente realmente precisa das coisas que planeja comprar”. Para o coordenador pedagógico José Roberto Dias, estudar finanças desde cedo é útil para saber como usar bem o dinheiro, claro, mas o aprendizado vai muito além disso. “Nas aulas, os alunos são estimulados a pensar sobre consumo, ética, desejos e necessidades e até sobre a importância do respeito a todas as classes sociais”, diz. Entender o dinheiro em seus mais variados aspectos – contemplando desde a história das moedas até a questão da desigualdade de renda, por exemplo –, afinal, faz parte da formação do indivíduo. E não há razão para adiar isso.

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4. Construção coletiva

Na prestigiada Escola da Ponte, em Portugal, não há o abismo tradicional que coloca, de um lado, os alunos e, de outro, o professor e a direção. Todos participam ativamente do processo de aprendizagem – por serem detentores de alguma forma de conhecimento. O próprio projeto educacional define que a escola não é mera soma de parceiros hierarquicamente justapostos, mas um ambiente onde a gestão é de responsabilidade coletiva. Em uma reunião chamada Plano da Quinzena, os alunos preparam as aulas com os professores e, com base nelas, decidem as tarefas de cada um. Também são convocadas assembleias para discussões pertinentes à vida escolar. Assim, a organização não é imposta “de cima para baixo”, mas dividida entre todos os envolvidos. O principal resultado são alunos mais interessados e dedicados a atividades que, de fato, fazem sentido para eles e são consideradas relevantes pelos docentes.

 

5. Mão na massa

Kiran Bir Sethi é uma articulada designer indiana que, em 2001, resolveu fundar a própria escola. Na School Riverside, em Ahmedabad (uma das cinco maiores cidades da Índia), o altruísmo é ensinado na prática. Em vez de apenas ler sobre os desafios dos menores que trabalham, por exemplo, os alunos vivem experiência semelhante: certa vez, passaram oito horas enrolando incenso para sentir na pele (e nas costas doloridas) a realidade das crianças menos favorecidas. “Isso os transformou”, relatou Kiran em uma palestra. Esse tipo de atividade está longe de ser um caso isolado na instituição. Seus alunos já foram às ruas alfabetizar adultos e fazer campanhas contra o trabalho infantil. Para Jaqueline Moll, a escola de hoje deve se inspirar em práticas assim e “baixar os muros”. “A cidade é uma fonte inesgotável de aprendizado. É preciso sair da sala e interagir com a comunidade”, diz ela.

6. Criação máxima

 

Na Albany Free School, nos Estados Unidos, os alunos são incentivados a desenvolver a criatividade a todo momento. Por exemplo, em oficinas de estamparia com silk screen, onde fazem camisetas que, vendidas ao longo do ano, ajudam a financiar excursões e viagens. Também aprendem a filmar e editar vídeos, escrever poesia, assar tortas e vendê-las para colher donativos… A criatividade dá a tônica do dia a dia, ao lado de disciplinas como matemática e ciências (que, sim, estão presentes no currículo). “Acreditamos que o aprendizado ocorre a todo momento”, explica Megan Schmidt, professora da escola. Esses estímulos acabam por criar adultos mais abertos à inovação e mais empenhados em buscar soluções inesperadas para desafios com que se deparam ao longo da vida. Além disso, dá aos jovens mais chance de descobrir o que realmente gostam de fazer.

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7. Projetos integrados

Estudar não por meio de disciplinas como biologia, matemática ou história, mas, sim, de temas e projetos: essa é uma ideia que será estimulada na Finlândia a partir de 2016, pela nova grade curricular nacional. “É um conceito de ensino com base em fenômenos que se distancia das matérias e caminha em direção a tópicos interdisciplinares”, explica Pasi Sahlberg, educador finlandês. Uma das vantagens é a aprendizagem menos compartimentada e mais abrangente, uma vez que, no mundo real, os fatos não estão separados em geografia ou história. Estudando a União Europeia, por exemplo, pode-se aprender sobre essas duas disciplinas, mas também sobre economia, direito, línguas estrangeiras, humanidades…

8. Consciência verde

Do lado de fora, a Green School, que fica em Bali, na Indonésia, impressiona. Ela é toda feita de bambu, das salas às mesas. Ali, a sustentabilidade extrapola a arquitetura e o uso de energia solar. Quando não estão cuidando da horta orgânica, os alunos têm aulas de empreendedorismo. O grande objetivo é formar os futuros líderes ecológicos do planeta. O canadense John Hardy idealizou a escola depois de assistir ao filme Uma Verdade Inconveniente, do ex-vice presidente americano Al Gore. “Pensei no mundo que iria deixar para os meus filhos e investi tudo para fazer uma escola que trouxesse benefícios para o entorno e para o planeta”, afirma. “Precisamos ensinar às crianças que a Terra não é indestrutível.”9

9. Gênero neutro

Aos poucos, algumas instituições vêm começando a questionar os padrões de gênero. Nelas, a divisão de atividades como “de menino” ou “de menina” é vista como ultrapassada. Assim funciona a escola Amigos do Verde, de Porto Alegre – onde até os banheiros são mistos. Nela, evita-se, por exemplo, o uso pedagógico de personagens como princesas ou super-heróis, que podem alimentar estereótipos. “Como vivemos em uma sociedade sexista, é difícil para os adultos questionar algumas coisas”, afirma a pedagoga Ana Paula Sefton. “Por meio da formação continuada, os professores são estimulados a refletir sobre as falas que repetimos para as crianças sem pensar e passam a valorizar os traços individuais de cada aluno.”

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10. Envolvimento familiar

A Escola Municipal Amorim Lima, em São Paulo, foi inaugurada na década de 1950, mas 40 anos depois revolucionou seu sistema de ensino. Entre as diversas práticas adotadas, está a intensa participação dos pais no cotidiano escolar. No início deste ano letivo, por exemplo, eles se reuniram para fazer brinquedos novos para os alunos. Também foram adotados sistemas de carona e mutirões de limpeza. Atividades esportivas e shows são oferecidos a toda a comunidade. Jaqueline Ferreira, 39 anos, securitária, não tem dúvidas de que sua relação com a filha (que cursa o último ano do ensino médio) ganhou muito com essas iniciativas. “Já fizemos juntas aulas de penteado, maracatu e capoeira”, conta. “Agora estamos envolvidas com a decoração de uma festa. A rotina escolar dela não é um mundo à parte: conheço os outros pais, os professores e frequento o espaço. Estou envolvida com sua educação em casa e na escola.”

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