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Conheça Thaísa Durso, educadora que está expandindo a acessibilidade no mercado financeiro

Ela está transformando o acesso de pessoas surdas ao mercado financeiro

Por Paola Carvalho
Atualizado em 28 nov 2024, 16h25 - Publicado em 28 nov 2024, 16h24
Thais Durso expande a acessibilidade no mercado financeiro
Bilíngue (oralizada e usuária de Libras), Thaísa atua como analista de pesquisas na Rico, empresa do grupo XP. (Divulgação/Divulgação)
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Libras (Língua Brasileira de Sinais) é uma língua completa, com gramática, estrutura e sintaxe próprias, assim como qualquer língua falada, como o português ou o inglês. Até então o uso de expressões como Selic, Tesouro Direto e renda fixa poderiam ser barreiras para a inserção de pessoas surdas no mercado financeiro. Uma mulher, entretanto, vem criando formas de traduzi-las

Conheça Thaísa Durso

Thaísa Durso, de 38 anos, é uma referência quando o assunto é educação financeira para a comunidade surda. Bilíngue (oralizada e usuária de Libras), atua como analista de pesquisas na Rico, empresa do grupo XP, é criadora do perfil Poupe com Estilo nas redes sociais, e dá aula sobre finanças pessoais.

Formada em administração, certificada pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) e com trajetória no mercado financeiro iniciada em 2008, ela usa uma metodologia própria, acessível e descomplicada, que atende tanto a surdos quanto a ouvintes. 

Nessa conversa para a CLAUDIA, Thaísa, mãe de dois filhos ouvintes, um menino de 6 anos e uma menina de 2, compartilha sua trajetória, os desafios e as conquistas na busca por acessibilidade no mercado financeiro.  

Paola Carvalho – Como foi sua trajetória no mercado financeiro?  

Thaísa Durso – Eu nasci e cresci em Nova Friburgo, mas me mudei para o Rio de Janeiro em busca de melhores oportunidades de estudo e trabalho. Sempre quis crescer e ampliar minhas possibilidades, por isso decidi estudar Administração e investir em uma carreira sólida. Comecei em 2008, trabalhando em bancos, como Bradesco e HSBC, e passei por várias áreas financeiras. Apesar da comunicação ser um desafio, foi uma experiência incrível conviver e aprender com pessoas ouvintes. Foi ali que percebi que faltava informação sobre finanças para a comunidade surda, e isso me inspirou a criar o perfil Poupe com Estilo, em 2017, para compartilhar educação financeira de forma acessível. Então estudei, fui evoluindo no trabalho, a comunidade surda foi me conhecendo. Vivo nos dois mundos, dos ouvintes e dos surdos. E tento adaptar de forma didática e simples o universo financeiro para a língua de sinais. 

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PC – O que te motivou a focar na educação financeira para a comunidade surda?

TD – Muitas pessoas surdas me perguntavam como funcionavam cartões bancários ou investimentos, e percebi que faltavam materiais didáticos adaptados. Decidi estudar e desenvolver conteúdos que explicassem conceitos financeiros em Libras. Desde então, meu objetivo tem sido democratizar o acesso ao conhecimento e ajudar a comunidade surda a investir e viver bem com o dinheiro.  

PC – Você foi a primeira assessora surda na XP, um marco histórico. Como foi essa experiência?

TD – Não imaginei que a XP me contrataria e pude perceber que fui a primeira assessora de investimentos surda ali. Tive a oportunidade de criar, junto com uma equipe, o primeiro atendimento em Libras, algo que ampliou o acesso da comunidade surda ao mercado financeiro. Hoje, na Rico, minha atuação é mais voltada para a produção de conteúdo didático, sempre buscando adaptar os conceitos financeiros para a língua de sinais.  

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PC – Quais são os principais desafios da comunidade surda no mercado financeiro?

TD – A maior dificuldade é a acessibilidade da língua de sinais. Muitos termos financeiros, como Selic ou Tesouro Direto, não tinham sinais específicos. Comecei a criar sinais para facilitar o entendimento e tornar esses conceitos mais claros. Para que os surdos consigam compreender não basta traduzir letra por letra, é preciso apresentar um conceito. É um trabalho contínuo de disseminar conhecimento, mas ainda há um longo caminho para que todas as pessoas surdas tenham acesso igualitário à educação financeira.  

PC – Como foi sua própria experiência com educação financeira?  

TD – Em 2012, antes de casar, meu marido e eu decidimos financiar um imóvel. Era nosso sonho ter uma casa próxima da praia, mas não fizemos nenhum planejamento financeiro. No final, nos assustamos com os valores e percebemos como estávamos comprometendo o orçamento. Tentávamos economizar, mas o dinheiro acabava sendo usado para as parcelas e despesas da casa. Essa experiência me ensinou muito. Com o tempo, comecei a buscar maneiras de me organizar melhor e gastar de forma mais sustentável. Em 2017, quando me deparei com a frase “Poupança não é o melhor investimento”, decidi mergulhar no mundo dos investimentos. Estudei intensamente e consegui transformar minha relação com o dinheiro.  Hoje, tenho uma vida financeira equilibrada, consigo pagar as contas sem aperto e ainda poupo e invisto para o futuro da minha família. Quero que meu aprendizado também ajude outras pessoas a evitar os mesmos erros, especialmente na comunidade surda, para que possam realizar seus sonhos com mais tranquilidade.

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PC – Há alguma peculiaridade na situação das mulheres, especialmente as surdas, quanto às suas finanças?

TD – Há um fator cultural e de acessibilidade. Na comunidade surda, as mulheres enfrentam as mesmas dificuldades das ouvintes, mas com um agravante: falta de conteúdo acessível. Muitas vezes, elas aprendem tarde, por insegurança ou por não terem autonomia financeira. No meu Instagram, as mulheres são maioria entre as que me procuram, especialmente para superar o medo e começar a investir.  

PC – Quais são os seus próximos passos, os planos para 2025? 

TD – Fico imaginando outros surdos, que têm sonhos de comprar casa, de bancar um casamento… E fico pensando que não existe conteúdo em língua de sinais para eles. São mais de 10 milhões no Brasil. Meu desafio é nunca desistir. Minha meta é ampliar a produção de conteúdos acessíveis na plataforma da Rico e levar a educação financeira em Libras para cada vez mais pessoas. O mercado financeiro ainda é um universo desafiador para a comunidade surda, mas acredito que podemos construir um futuro com mais acessibilidade e igualdade de oportunidades. Deixo uma mensagem para as mulheres: invistam em educação financeira, definam metas claras e comecem pelo básico, como Tesouro Direto e fundos acessíveis. É possível transformar sua relação com o dinheiro e conquistar liberdade financeira. O importante é dar o primeiro passo.  

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