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Mulher no volante: preconceito ainda é desafio para a carta

O caminho até a carta pode ser tumultuoso para as mulheres. A independência que vem com a direção, porém, compensa tudo

Por Sarah Brito
16 abr 2024, 16h00

Ser independente para ir e vir, conduzir a própria vida e conquistar um senso de autonomia são vontades universais entre adultos — mas menos acessíveis para mulheres. Prova disso é a discrepância na emissão da Carteira Nacional de Habilitação em todo país. Segundo dados da Secretaria Nacional de Trânsito, em 2023, pouco mais de um terço (35%) das CNHs ativas no país pertenciam a mulheres. Olhando os dados por outro ângulo, são mais de 57 milhões de mulheres que não possuem carteira — o que reforça o estigma ao redor da mobilidade feminina.

“Dirigir para mim sempre foi uma forma de estar no controle das minhas decisões. Mas aprender a conduzir um veículo não foi tarefa fácil”, conta a cuidadora Edna Maria Costa, de 52 anos, que há oito dirige na capital paulista depois de superar o medo do volante.

“Durante muitos anos, fui dependente do meu marido para ir para qualquer lugar: à farmácia, ao supermercado, levar minhas filhas para a escola. Por isso, resolvi dirigir e ganhar mobilidade.”

Edna decidiu ir atrás da CNH para se tornar independente, mas o processo acabou trazendo novos contratempos. “Assim que comecei as aulas, os comentários machistas apareceram. Meu instrutor me achava inexperiente e, pelo fato de eu ser mulher, frágil também. Eu percebi que ele não deixava eu fazer algumas coisas com o carro”, se lembra.

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As dificuldades apareceram até dentro de casa. “Meu próprio marido colaborou para a insegurança. Eu pedia para ele me dar algumas dicas e eu ficava muito frustrada porque ele só queria que eu dirigisse do jeito dele. Tiraram de mim a possibilidade de me imaginar sendo uma boa motorista.”

mulheres no volante - machismo carta de motorista
Mulheres no volante, perigo constante? Muito longe disso! (Ilustração gerada por IA/CLAUDIA)

Mulheres no volante e os preconceitos nem tão velados

O temor que impediu Edna de circular não é um caso isolado. Segundo dados da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego, em 2018, dois milhões de condutores apresentavam algum tipo de medo ao dirigir em vias públicas — e 80% deles eram mulheres.

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Não à toa, há profissionais especializados em auxiliar quem sofre desse mal, como o caso da psicóloga comportamental Fabiana Saghi. Ao longo de vinte anos, ela ajudou mulheres com fobia de direção e de trânsito a voltar a circular na capital paulista.

“A maior parte dos casos que atendia de pessoas com fobia de dirigir estava relacionada ao fato de serem do sexo feminino. Curiosamente, menos de 1% delas havia passado por alguma situação traumática ou acidente no trânsito”, conta Fabiana.

Com o tempo, a psicóloga começou a perceber que o medo estava muito mais relacionado a certos comportamentos esperados das mulheres do que a algo que indicasse que elas, de fato, dirigissem mal.

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Ao contrário do que a preconceituosa frase “mulher no volante, perigo constante” tenta nos fazer acreditar, a verdade é que mulheres são mais cuidadosas ao volante do que os homens.

As estatísticas provam. De acordo com uma pesquisa feita pela Unicamp, no período entre 2021 e 2022, elas provocaram três vezes menos acidentes de trânsito do que eles. Não à toa, o seguro de carro para mulheres chega a ser até 40% mais barato do que para homens, os grande causadores de acidentes.

“O medo de dirigir é bastante comum e o estigma que vem com a desigualdade de gênero contribui para que o quadro se agrave. Mas precisamos lembrar que dirigir é um comporta- mento aprendido e não um dom”, lembra a psicóloga Fabiana.

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Ganhando confiança para dirigir

Outras barreiras são o custo do processo (que pode chegar a R$ 3.000, somando taxas, exames e custos de autoescola) e também o tempo, já que a carga horária de aulas teóricas e práticas sobrecarrega ainda mais quem já é responsável pelos cuidados com a casa e a família, além de cumprir expediente profissional. Mas as mulheres superam os desafios.

“Sou apaixonada por carros desde muito nova. Para mim, sempre foi a maior diversão, uma possível ocupação para a vida”, conta Cláudia Souza, de 57 anos, que trabalha como motorista de transporte escolar há quase vinte anos.

“Um dia, eu estava esperando meu marido chegar do serviço em um posto de gasolina quando me deparei com uma van escolar toda rosa e fiquei apaixonada”, diz, entre risos.

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Àquela época, a paulistana estava procurando uma nova carreira, uma que a possibilitasse ficar mais tempo com seus filhos — além de ganhar dinheiro. Foi então que se inscreveu no curso para ser transportadora escolar da prefeitura de São Paulo. O próximo passo foi comprar sua própria van. “Tenho em mente que preciso ser consciente, paciente e acima de tudo, responsável na minha direção”, diz.

Assim como Edna, Cláudia também entendeu que o trânsito poderia ser um grande desafio para as mulheres. “Os homens no trânsito são complicados. Mas sei que a direção me levou para um lugar de confiança e independência. Os motoqueiros se admiram com a minha habilidade em dirigir. Eu sei que sou uma boa motorista, sem sombra de dúvidas. Melhor que muito homem por aí!”, conta Cláudia, orgulhosa de sua CNH sem multas há muitos anos.

“Eu posso dirigir um carro, posso conduzir a minha vida e as minhas decisões. Dirijo superbem e não permito que ninguém fale que o trânsito não é o meu lugar. Eu vou aonde eu quiser.”

 

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